》 Vínculos Frágeis 《
Após cuidadosamente trocar os lençóis e me banhar, desço com passos firmes as escadas que conduzem ao andar de baixo. Uma pausa involuntária ocorre quando minha mãe, no último ato de despedida, troca beijos com o meu padrasto. Uma inquietação desconfortável se instala em mim diante desse homem que, por alguma razão, não consigo suportar. Os sons audíveis dos beijos e, logo em seguida, o estrondo da porta fechando marcam o final do encontro deles. Com um suspiro, completo minha descida pelas escadas.
— Ainda está ao lado dele?
Questiono, mesmo ciente da resposta evidente. As promessas que fez, jurando nunca mais voltar para ele, ecoam em minha mente.— Precisamos dele.
— Ele é um dependente, afundado no álcool.
Cruzo os braços, mantendo meu olhar firme sobre ela. Embora mantenha uma postura ereta, sinto uma leve tremulação em meu corpo. De alguma forma, há medo em lidar com minha mãe, uma sensação que parece tola, mas persistente.— Pouco importa, ele continua sendo a pessoa que amo e que me auxilia em casa, ao contrário de você.
Ela se encaminha em direção à cozinha.
— Ele traz as coisas para dentro, a comida que enche seu estômago.— Está jogando na minha cara? É isso? Apenas porque ele trabalha e eu não? Estou investindo no meu futuro!
Minha resposta ressoa em voz alta, mas é imediatamente abafada pelo grito dela, uma explosão de pura raiva.Sinto um arrepio percorrer minha espinha diante do grito, e por um instante, meu coração acelera. Permaneço em silêncio, tentando conter as emoções que borbulham dentro de mim, enquanto ela começa a desabafar a sua raiva.
— Você só pensa em si mesma! Enquanto esse rapaz se esforça para ajudar, você está aí, sem um emprego, sem contribuir em nada. Não vou permitir que arruíne o que temos por puro egoísmo!
— Você não entende! Estou me dedicando aos estudos, buscando meu caminho. Não é só sobre emprego, é sobre construir algo duradouro! E ele... ele não é o herói que você pensa. Você não percebe que ele está manipulando você com coisas materiais?
Digo. Ainda tento manter minha postura firme, mas já sinto meus olhos arderem. Não quero chorar. Não é a primeira vez que brigamos por causa dele, e estou realmente ficando cansada disso tudo. Não bastasse o meu relacionamento desmoronando por causa do próprio Jackson, agora há esse namorado dela, meu padrasto, complicando ainda mais as coisas.— Você sempre dramatiza tudo! Esse rapaz é um suporte para nós, e você deveria ser grata. Pare de criar problemas onde não existem. Já temos problemas demais em casa!
— Claro que temos! E ele é apenas mais um! A geladeira está cheia de álcool e pizzas! Suas roupas estão espalhadas por todos os cantos, mesmo que ele não more aqui. E por quê?
— Não compare o Alex com o seu pai! Ele não é perfeito, mas pelo menos está aqui, ao contrário do seu pai ausente. Aceite que ele faz parte da nossa vida agora, da sua. — Ela diz, com a voz elevada, evitando responder à minha pergunta. Pegando uma cerveja da geladeira e dando um gole.
— Você não costumava ser assim. — Murmuro, subindo as escadas quase correndo. Entro rapidamente no meu quarto e bato a porta, conseguindo ouvir suas reclamações no andar de baixo.
Não suporto quando ela fala do meu pai. Sei que ele era problemático, mas ele fez de tudo pelo meu irmão Carter. Os dois eram muito próximos, embora agora nenhum deles esteja ao nosso lado. Meu pai nos abandonou, e Carter partiu em busca dele. Meu irmão era meu porto seguro, até o dia em que decidiu partir em busca do nosso pai. Desde então, foi a última vez que o vi pessoalmente... raramente recebo uma ligação dele. As saudades são avassaladoras.
Esta família é um desastre total.
Deitando-me lentamente na cama, meu corpo começa a tremer, e as lágrimas escorrem involuntariamente. Por que sou tão fraca quando se trata de família?
Lembro-me das frequentes brigas entre eles. Meu pai saía toda vez que havia discussão, e minha mãe soltava gritos e palavrões enquanto ele partia com sua moto. Carter e eu, sempre nos refugiávamos em nossos quartos, tapando os ouvidos para abafar os sons.
— Oh, Carter... onde você está agora?
Sussurro para mim mesma, enquanto lentamente mergulho no sono.Na manhã seguinte, ao me olhar no espelho, já totalmente arrumada para ir para o colégio, percebo meus olhos inchados devido ao choro da noite anterior.
— Que droga, hein? — Suspiro, pegando minha mochila e jogando-a sobre o ombro. Deixo o meu quarto. Desço as escadas rapidamente, fechando a porta de casa com firmeza. Sigo o caminho habitual em direção ao colégio.
Caminho em silêncio por alguns momentos, perdida em meus próprios pensamentos. No meio do trajeto, sinto a aproximação lenta de um carro. Ao virar, percebo que é Jackson. Uma onda de irritação me atinge, afinal, tivemos uma discussão recente.
— Sério, Jackson? — resmungo para mim mesma, evitando olhar para o lado. Continuo meu caminho.
Ele permanece ao meu lado enquanto abaixa o vidro, do carro, lançando-me um olhar enquanto dirige.
— E aí, gatinha? Entra aí, vai.Eu o ignoro.
— Ah, sério? Vamos resolver isso, estou apenas muito ocupado ultimamente.
— Aham, entendi.
Paro de caminhar, encarando-o enquanto o carro para abruptamente.Mas, mesmo sabendo que não é verdade, uma carona agora não soaria mal.
— Certo, vou entrar.
Aproveito a oportunidade.Abro a porta de trás e me acomodo.
— Mudou de ideia rapidinho, hein? Deve me amar muito.
Ele provoca."Não, eu não te amo como antes." Gostaria de dizer isso, mas opto por entrar no jogo dele; afinal, há algo acontecendo.
— Sim, tenho que ser gentil com meu namorado, não é?
Falo, tentando parecer honesta, mesmo sendo um esforço evidente.No percurso, ele mantém uma conversa aparentemente normal comigo. Felizmente, evita questionar minha opção por sentar no banco de trás. No entanto, sua voz carrega uma falsidade evidente, repleta de palavras sobre o quanto sentiu minha falta.
Como eu sei disso? Como sei que é mentira? Agora tenho a confirmação que precisava. Eu já sabia, mas ter essa confirmação dói.
No banco de trás, encontro um sutiã vermelho, jogado no chão. E definitivamente, não é meu.
É estranho ouvi-lo aqui e ter a certeza de que estou sendo traída, nesse momento. Ontem, eu só estava planejando ir à casa dele, vasculhar seu guarda-roupa e explorar cada canto do seu quarto. Mas parece que não vou precisar disso agora...
Que idiota. Mas essa traição não vai durar muito. Desde o momento em que ele começou a me tratar como se eu fosse apenas um objeto, pensei muito em terminar nosso relacionamento.
Hoje à noite, ele terá uma surpresa. Esse maldito traidor.
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Velocidade Proibida
ФанфикAria Mitchell, uma talentosa patinadora no gelo e estudante de 17 anos, vê sua vida mudar após quase ser atropelada por um motociclista em uma noite. O motivo? Uma corrida entre o Jordan Price e seu melhor amigo Hiroshi Suzuki. Agora, Aria se vê nã...