Asas & Escamas

Inesperado

De tempos em tempos, os encontros mais improváveis acontecem, até mesmo de formas incomuns.

Nesta irregularidade, encontramos um garoto tão irregular quanto o clima atual. Seus cabelos são fios de carvão, balançando ao sabor da brisa que acaricia seu rosto. No entanto, ele mal percebe o clima, imerso na bonança e lucidez de seu livro.

Desde a infância, sua mente vagueia pelo mundo da lua, tornando as interações com outras pessoas um desafio. No momento crucial de seu livro, ele é abruptamente arrancado de seu universo.

Um ruído invade os ouvidos de Tygon, fazendo-o desviar o olhar para seu assistente, que estava ligando para ele.

— Tygon, o que foi? — sua voz não esconde a irritação por ser interrompido.

— Chefe, terminamos as negociações. — a voz do assistente oscila de firmeza para medo.

— E o que isso tem a ver comigo?

— Seu avô está chamando você, é melhor você ir até lá.

A teimosia de Tygon se dissipa como água escorrendo pelo ralo, e ele parte da biblioteca em direção ao encontro com seu avô.

Ele atravessa as ruas da cidade, passando pela multidão que, para ele, parece um enxame de vespas. Poucos minutos depois, chega a um restaurante onde seu avô está sentado.

Cercado por homens de terno, seu avô o encara enquanto saboreia sua refeição.

— Você me chamou? — Tygon suspira antes de perguntar.

— Sente-se, precisamos conversar.

Tygon suspira novamente, respondendo cansado:

— Olha, se for o que estou pensando, eu vou embora.

Seu avô, com olhar imponente, volta sua atenção para o adolescente e diz:

— Tygon Ozuno, sente-se e depois eu lhe direi o que é.

O garoto se fecha em si mesmo, colocando as mãos nos bolsos da calça e se sentando, esperando o que seu avô tem a dizer.

— As negociações com a Família Taka terminaram e precisaremos de mais espaço para a nova base de contrabando.

— Uma nova base? Você está certo disso? — Tygon responde com insegurança, enquanto seu avô saboreia um bom vinho.

— Sim, e é aí que você entra. Você terá que se mudar.

— Espera, eu vou me mudar? Para onde e por quê? — o adolescente está confuso, mas logo compreende.

— Nossa base atual foi comprometida. Vamos reformar a casa onde moro para transformá-la em uma base. Eu vou morar em outro lugar e você também. Como você vai fazer isso é problema seu.

Uma raiva toma conta do garoto enquanto ele responde:

— Você poderia ter me dito antes. Assim, eu não precisaria ter vindo aqui.

— Eu sou o chefe, decido quando meus empregados recebem as informações. Você recebeu agora, e isso é suficiente.

— O chefe que eu faço os contratos. Com licença, eu tenho que arrumar as malas. — Tygon se levanta furioso.

Lá fora, ele dá um suspiro profundo de frustração, pensando que agora terá que morar na rua. Mas então, um dos assistentes de seu avô sai do restaurante pedindo para que ele espere.

— O que foi? — o garoto pergunta, enraivecido.

— Ouvi dizer que você vai se mudar e pode acabar na rua. Mas posso ter um lugar para você ficar.

— Que lugar seria esse?

Os dois entram em um carro e se dirigem para o subúrbio. Quando chegam, param em frente a uma casa simples. Ao se aproximarem e baterem na porta, um rapaz sai da residência com olhar sonolento, cabelo bagunçado e uma garrafa de Natasha na mão.

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