CAPÍTULO NOVE

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À Sombra do Desespero

"Amar-te a vida inteira eu não podia." — O amor pode acabar, Florbela Espanca.


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— Vou começar a procurar um trabalho — comentei.

Ele olhou para mim com olhos possessivos, a expressão de controle escorrendo por seus traços. O tom de sua voz mudou, tornando-se uma ordem dura.

— Kalina, agora você é minha esposa, deixo te faltar algo? Não precisa trabalhar, apenas cuidar de mim e da casa. — Suas palavras soaram mais como uma exigência do que uma declaração amorosa.

— Mas preciso ser além de esposa perfeita, não estudei à toa!

— Não vejo a necessidade do trabalho, então a resposta é não!

— Eu não pedi, apenas comuniquei que vou procurar um trabalho! — falei em um tom mais duro.

Mas minha solicitação desencadeou uma reação aterradora. Vitor avançou, sua mão fechada ao redor do meu pescoço, uma ameaça silenciosa que sussurrava a escuridão subjacente à sua máscara de cavalheiro.

— Você não pode me tratar assim, Kalina. Deve aprender o seu lugar — disse ele, apertando com força.

A dor física era aguda, mas mais profunda era a ferida em minha alma. Aquela imagem do homem que eu acreditava conhecer desmoronava, revelando uma faceta que me deixava temerosa e vulnerável. Cada confronto revelava uma parte obscura de Vitor que eu nunca conheci. Incapaz de permanecer em silêncio diante do abismo que se formava entre nós, questionei-o.

— Vitor, por que está agindo como um ogro? Você não era assim antes. O que mudou? O que fiz de errado? — implorei, ansiando por uma explicação que resgatasse a realidade que escorregava por entre meus dedos.

A resposta dele ecoou como uma confissão amarga.

— Sempre fui assim, Kalina. Você é tola por acreditar que eu seria diferente. Casei-me contigo porque você é a imagem da mulher de família que meu pai sempre quis. Ele prometeu uma casa quando eu me casasse, e você foi a escolhida.

A revelação era um soco no estômago, a cruel verdade sobre o que significava para Vitor. O casamento tornara-se uma transação, um acordo feito por conveniência e interesse próprio.

Em meio à toda aquela tempestade emocional, decidi confrontar Vitor. Não podia continuar vivendo essa farsa. Desesperada, implorei que ele me libertasse desse casamento que já nascera fadado ao fracasso.

— Vitor, se conseguiu o que queria, a casa é sua, agora vamos acabar com esse casamento que é uma farsa — declarei, buscando coragem em minhas próprias palavras.

— Você é minha! — A resposta de Vitor foi um tapa cruel que reverberou pelo quarto.

O gosto metálico do sangue encheu minha boca, enquanto lágrimas ardiam nos meus olhos. Era a primeira vez que ele demonstrava a agressividade física que até então permanecera oculta. Não me aguentei e devolvi o tapa em seu rosto. aterrorizada e com medo do que ele conseguiria fazer comigo ali, corri em direção à porta, buscando refúgio.

Foi então que me deparei com a mãe dele, Rita entrando em nossa casa, seus olhos cruéis me fitavam desconfiada.

— O que há com você? — questionou ela com sarcasmo, olhando para meu rosto machucado.

— Vitor me bateu — confessei em busca de sua compaixão.

— Esse é o motivo do seu drama?

— Ele é agressivo comigo o tempo inteiro e já não sei o que fazer — Perdida entre a dor física e emocional, perguntei-lhe o que deveria fazer.

— Se você não o provocasse, talvez não recebesse essa agressividade dele — a resposta de Rita, fria e intransigente, lançou-me mais fundo no abismo que eu estava tentando evitar.

O rosto de Rita, a mãe de Vitor, exibia um sorriso cruel que ecoava a atmosfera pesada. Diante da pergunta sobre o que fazer, ela respondeu com cinismo.

— E o que tenho que fazer?

— Seja mulher o suficiente para mudar meu filho, Kalina.

— Mudar ele? Mas ele não era assim quando nos casamos — comentei.

— E você escolheu ficar desafiando-o, agora deve lidar com as consequências.

O impacto de suas palavras foi como uma sentença, e eu estava aprisionada em um casamento que se revelava como uma armadilha.

— A culpa é minha por querer ser bem tratada?

— Você não acha que ele já faz demais por você? — Falou friamente.

A cada dia que passava, mas me sentia sozinha e presa a esse lugar.

O tempo estava sendo marcado por uma tensão crescente em um ciclo de reconciliação superficial e confrontos explosivos, um ciclo vicioso entre o amor distorcido e a violência encobertada, viver com ele era como pisar em ovos, não sabia qual seria o Vitor do dia: o comunicativo, o quieto, o agressivo, abusador...

Eu me via cada vez mais distante de mim, me escondendo lá, no fundo, para me proteger e colocando à tona uma Kalina falsa, essa que sabia lidar com tudo que estava acontecendo.

Cada agressão física deixava uma cicatriz mais profunda em minha alma. Eu não sabia o que doía mais: a da pele ou a do coração.

O Vitor que amei antes do casamento parecia ter desaparecido completamente, substituído por alguém que eu mal reconhecia. Ele conseguiu esconder muito bem esse lado, enganou a todos e agora está mostrando sua verdadeira face.

Paixão Perigosa (ATO I COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora