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Giulia Mattos

Wont que coisinha mais linda, morde? -pergunto.

— Obrigado mas mordo não.

Esse bofe abusado aí nos ajudou a sair do meio do tiroteio, ele estava armado mas juro que nem parecia ser envolvido pois não tinha quase nenhuma tatuagem a vista com por exemplo em: braço, pescoço e perna.

Fui ignorante logo de cara mas fazer o que, é meu jeitinho...

— Bofe, tô falando do cachorro.

As gurias riem.

— fiquem aqui até eu voltar pra liberar vocês correto?

— mas... - ele me corta no meio da primeira sílaba e não deixa eu falar.

— Relaxa que ninguém aqui vai sequestrar vocês, nem doido ia querer - ri de nós.

Olha eu sinceramente não entendi o sarcasmo dele, nem louco iria quer o que? Por que? Me chamou de chata? Ou de pobre?

Foi desesperador ficar na casa de alguém que não conhecíamos e pra melhor, num lugar em que eu nunca tinha ido.

— aonde estamos, que favela? - pergunto.

— Jacaré

— faço nem ideia, vou olhar alguma coisa na Tv.

Pelo visto não vamos sair daqui nem tão cedo. O barulho de tiro não baixa de jeito nenhum e pra ser sincera, eu não sei se o moço vai voltar pois ele foi pra uma "guerra" digamos assim.

As balas batiam na parede que chegavam a retumbar dentro de casa, não sei que tipo de tijolo foi usado nessa casa mas até agora bala nenhuma atravessou a parede, graças a Deus né.

— esse pobre não tem nem Netflix na casa dele porra. - Marine diz ao tentar ver algo na televisão.

— põe minha conta, depois a gente tira. - digo.

Não mexemos em nada da casa desse bofe até por que estamos com medo dele fazer alguma coisa, mas até agora única coisa que fiz foi logar minha conta da Netflix na Tv e me deitar no sofá junto com um doguinho.

•••

Tô sem noção de quanto tempo se passou desde que começou tudo mas até agora o moço não voltou. As meninas conseguiram dormir vendo série na televisão mas eu não.

Ouço o barulho de helicópteros sobrevoando pela favela mas já não ouço tanta gritaria, alguns tiros ainda se escuta mas parece ser de longe. Eu não sei descrever o que tô sentindo no momento, eu não sei explicar como é passar  por isso mas é aterrorizante.

Acredito que os moradores já estão mais que acostumado, que devem saber como agir e onde se esconder ou melhor, tentar se esconder.

— oi bebê, você não sente medo não?. -falo baixo para não acordar as meninas.

Assim que me levantei para ir à cozinha a cachorrinha do moço levantou-se junto e me fez festa; sacudiu cola e veio me lamber, eu fiz carinho nela e o doguinho me perseguiu até a cozinha.

PredestinadosOnde histórias criam vida. Descubra agora