Golden Bull

4. A felicidade

O som da areia caindo no chão ecoou pela academia. Gendry tirou o saco do gancho e jogou de lado, assim como os outros dois que já se rasgaram com seus socos violentos. Passaram dois dias desde que Arya voltou para casa, mas ainda continua trabalhando na pensão. Desde então, Gendry sai de Steel Corner antes do nascer do sol e volta ao anoitecer. Aqueles sentimentos caóticos ainda estão enrolados em seu coração, sufocando-o por dentro. Seu único escape é o boxe. Treina com Kovarro nos turnos estabelecidos e soca sacos de areia o resto do tempo. Ele achava que se o corpo estivesse em movimento, sua mente estaria parada, mas a realidade não é tão simples. Pensa em Arya todos os segundos do dia, sua mente se perde em vislumbres de olhos cinzentos e suaves sorrisos, mergulhando em uma mistura de saudade e mágoa. Enquanto põe outro saco de areia no gancho, Drogo e Kovarro o observam ao longe.

- A Khaleesi disse que não podemos deixar Gendry rasgar mais sacos. - Diz Kovarro.

- Você quer ir lá dizer isso a ele? - Drogo desafia seu companheiro.

- Ainda não me recuperei do treino. - Kovarro sente todos os seus músculos doloridos e manchas púrpuras começam a surgir onde Gendry o acertou. - Pelo menos podemos usar essa agressividade na luta contra o Bolton.

- Não tenho tanta certeza. - Drogo fixa seus olhos avaliadores em Gendry. - O soco pode estar mais forte, mas ele está mais distraído e lento para desviar. Você o acertou tantas vezes quanto foi atingido, isso nunca tinha acontecido antes.

- O que acha que está acontecendo?

- É muito óbvio, fiquei pior do que isso quando Daeny e eu brigávamos. - Drogo balança a cabeça negativamente e solta um suspiro. - Está "soferendo" pela "garrota".

- Quase achei que seu sotaque tinha melhorado. - Kovarro resmunga em voz baixa.

- Quando o coração bate rápido, o punho fica lento.

- E temos prejuízo com os sacos de treino. - Daenerys se aproxima dos dois pelas costas, fazendo-os se arrepiar com seu tom de voz sério. - Não me digam que estão com medo de um garoto birrento.

- Eu estou. - Kovarro massageia o ombro dolorido. - O apelido nunca fez tanto sentido. Ele se parece com um touro raivoso.

- E você, Grande Khal? - Daenerys arqueia as sobrancelhas para o marido.

- Estou com pena. - Ele põe o braço ao redor da cintura de Daenerys e beija os cabelos platinados. - Me faz lembrar quando sofria por seu amor, Lua da Minha Vida.

- Oh, Meu Sol e Estrelas. - Daenerys fica na ponta dos pés e beija suavemente a bochecha de Drogo. - Foi adorável, mas ainda quero Gendry longe dos meus equipamentos.

- Sim, senhora. - Drogo olha para Kovarro com um sorriso divertido. - Vá mandá-lo para casa.

- Porque eu?!

- Porque você é meu "funcionárrio". - Drogo aperta o ombro de Kovarro, que se contorce de dor. - E diga que os sacos rasgados serão adicionados na mensalidade da academia.

- É claro, mas não esqueça de encomendar as flores para o meu funeral. - Kovarro se aproxima cautelosamente de Gendry. - Ei, garoto. Podemos conversar?

- Não. - Gendry prende o gancho, mas não bate no saco. Ele se afasta do equipamento e começa a tirar as bandagens da mão. Já sabe do que se trata, Drogo não fala, ele grita. Ouviu tudo em alto e bom som e não pode discordar ou retrucar. - Estou saindo, diga a Khaleesi que vou pagar pelos equipamentos danificados.

Gendry sai pelos fundos da Khas Academy, seu grande objetivo nos últimos dias tem sido não falar com ninguém. Ele age como um grande obsessor desde de a briga com Arya, apenas vagando pela academia ou pela pensão, sugando cada gota de alegria ao seu redor e a boca fechada como um túmulo. Sua família está preocupada e tenta iniciar um diálogo durante as refeições, por isso ele passou a comer no quarto. A forma como todos se comportam lhe dá indícios de que Arya também não falou nada sobre o assunto, o que é um alívio. Como poderia explicar sua mudança repentina de postura em relação a ela sem se passar por um idiota emocionado? Precisaria admitir que caiu na própria farsa e se apaixonou pela mulher rica de Red Keep com quem estava fingindo ter uma relação.