... O número discado está temporariamente indisponível
Já liguei para Nop mil vezes desde ontem, o médico veio até meu quarto informar que já faz dois meses que ele não paga o tratamento e que o plano não cobre mais todas as sessões que eu preciso... de qualquer forma eu só tenho mais um mês, dois no máximo. Eu apenas queria saber o que está acontecendo, ontem, caminhando pelo corredor eu ouvi as enfermeiras comentando que a paciente do quarto 201 não recebeu nenhuma visita desde que foi internada, nenhuma visita, completamente sozinha, mesmo estando casada, será que o câncer, antes de levar minha vida, levou meu marido? Eu preciso saber, preciso saber o que está acontecendo antes que... antes que eu morra, levantei da cama com cuidado, era mais de meia noite, mirei meu rosto no espelho, completamente pálida, a touca de crochê que outra paciente havia feito escondia a cabeça nua, mal via meus olhos fundos e sem brilho, mas eu precisava fazer este último esforço, precisava ir até Nop.
Naquela noite eu assinei o termo de compromisso sobre minha alta, não peguei nada, sai ainda vestindo as roupas do hospital central, na calçada, senti uma brisa leve bater contra meu rosto e cairam flores de cerejeira das árvores próximas, enquanto eu morria, era primavera do lado de fora e o mundo desabrochava, eu sempre amei a primavera, mesmo as flores murchas ainda trazem uma beleza delicada, diferente de mim...
Para minha sorte um taxi passava na rua e eu fiz sinal, olhando para a janela falei meu antigo endereço, antes de me mudar para o hospital
- Rua 2, numero 365, por favor.
- Você parece magoada. Disse o taxista, sua voz lembrava a voz de meu pai, me acalmou por um momento.
-sim... eu respondi
-ah, não tem com o que se preocupar, não é mesmo? Veja, já é primavera. Existe um ditado que diz, hoje é o amanhã daquele que ontem se preocupava... ou será que era o contrário, bem eu sou um velho, não me lembro bem.
-Não haverá um amanhã, eu sei que morrerei logo, só porque há um amanhã não quer dizer que algo bom vai acontecer.
-Eu discordo de você, menina, eu espero que o seu amanhã seja bom.
Não vi o tempo passar enquanto conversava com aquele homem, só sei que cheguei até minha casa, estendi uma nota a ele, quando olhei para a nota reparei que era uma nota que meu pai havia me dado a muito tempo, uma nota que eu guardava na carteira desde sempre, eu sabia que era a nota de meu pai, pois sempre que me dava a mesada ele desenhava um pequeno coração no dinheiro. Eu não poderia levá-la comigo então, não troquei a nota e entreguei aquela mesmo. Para minha surpresa o homem não pegou a nota.
-Não precisa me pagar, apenas prometa que se você tiver uma segunda chance você viverá bem, viajará para muitos lugares e saberá reconhecer o amor verdadeiro quando o vir, faça essa promessa e fique com o dinheiro.
Isso jamais poderia acontecer, mesmo assim me sensibilizou, para não ficar ali e acabar chorando em frente a um estranho eu aceitei, fiz uma breve saudação e quando ele me devolveu a nota acrescentou uma bala.
-viva bem, menina.
-sim, eu prometo.
Fiquei grata ao homem gentil que em tudo lembrava meu pai, porém umas décadas mais velho do quando ele se foi, fiquei grata, pois sentia que estava no final de minha vida, era bom ter uma boa lembrança.
O carro se foi e eu pude vislumbrar a fachada da casa que eu comprei com Nop, ele havia perdido bastante dinheiro no mercado de ações e eu comprei com minhas economias, mesmo assim eu estava tão feliz, ele me carregou para dentro no dia em que compramos, eu tinha certeza que eu seria muito feliz aqui. Passei pelo portão lutando contra as lágrimas mais uma vez, mas assim que eu abri a porta de entrada, eu gelei, um par de sapatos femininos, havia alguém na casa, eu ouvia vozes abafadas vindas do quarto, caminhei resignadamente. Espiei por uma fresta e pude ver, pude ver Nop na cama com minha melhor amiga... Yuki, ela disse que não ia até o hospital porque estava viajando, eu pensei que ele estivesse deprimido então... então eles fizeram isso porque estavam juntos, me traindo.-
-Esta perto e assim que ela for, vamos poder comprar uma bela casa com o dinheiro do seguro.
-É tanto dinheiro assim Oppa? Eu quero uma casa bem bonita.
Eles estavam falando sobre o meu seguro de vida, eu precisava enfrentá-los, eu utilizei as últimas forças que eu tinha em meu corpo para abrir a porta de supetão.
-PARASITAS! BARATAS! VOCÊS NÃO TERÃO NADA APÓS MINHA MORTE. eu dizia enquanto tirava fotos
-Eu vou provar que vocês me enganaram e vocês não terão um centavo sequer, Yuki sai da cama nua e se enrola em meu roupão de seda para caminhar até mim, ela usa minhas coisas, minha cama, minha casa, meu deus por quanto tempo, agora eu sentia que finalmente meus olhos tinham brilho, mas era de ódio.
-Irmã, Mon, não fique assim, por favor, eu vou explicar para você o que aconteceu, estávamos muito deprimidos, o Oppa não tem culpa... Yuki chorava, como ela podia ainda tentar me convencer, ergui minha mão e desferi um tapa em seu rosto, logo depois a empurrei forte, precisei lutar para permanecer de pé após empurrá-la com toda a minha força. Yuki caiu no chão chorando, Nop vestia a calça desajeitadamente e caminhava até mim.
-Yuki, sua vadia, falsa, mentirosa.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa eu sinto a mão pesada de Nop, eu não posso acreditar que ainda agora ele me batia. Mesmo assim, mesmo assim não cai, eu não sabia de onde eu tirava forças, mas eu vi Yuki se levantar atrás dele.
-Mon, você vai morrer, você precisa deixar os outros viverem, não seja egoísta
Quando vou para cima de Yuki novamente sinto as mãos de Nop me empurrando forte e eu caiu sobre a mesa de vidro que a mãe dele nos dera no natal passado, a mesa se quebra e ouço um zumbido alto juntamente com uma dor que nunca havia sentido antes. Parece que aquele cena vai ficando ao longe, muito, muito distante, consigo ver Yuki ir até Nop
-Oppa, o que vamos fazer agora?
-Você vai embora, eu vou dizer que ela caiu, ela já ia morrer de qualquer jeito, está tudo bem, vamos ficar bem.
Tudo está ficando escuro, escuro e longe... foi assim que eu morri
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Primavera [fanfic MonSam]
FanfictionMon lutou contra o cancêr durante anos para no final da vida descobrir que seu marido a traia com sua melhor amiga de infância. Após a descoberta Mon é assassinada, mas invés de um vazio profundo e o fim derradeiro Mon acorda 10 anos no passado, an...