chapter three.

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Ohio, 1954.

— Temos respostas? — eu andava pelo departamento apressado, sempre com um café na mão que logo em seguida eu deixaria em uma mesa aleatória, e quem quisesse falar comigo, devia me acompanhar.

— Recebemos três cartas, chefe — Malik estava logo atrás de mim, se esbarrando em todos que passavam pela nossa frente.

— Três cartas para dizer um sim? — olhei para trás, apenas para dar um sorriso esnobe. — Muito convincente.

— Duas delas é para nós assinarmos, e a outra, chefe, é que podemos embarcar a qualquer hora.

Eu parei.

Eu parei e tomei uns dez segundos para absorver aquela informação.

— Então... Podemos ir para Monte Hermon?

— Sim, chefe, quando o senhor quiser.

Quando decidi pegar o caso do meu esposo, o departamento não autorizou. Sabiam que eu estava traumatizado demais para ser um profissional, e que estava sendo movido somente pela raiva, e não afim de querer fazer justiça legalmente, e sim com minhas próprias mãos. Não estavam completamente errados. Mas, dei o meu jeito e o caso era meu, e não de qualquer incompetentemente que jamais chegaria aos meus pés. Somente eu poderia ter esse caso, eu e mais ninguém.

Finalmente. Eu dei graças a Deus por estar indo a caminho do assassino do meu esposo, e nem se trinta, sessenta, cem policiais me segurando seriam capazes de me manter longe do pescoço dele. Eu estava sendo movido totalmente pela raiva. Eu estava louco, louco e louco. Mataram meu esposo. Tiraram o pai da minha filha. Me deixaram sozinho. Deixaram minha filha sozinha. Tiraram de mim a razão do meu viver.

Tiraram algo de mim que jamais deviam ter tirado.
Sanidade.

— Embarcaremos o mais rápido possível. E cedo. Quatro horas da manhã quero você naquela carro indo para a primeira balsa. Entendido?

— Entendido, chefe.

— Ótimo — só passei na minha sala para pegar as chaves do meu carro. — Tenha um ótimo trabalho, Malik. Estou indo.

Somente os zumbidos nos meus ouvidos fui capaz de notar. Batucava meus dedos no volante, minha respiração estava pesada como se a ponta de um navio estivesse cravando no meu peito. Eu olhei para as pessoas ao meu redor e elas me olhavam assustadas. Meus gritos moveram o carro. Batia minha cabeça várias vezes no volante e no banco, meu sangue descia pelas têmporas, traçando um linha vermelha até meu pescoço. Eu berrei. Rasguei minha garganta no sentido literal. Chorava como uma criança sem os pais, perdida e com medo no meio do mercado.

Liguei o carro. Passei a primeira marcha. Fui para a casa graciosamente. Nada podia me abalar. Eu tinha uma filha me esperando em casa e ainda ganhei o caso do meu esposo! Tinha coisa melhor que isso? Claro, se meu esposo estivesse vivo, seria tudo melhor. Mas... Mortes acontecem, é o ciclo da vida.

Os gritinhos histéricos de Matilda me fizeram sorrir. Ela vestia seu pijama de macacão, insistia nesses mais chatos de vestir.

— Meu amor! Como você está linda.

Matilda sorria como sempre e nunca. Cachos pretos, olhos escuros. Sua pele pálida era facilmente marcada pelo meu beijo por conta da barba. Louis sempre raspava minha barba, deixando mais rala ou sem. Desacostumei.

— Pai... — Matilda passou seus dedos gordinhos pelo meu rosto. — Por que está sangrando?

— Oh, não se preocupe, meu amor. Um mosquito deve ter picado o papai!

Stockholm Syndrome | l.s Onde histórias criam vida. Descubra agora