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— Rio de Janeiro, Brasil.

Giulia Mattos

Ter que guardar isso pra mim vai ser muito difícil pois tenho dúvidas e perguntas a fazer para a minha mãe, mas ao mesmo instante ela não pode saber que eu sei e que mexi nas coisas dela ontem.

— Bom dia mãe. - A visto ela assim que desço as escadas.

— Bom dia minha filha, onde vai?

— A lugar nenhum, estava até pensando em sair mais tarde com as meninas mas não sei não

Eu amo sair com minhas amigas principalmente bailes e festas privadas;  já fui sim em um baile de favela porém as únicas favelas que eu já frequentei foi Rocinha e Vidigal, de resto nunca coloquei meus pés.

— Me diz qualquer coisa, eu vou para uma roda de samba hoje com a Priscila.

Priscila é uma amiga de minha mãe, se conhecem desde a semana do meu nascimento pois a mesma tem um filho cujo é dois dias mais velho que eu, ele é insuportável tá.

— correto, vocês vão no teu carro? - pergunto.

— acredito eu que não, ela ficou de me buscar no carro dela.

— jae então vou pegar o teu para eu sair com as meninas.

Não tenho carta de habilitação do Detran mas em compensação tenho permissão de Deus.

Ontem a noite eu não conseguia dormir pois eu não parava de pensar em quem realmente era o meu pai, tudo indicava que era o Dudu pois o mesmo estava com a minha mãe quando eu estava na barriga; mas eu fiquei confusa quando eu fui descobrir o tempo de gestação da minha mãe sendo que na foto que eles estão na praia se beijando-se vulgo primeiro beijo a data não corresponde ao tempo de gestação dela.

Eles se beijaram em abril e em julho minha mãe já estava entrando no sexto mês, algo de errado não está certo.

Retiro a foto que peguei da caixa ontem de baixo do meu travesseiro e a olho.
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— Jacarezinho, Rio de Janeiro.

Thiago Alves

Hoje o dia amanheceu mó tristão, acordei com uma baita saudade de você.

— coé Th bora piar ali na casa da Renatinha?

— vou não menor, vou ficar de plantão mermo.

Esses menor que entraram pra vida do crime achando que a vida e só dinheiro e mulheres mas até agora não sabem onde estão se metendo, acham que é uma barbada trabalhar desse jeito mas é porque a favela está em paz porque se tivesse em guerra...e eles perdesse um amigo ou uma visão de pai aí sim eles iam ver que não é fácil não.

Hoje mesmo fazem dois anos já que o bravo nos deixou, e geral dos cria aqui no morro tão querendo fazer festa em homenagem mas a única coisa que eu quero fazer é sentar na minha laje, acender um baseadinho e fumar olhando pro céu e agradecer pela convivência que eu tive com ele e por hoje eu estar aqui.

Junto todos os meus pertences que estavam na boca, pego rumo de casa pois já acabou meu plantão tem uma hora e me vou pra casa descansar. Eu iria passar na casa de minha vó pra dar uma benção mas eu sei o quão ela não gosta de eu estar nessa vida e hoje não é um dia que eu estou afim de ouvir sermão, eu estou bem pra baixo mesmo.

— oi minha pretinha, como que tu tá meu amor... que saudades que eu tava meu deusu. - faço carinho enquanto ela pula nas minhas pernas.

Safira é minha cachorrinha da raça pitbull que peguei ela bebê; ela é novinha ainda, tem dois meses mas as vezes eu fico um dia inteiro longe de casa e fico com pena dela sozinha aqui.

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...

Menor, que sono foi esse? Eu só lembro de sair do banho, colocar uma cueca e me jogar na cama; me acordei com a safira me lambendo a cara.

— sai safira. - tiro o focinho dela de perto de mim.

Escuto o celular a tocar.

— Fala comigo th, tá na escuta irmão?

— fala tu guilherme - respondo.

Guilherme e eu somos amigos desde a infância, desde menorzão mermo mas ele mudou-se de favela logo em seguida que seu pai faleceu. No ano de 2021 Guilherme desceu cadeião em Bangu junto com o bravura e ali voltamos a ter o contato; ajudei ele a sair da cana e não demorou muito pra ele me procurar e voltar pra cá, esse é dos meus aliados mermo, papo reto.

— Tá por onde?

— Em casa menor, da o papo

— Baile, era?

— to legal família, aproveitem lá -desligo.

Como já disse antes, não tô em clima de baile.

— bora safira. - a chamo para subir comigo pra laje.

Eu já tinha colocado a bermuda antes de subir aqui estão só subo ela até as coxas e me sento na cadeira bem confortável. Pego meu dichavador e ponho umas gramas de maconha e dichavo a mesma por uns minutinhos; preparo a ceda colocando-a maconha ajeitando tudo bonitinho pra não ficar tilt.

Fumando da braba eu lembrei de você...
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Notas da Autora:

Confesso que pra mim tá sendo bem legal estar de volta mas também não posso deixar de pedir encarecidamente o voto de vocês () e também o comentário (💬). Pois isso me ajuda muito a saber se vocês estão gostando, se querem mais ou querem que eu pare. Além disso me motiva um monte a escrever mais.

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