chapter four.

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Ohio, 1954.

— Um grupo de jovens se reúnem para fazer uma espécie de Corredor da Morte em um dos becos de Nashville. Recebemos a denúncia dos moradores por perto, relatando que ouvem gritos e... Tudo aquilo que fazem quando adolescentes brigam.

— Sinceramente, mande qualquer policial até lá. Não estou afim de perder meu tempo com isso. Estou ocupado com o caso do meu homem.

— Chefe — Malik interviu. — Já mandamos polícias até lá e... Pegaram todos.

Eu tive que rir. Mas eu não ri, eu gargalhei.

— Vocês são uns merdas mesmo... — eu estava fumando mais que o normal, já era minha terceira cartela e nem tínhamos começado o dia direito. — Polícias fortes e com armas. Jovens fracos e sem armas. Essa conta não bate, Malik.

— Vimos que foram pegos aos montes, chefe.

— Certo — apaguei meu cigarro na mesa do escritório, logo em seguida vestindo meu casaco. — São mais ou menos quantos caras?

Eu fazia perguntas que nem queria ouvir a resposta. Malik tinha me dito um número grande, eu apenas tinha saído da minha sala e fui direto aos fundos da delegacia, entrei no meu carro e deixei que Malik viesse comigo. Ordenei que mais duas viaturas fossem comigo, não para entrar junto, apenas por escolta. Já que eram tantos jovens que conseguiam facilmente pegar qualquer policial, queria tirar prova viva disso.

Queimei os pneus do carro ao estacionar de forma barulhenta em frente aquele beco. O que eu vi não tinha sido nada de especial, não me assustou e nem fiquei ansioso. Esse corredor da morte era mais comum do que se pensa, não tinha intenção de vencer nem de ganhar, apenas ver até onde o ser humano chegaria. Estúpidos.

Não havia necessidade de mostrar minha arma sem sentir uma ameaça. Na verdade, eu nunca sentia ameaça de lugar algum, mas sendo um delegado, eu tinha que fingir sentir uma ameaça quando era perceptível que uma vida ali correria risco.

Eu já podia ouvir os gritos e os socos abafados. Desci as escadas e encontrei os jovens em uma espécie de sótão. Fedia a carne podre, a xixi seco e sangue. Todos pararam de brigar quando viram duas figuras que não frequentavam o "ritual". Sério, era patético.

— Quem é você? — um rapaz que beirava seus vinte anos, indagou. Nariz empinado e metido ao espertão.

Fiquei quieto. Desci o resto dos degraus e andei lentamente até a roda do corredor. Olhei para os lados, paredes amarelas e gastas, infiltrações no teto e os canos não revestidos estavam todos estourados. Tinha quatro vasos sanitários, pensei vagamente em enfiar a cara de cada um dentro deles. Como quem não queria nada, acendi meu cigarro e passei a andar pelo local, e até mesmo Malik, que compartilhava de mim uma ideia singela de não afrontar sem necessidade, não estava afoito.

Todos ali não deviam nem estar na faculdade. Havia uns adultos pingados, que provavelmente não prestaram a bandeira para ir a Guerra, e que naquele momento, estavam a procura de demônios que não encontraram ao logo da vida. Era decadente. Eu dava risada na cara de cada um, esnobe e meus ombros se tornaram rígidos.

O que de fato me deixou tomado pela raiva foi encontrar uma pequena garotinha em um dos cantos daquele lugar. Eu me neguei a pensar do que fizeram com ela, se abusaram, se batiam ou se a torturavam com isso tudo.

— Por que ela está aqui? — perguntei para o mesmo rapaz que me dirigiu uma palavra, frente a frente, pude sentir o seu mal hálito sem se quer ter aberto a boca na minha cara.

Ele não me respondeu.

Eu estava numa briga interna comigo mesmo. Se eu não fosse delegado, eu já tinha estourado a cara dele no soco. Eu estava calmo aos seus olhos, por dentro, tinha virado do avesso, irreconhecível.

Stockholm Syndrome | l.s Onde histórias criam vida. Descubra agora