Parênteses

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Todos os meus dias são encurralados por parênteses invisíveis

(Todos os dias eu ouço através das paredes as críticas cortantes como canivete)

Noto que a noite está ressentida, o céu sem estrelas

(O infinito, ainda assim, estende-se e escorre em minhas pupilas embaçadas)

Noto que o dia está cinzento, o céu sem nuvens

(A imensidão, ainda assim, inunda e afoga os meus órgãos vitais)

Lua ausente, a abóbada apática, as estrelas esconderam-se

(Até que eu poderia me acostumar com isso)

Sol opaco, algazarra incessante, o silêncio não reina por aqui

(Não vou aguentar nem mais um único dia nesta casa enorme)

Talvez eu consiga sobreviver se mantiver os cílios para cima e os ouvidos surdos

(Talvez eu possa superar os obstáculos?)

Talvez eu possa sobreviver se apenas colocar minhas roupas na mala e sumir do mapa

(Foi muita ignorância da minha parte achar que eu superaria os obstáculos?)

E, repentinamente, uma sensação revigorante de paz atinge-me

(E eu gostaria de morrer sentindo esta paz)

A percepção de mãos em meu pescoço sufoca-me, estrangula-me

(Eu gostaria de morrer agora mesmo).

Melancolia em excessoOnde histórias criam vida. Descubra agora