Por que não viver?

Isaías 43:2

"Quando passares pelas águas, estarei contigo; e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti."

Jennifer Kim

{Terça feira}

— ninie

O momento em que ouvi aquele apelido familiar e reconheci aquela voz, foi como se milhões de sensações conflitantes invadissem meu corpo de uma só vez. Meu coração parecia ter esquecido como bater corretamente, suas batidas erráticas ecoavam em meu peito, enquanto eu lutava para respirar, como se o ar se recusasse a entrar em meus pulmões. Quando finalmente reuni coragem para encará-lo, o choque paralisou meu ser por um instante, enquanto eu tentava processar a realidade diante de mim. Dez anos se passaram desde que nos vimos pela última vez, e ainda assim ele estava ali, diante de mim, como se o tempo não tivesse passado. Seus traços, seu estilo despojado, seus olhos avelãs que me faziam perder-me neles, tudo permanecia igual. Sentado ao meu lado, ele permanecia em silêncio, assim como eu. Seu cabelo um pouco mais longo, sua aparência mais madura e robusta, mas ainda carregando o mesmo perfume que sempre me envolveu. Era como se o passado tivesse sido revivido diante dos meus olhos, despertando emoções e palavras que pareciam ter sido guardadas por anos.

Meu corpo travou, não consegui
me mover, era como uma corrente
elétrica, pegando cada pedaço do meu corpo, não me permitindo anunciar uma única palavra a não ser o seu nome.

— Louis.

Ele estava impecável, radiando maturidade e distância dos seus antigos trajes de adolescente. As calças moletom e camisetas largas foram substituídas por uma calça jeans ajustada e uma camisa social branca, um conjunto que realçava sua masculinidade e elegância. Os All-Star foram deixados para trás, simbolizando uma transformação evidente ao longo dos dez anos. Ao me levantar, senti minhas pernas vacilarem, quase sucumbindo ao peso das emoções que me assolavam. No entanto, mantive-me firme, mesmo que cada passo sobre meus saltos parecesse uma batalha árdua. Ao alcançar minha mesa, mantive meu olhar fixo nele, e vi que ele retribuía o gesto. Seu traje composto por uma calça jeans marrom e uma camisa social branca ressaltava sua presença marcante. Uma mistura de sentimentos me invadiu, tão intensos que senti o gosto metálico do sangue ao morder a parede interna da minha bochecha. Ele estava de volta, despertando uma avalanche de lembranças e emoções há muito adormecidas.

— Quem é vivo sempre aparece não é?

— É, estou de volta.

—Sério? Eu não percebi — respondi,
cruzando os braços, mas contendo as
lágrimas que queriam vir a tona, mas não, ele não teria aquele gosto de me ver chorar, não de novo — o que você quer?

—É bom te ver de novo, Jennifer.

— Não digo o mesmo. A sua vida na
Tailândia não deu certo? A sua amante te largou?

—Isso não importa.

—Algo deve importar, pra você voltar assim do nada.

— não vim do nada,meus filhos chamaram por mim.

—Importa pra você?, durante dez anos eles não eram importantes e agora são?

—Parece que sim,e parece que está
sentida sobre isso, esperava por mim certo? Nunca mais ficou com ninguém.

Eu dei uma risada jogando a minha
cabeça para trás juntamente, fingi
secar uma lágrima e ofereci um sorriso sarcástico ao homem sentado no banco a minha frente.

— Sim, Louis, o mundo gira entorno de você, tudo é sobre você, e é claro que estou sentida sobre sua volta, não está vendo as minhas lágrimas?

—Uau, continua a mesma ninie
sarcástica de sempre, as coisas não
mudaram tanto pelo o que parece—respondeu, se levantando e ficando a minha frente —Vamos ao assunto em pauta, luna e Ravi.