Fúria Vermelha

9 - Costa da Caparica

**Sexta-feira seguinte**

São sete da manhã quando acordo ao som de uma chamada. Miro o teto por alguns segundos tentando assimilar o cérebro com o corpo e pego no telemóvel. É Charles. Merda. Esqueci-me completamente que ele chegava a esta hora e era suposto estar lá para o ir buscar. Atendo receosa e desapontada comigo própria.

Charles: Bom dia alegria, onde andas?
Sofia: Bom dia, bem, eu talvez ainda esteja na cama.
Charles: Esqueceste-te não foi?
Sofia: Não claro que não, o despertador não tocou. (Minto, obviamente)
Charles: Tudo bem, dá-me a tua morada.

Prossigo em lhe dar a informação requisitada e despeço-me. Enquanto aguardo pela sua chegada aproveito para fazer a cama, acabar de arrumar a casa e preparar-nos tostas e café, acredito que ele esteja morto de fome depois de uma viagem longa desde a sua terra natal, Mónaco.

Quando dou por mim ainda estou em pijamas e troco-me rapidamente, temos um dia longo pela frente. Quero mostrar-lhe um pouco de Lisboa e se tivéssemos tempo, a praia da Costa da Caparica, já faz tempo que não nado no oceano e é algo que me arrependo tanto. Quando vivia em Santa Maria todos os dias de verão eram dias de praia, estivesse sol ou chuva, eu e o mar temos uma boa ligação.

Ouço a campainha a tocar e dirijo-me à porta. Assim que o vejo não me contenho e abraço-o, fico contente por ter companhia. A Kika tem estado ausente do país num ensaio fotográfico e viver sozinha a imensos kilometros de distância da família nem sempre é fácil. Ele aprecia o meu momento pois retribui e de seguida mostro-lhe o seu quarto e faço um pequeno tour pelo apartamento.
Enquanto tomamos o pequeno-almoço descrevo o que me vai na cabeça.

Sofia: Vamos começar por ver o Estádio da Luz, o mais bonito de Portugal, partiremos para o Terreiro do Paço, depois podíamos ir a Belém onde tem o Padrão dos descobrimentos, a torre e os famosos pastéis de Belém que vais adorar.
Charles: Não conheço nada, portanto parece-me bem.
Sofia: E se ainda desse tempo estava mesmo a me apetecer ir à Praia. Que te parece?
Charles: Sim podemos ir, não prometo é entrar. A água se é assim tão fria como dizem não me atrevo.
Sofia: É um pouco, nos Açores é muito mais quente. Já tenho saudades.
Charles: Há quanto tempo não vais lá?
Sofia: Há um ano se não estou em erro. Meus pais costumam vir cá em vez de ao contrário. Vamos nos pôr a andar se não, não conseguimos ir ao banho.

Partimos e seguimos o meu plano acrescentado alguns pontos como o parque Eduardo VII.
Após o Leclerc provar o que segundo o próprio é o melhor pastel que já comeu na sua vida, atravessamos a ponte 25 de abril em direção à Costa da Caparica.

Charles: Uau, já percebi por intitulam Lisboa de "Lisbonita" é mesmo surreal.
Sofia: É bonito mas creio que os meus sítios preferidos cá são a Ilha de São Miguel, o Porto e Sintra.
Charles: Acrescenta aos nossos pontos de visita para o futuro.

Agrada-me que já esteja a fazer planos para o futuro, nós os dois, juntos.
Assim que chegamos à praia estendemos as toalhas e seguimos até à água.

Charles: Uhhh nem pensar que entro aí dentro. Parece que estamos no oceano ártico!
Sofia: Que dramático.
Charles: Ah sim?

Após esta afirmação, corre na minha direção e tento fugir mas com insucesso, pega-me ao colo e corre até ao mar. Este rapaz sabe mesmo como mexer com os meus sentimentos. Quando as suas mãos encostaram no meu corpo foi como se uma onda de calor inundasse, nem mesmo a água parecia fria, estava quente, a arder, até que me largou para que conseguíssemos nadar e voltou à sua temperatura normal. Começamos a rir de forma incontrolável.

Sofia: Para quem não queria entrar entraste muito rápido.
Charles: Estavas a pedi-las.

Ambos paramos e olhamos no fundo dos olhos um do outro, sei que ele também sentiu o que senti há pouco. Os risos cessam. Os seus lábios imploram pelos meus então satisfaço o seu desejo. As minhas mãos agarram-lhe a cara e as suas percorrem a minha cintura. Sinto que ele estava à espera deste momento há algum tempo e eu não sabia que eu também. Afastamo-nos lentamente.

Charles: Eu amo-te. Sei que pode parecer louco por não nos conhecermos há muito tempo, mas bolas eu amo-te. Temos tanto em comum e sou mais feliz quando estou contigo.

Pauso e tento assimilar a sua afirmação. Ele ama-me? Será que realmente me ama?

Charles: Não tens de o dizer de volta, só tinha de falar.

Concordo e não lho digo de volta porém não é a querer ser rude, amar é algo muito forte e não sei se já estou nesse patamar. Pela sua expressão e leitura corporal ele entende e parece aliviado pelo ter dito.
Saímos da água e passamos os restantes minutos a conversar, a beijar e a ver o pôr do sol, este homem é simplesmente perfeito.

Já de volta a casa, decido publicar esta fotografia nos stories, estou tão feliz que quero mostrar ao mundo isso mesmo. Assim que o Charles vê aproxima-se do sofá onde estou sentada e beija-me a testa.

Charles: Tenho ciúmes do homem que publicaste no instagram.
Sofia: Idiota

Para retribuir ele também publica uma foto, uma tirada por um fã que o reconheceu e posteriormente pediu-lha.

Já sei que amanhã todas as páginas de notícias vão juntar 2+2 e perceber que sou eu com ele e isso de certa forma agrada-me.
Derreto-me com este gesto e roubo-lhe um beijo. Acabamos por adormecer no sofá enquanto víamos Netflix, ele deitado ao longo do sofá e eu entre as suas pernas e cabeça no seu peito. Acho que estou apaixonada.