Capítulo Quatro

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         Acordo com alguém batendo na porta do meu quarto e com o sol começando a entrar pela janela, o que me faz pensar ter sido uma péssima ideia ter levantado e ido até varanda fazer aquela ligação antes de finalmente dormir. Eu simplesmente não tenho ânimo de levantar, porém, às batidas ficam ainda mais insistentes, decido ignorar, pois hoje nem mesmo Maíra irá me tirar dessa cama, não depois da vergonha que passei ontem.

          — Vamos, ande. Uma ligação para o homem que você diz odiar não pode ser suficiente para te envergonhar. Levante dessa cama e erga a cabeça, eu preciso de uma carona Vittorio. – sua voz muda conforme fala, começa de forma desacreditada, eleva para demonstrar sua raiva e frustração e depois o tom diminui em uma forma de me convencer.

         Levanto devagarinho, pois não quero pensar em deixar meu quarto e enfrentar o mundo e antes de colocar uma roupa, somente com uma cueca azul, vou até a porta e de forma abrupta minha irmã entra no quarto gritando em seguida após me vê semi nu.

          — Ia dizer para que você esperasse na sala, mas não é capaz disso, não é? Eu já volto.

          Vou para o banheiro do quarto de forma lenta tentando raciocinar muitas coisas em minha mente que cai em uma espiral de medo, em pouco tempo ele irá descobrir quem ligou e eu vou virar chacota agora ele e os abutres o cercam. Maíra é uma mulher de cabelos crespos em um black power deslumbrante, alta com um metro e oitenta e corpo delgado e pele negra retinta o que a torna uma mulher fenomenal, não é à toa que sua beleza faz jus ao que as revistas falam sobre ela.

          O dia não foi bom, uma voz em minha mente surgiu durante vários momentos me dizendo que eu era um tolo por querer conversar com aquele idiota, porém outra bem mais fraca dizia para eu tentar. Eu realmente pensei em tentar, porém, não salvei o número amaldiçoado e apaguei após ligar e desistir de falar, agora depois de um dia só vegetando entrando e saindo da minha sala para reuniões e encontro com clientes eu estou no meu carro e já devo estar no vigésimo copo de café.
Quando estou prestes a chegar no meu prédio recebo uma notificação de e-mail no meu pessoal, abro o texto e logo entro na garagem do prédio e começo a ler, é algo curto e diz.

Boa tarde senhor D'Angelo.

Eu sou Vicente Colombo e sou aluno do último ano da escola Messa A Fuoco e mesmo ainda sendo começo de ano letivo minha turma já está tendo aulas extracurriculares, uma delas é a de profissões da qual devemos fazer um trabalho sobre a profissão que queremos exercer. Eu estou em um grupo com mais duas colegas e queremos seguir a carreira de engenharia, entre tantos bons e admiráveis profissionais o senhor foi nosso escolhido, gostaríamos de ter a honra de uma entBoarevista em particular com o senhor.

Sei que é um homem ocupado e os e-mails que a empresa recebe são somente profissionais, se poder responder esse e-mail com uma confirmação seja qual for ficaremos agradecidos. 

          Confesso que o e-mail não precisou muito para me convencer, mesmo que seja meio anormal uma escola já está passando trabalhos assim par a uma turma com tão pouco tempo de ano letivo, muito provavelmente que senti meu ego ser inflado ao ser chamado para um momento tão importante para a vida desses jovens. Agora não posso negar, respondo rapidamente que seria maravilhoso poder conversar com eles e digo que minha agenda tem a data de dia cinco de dezembro vaga, será na terça feita mais importante do meu ano de dois mil e vinte e três depois de um grande contrato, mas claro que mantenho a segunda parte oculta, quando termino de digitar e enviar o e-mail falta somente um andar para o elevador chegar a cobertura.

         Devo confessar que após quase duas décadas sem ele em minha vida as coisas ficaram mais solitárias, e um relacionamento de dez anos foi a pior das minhas farsas, apesar da minha irmã sempre dizer que minha maior farsa é dizer que o odeio. Se eu não tivesse um resto de caráter que sobrou depois de tantos anos aquela empresa já teria sofrido boicotes maiores que o de perder clientes para a ConstruMarket, se  isso não fosse me fazer sentir a pior pessoa do mundo eu seria capaz de qualquer coisa para acabar com a carreira dele e poder ver seu sofrimento. Enquanto caminho no corredor observo as portas dos apartamentos decoradas em grande estilo para o Halloween o que me deixa atento par ao fato de que preciso começar a montar minha porta, provavelmente amanhã que é sábado, vai ser algo digamos extravagante e bem mais intenso que a decoração do prédio em si, enquanto olho de forma curiosa para as outras portas buscando inspiração a música Old Town Road começa a ecoar em minha mente, parece vim do meu apartamento o que denúncia que Clara continua trabalhando, porém, a música é viciante e sua batida faz meu corpo criar ritmo e quando abro a porta sei estar dançando o que causa uma crise de riso em Clara.

         — Eu deveria esperar por isso. Meu pai me avisou que ainda ia ver muitas coisas nessa vida. Mas eu não pensei em ver um gigante loiro dançando tão bem assim. – e solta outra gargalhada, eu acabo rindo mais ainda.

          Minha risada é meio contida e meio engasgada, porém se torna alta toda vez que Clara solta uma dessas pérolas — Certo, certo você já conseguiu tirar o peso de um dia monótono dos meus ombros. – ela sorri e anda a te a cozinha me convidando para jantar.

          — Já vou, deixa só eu tomar um banho e depois você já pode ir para casa. – digo um pouco alto, pois já estou nas escadas, porém algo me chama atenção. 

         Uma grande caixa vermelha, me lembro muito bem dela, é a mesma em que veio meu terno de formatura e onde eu guardo coisas do passado que eu nunca consegui jogar fora. Mas quando eu contorne toda aquela caixa com fita, eu prometi nunca mais abri-la, pois não quero lembrar do passado e me sentir ainda pior por não ter coragem de ler e o odiar mais um pouco por todas as desculpas que devem estar naquela carta. Após já está no banho tomo uma decisão, irei abrir aquela caixa e rever tudo que tem, ler a carta e depois queimar tudo, só preciso esperar que Clara vá para casa e assim ficarei sozinho para sofrer. Após descer novamente após o banho posso jantar de forma tranquila na companhia de Clara, essa que trabalha comigo e meu irmão há anos, minha cunhada contratou ela depois que minha sobrinha nasceu e depois de um tempo acabei por a contratar também, as coisas funcionam de forma simples ela faz o almoço lá e já deixa o jantar pronto e depois vem ao meu apartamento fazer o jantar para mim algumas vezes na semana e me faz companhia.

          Quando Clara sai corro até a caixa esperando que ela não esteja rasgada, porém, continua intacta e cheia de fita transparente, algumas voltadas de fita são mais recentes e talvez eu mesmo tenha colocado para proteger. Mas, qual o motivo de tentar proteger coisas ruins do passado? Eu realmente não faço ideia, porém meu coração dói só de pensar em jogar fora, rasguei algumas voltas com a mão antes de levantar e procurar uma tesoura, o que se torna uma missão impossível pelo fato do apartamento ser grande e de que eu nunca lembro onde guardo após usar. Quando finalmente estou sentado meu notebook clareia denunciando mensagens, porém não dou nenhuma atenção e sigo em minha missão até o momento em que um e-mail chama minha atenção, então tenho o vislumbre do nome Bianchi. Eu preciso realmente de um bom sono, já estou alucinado. 

The Hell Between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora