Realidade Paralela

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Bella e Elídio se olharam de uma forma que nunca tinham se olhado antes. Era como se quisessem ler minuciosamente o olhar um do outro, mas sem conseguir entender nada. Daniel outra vez pôde perceber o clima entre os dois e por um minuto quis contar tudo o que aconteceu e tudo o que sabia.

Ela sorriu para todos os que estavam presentes, cumprimentando quase que um por um. Com Sanna, ela aproveitou a desculpa de ele estar levemente ocupado e apenas balançou a cabeça, sorrindo ‘sem graça’. Ele retribuiu o sorriso da mesma forma.

Nunca tinham sido assim. De certa forma, Daniel entendeu o porquê, mesmo sem entender. Andy até tentou, mas para ele não fazia sentido, já que ele tinha apenas a lembrança do selinho no jogo das Frases e não tinha visto o beijo do bar. Gustavo, Eduardo, Tauszig, Evandro e os outros que lá estavam também não conseguiram entender.

O ensaio teria corrido perfeitamente bem se não fosse a confusão que estavam as mentes de Elídio e Bella. Quase todos conseguiram perceber que eles estavam mais aéreos do que nunca estiveram. Em várias cenas dadas, tiveram que chamar um dos dois mais de uma vez para que prestassem atenção.

Para ajudar o amigo, Daniel interviu em qualquer cena que quisessem que ele fizesse com Bella, mudando discretamente para que ele fizesse com Gustavo, que também estava lá.

Elídio percebeu isso no decorrer do ensaio, e um sorriso bastou para agradecer o grande amigo.

—Não foi por você. Foi apenas para evitar qualquer conflito que pudesse surgir hoje. - piscou quando se aproximou dele. Sanna apenas revirou os olhos.

—Cara... - o chamou. —Eu lembrei o que aconteceu. Você viu, não viu?

—Eu sei que você lembrou. Tá na cara. - deu um riso nasal. —E eu vi sim. Sorte sua que não foi o Andy.

—Bendito seja Deus! - comemorou, e os dois riram.

Bella passava um texto qualquer e ria de alguma coisa com Anderson, mas ele percebeu que ela não estava inteira ali, perguntando se ela estava bem.

—Quer uma resposta sincera ou uma resposta pronta? - fez uma careta. Ele entortou o pescoço e a olhou como se fosse óbvio. —Tô assim, bem mais ou menos, viu? Minha cabeça está cheia de coisa.

—Eu notei. Desde a hora que você chegou. - assentiu, e ela deu um sorriso fraco. —Tem algo que eu possa fazer para te ajudar?

—Acho que não, Andy... - os olhares dela e de Elídio se cruzaram por um segundo, e ela respirou fundo antes de concluir. —Ninguém pode me ajudar.

Sanna se sentou um pouco distante dos outros que agora apenas brincavam. Provavelmente aquela era uma das únicas vezes em que ele não se reuniu com os amigos para zoar um deles ou falar mal de alguém aleatório. Ele sequer sentia que estava ali.

Ele se sentia longe. Se sentia o Elídio de vinte e oito anos. O Elídio que tinha se encantado perdidamente pela colega e se amaldiçoava por isso todos os dias. Queria que fosse uma atração pequena e passageira. Pequena não era. Mas pensou que teria sido passageira e que jamais voltaria a senti-la.

Desde aquele tempo para cá, eles se aproximaram muito, mas como melhores amigos. Tinham uma relação de amizade incrível e uma intimidade a nível de zoação que era de se dar inveja. Poucas pessoas caçoavam de Elídio Sanna e saíam impunes – como acontecia com ela. E era por conta disso que muitas vezes Andy dizia que, de todos os integrantes do grupo, Bella era a preferida de Elídio.

Ele nunca confirmou; mas também nunca negou. O carinho que ele tinha pela mulher sempre foi diferente de todos os outros, algumas vezes julgou ser algo fraternal como o que ele tinha com os meninos. Mas talvez fosse muito imprudente e incoerente se comparado as coisas que ele já havia pensado quando ela estava em sua mente.

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