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*Amanda

*Sábado

- 18 de junho de 1994 às 7:38

Eu já estava me arrumando para ir trabalhar, eu sei, trabalhar tão cedo assim é desumano. Ontem Helena me explicou os horários e tudo o que eu tinha que fazer.

- Já vai, filha? - minha mãe pergunta quando me vê na porta de casa.

- Sim, infelizmente. - brinco, ela ri e me dá um beijo na testa.

- Tchau, filha. Vai com Deus! - ela fala.

- Amém! - falo e saio (infelizmente) de casa

Ando por um tempinho, até que chego naquele pulgueiro chamado de lanchonete. Abro a porta e vejo Helena limpando o lugar.

- Bom dia, flor do dia! - falo e Helena dá um pulo assustada.

- Misericórdia! - ela se vira para mim - Bom dia, amiga. - ela sorri.

- Cadê meu uniforme? - pergunto e ela pega uma muda de roupa que estava em uma das cadeiras e ela me entrega.

- 'Tô indo me trocar, já volto. - falo e ela concorda.

Vou ao banheiro e guardo minhas roupas casuais, coloco elas dentro da minha bolsa e vou para onde eu estava antes.

O meu turno começa e o inferno se inicia automaticamente. Depois de muito tempo paradas e conversando, vão chegando clientes. Nunca vi um lugar tão cheio em um dia.

Atendi muitas pessoas em pouco tempo. E sentia meu corpo doer e minhas bochechas doerem de tanto forçar sorrisos para clientes mal educados e ridículos.

- Ei, japonesa! - ouço um cara gritar e reviro os olhos. Viro na direção do ser humano e sorrio. - Vem aqui.

Vou em direção a mesa do espurco e ele sorri 'pra mim.

- O que você quer? - sorrio forçada.

- Você. - ele afirma sorrindo. - Qual seu número, gatinha? - ele pergunta e Helena percebe meu desconforto e vem em nossa direção.

- Já não te falei para parar de perturbar as funcionárias, Heitor? - ela diz e ele revira os olhos. - Pode voltar para lá, amiga. Desse aqui eu tomo conta. - ela diz séria e eu concordo.

Me sinto com raiva e penso que no dia em que eu sair daqui, vou xingar todo mundo e jogar tudo para o alto. Sorrio com o pensamento e volto a fazer lanches. Depois de horas de sofrimento naquele estabelecimento pestilencial, meu turno acaba às 20:30 e eu vou para a casa.

Chego em casa, abro a porta e me jogo no chão.

- O QUE É ISSO, FILHA?! - minha mãe grita assustada e vem em minha direção.

- Mãe, eu quero morrer. - começo a chorar. - Trabalhar é tão ruim. Como alguém pode viver assim? - falo me arrastando pelo chão até a cozinha.

- Virou lombriga, Amanda? - Bento pergunta tirando sarro.

- Eu 'tô fazendo isso pelo seu disco, então fica quieto. - respondo chorosa e me levanto. - Tô indo tomar banho.

Vou para o meu quarto e pego minhas roupas. Saio do quarto e vou em direção ao banheiro. Tiro minhas roupas e abro o registro do chuveiro. Entro embaixo da água e sinto a água quente cair em meu corpo. Reflito em como esse trabalho é uma merda, mas para ajudar os meus meninos eu enfrentaria o mundo. Sorrio lembrando de tudo o que passamos, todas as memórias felizes e tristes que vivemos. A vida e amizades são feitas de altos e baixos.

Tenho uma grande consideração e carinho por todos, meu olhos se enchem de lágrimas e me seguro para não chorar. Depois do banho, fecho o registro, me seco e me visto. Saio do banheiro e procuro Bento para falar que o pagamento estava próximo. Helena havia me dito mais cedo e eu quase esqueço desse detalhe.

- Bento? - o chamo entrando em seu quarto.

- Oi, fedorenta. - ele responde me olhando.

- Eu vou receber em breve, são 1.100 reais. Sei que não é muito, mas vou permanecer no trabalho até que vocês consigam o disco. - falo e Bento se levanta rapidamente e me abraça. Fico surpresa, mas devolvo o abraço mesmo assim.

- Te amo, Amanda. - Bento sussurra ainda me abraçando.

- Também te amo, Bento. - falo e ele joga nossos corpos em sua cama. Adormeço lá e nem percebo.

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Postando mais cedo pq a escola me matou hoje (queria que fosse ironia)

Portanto, decidi mudar os horários das postagens, assim que eu terminar de escrever e minha amiga revisar eu vou postar o capítulo.

Escrito: 19/02/2024

Postado: 19/02/2024

Através dos seus olhos - Júlio RasecOnde histórias criam vida. Descubra agora