Linguagem de Sinais

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Era sexta-feira e haveriam dois shows em Brasília no sábado e no domingo. Dois Improváveis. Ou melhor, quatro. Dois no sábado, dois no domingo. Estavam arrumando as ‘malas’ para a viagem Daniel, Andy, Elídio, Bella, Cintia, Tauszig, Andrei e Guilherme.

—Eu até pensei em chamar a Mari ao invés da Bella, mas você sabe como é... - Nascimento começou, e Sanna o encarou com expressão de tédio antes de voltar a arrumar a mala.

—Você realmente vai continuar com isso? - bufou, ensaiando estar sem paciência. —Já disse que a gente se resolveu e que está tudo bem. E mesmo se não estivesse, nós somos adultos o suficiente para agir com profissionalismo.

—Nah, mas disso eu nunca duvidei. - estalou a língua no céu da boca. —Para agir com profissionalismo são sim, mas e para encarar os sentimentos?

—De quem estão falando? - Andy apareceu no quarto com uma colher cheia de Nutella e Daniel o encarou como se dissesse “Adivinha”. —Ah, já sei!

—Se você disser o que está pensando eu vou fazer você engolir essa porra de uma vez só com a colher e tudo. - Elídio o encarou antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.

—Acho ridículo que o Daniel possa te sacanear o quanto quiser e eu não. - fez uma careta, colocando mais um pouco de chocolate na boca.

—Vai pensando, Andy. - o mais novo disse, e Nascimento piscou para ele. —Ao invés de ficarem falando da vida alheia, vocês podiam terminar de fazer as malinhas de vocês, né?

—Ainda faltam cinco horas para ir para o aeroporto e para pensar em fazer check in, homem. - Dani se sentou na cama, esticando as pernas.

—Você ainda não entendeu que ele está ansioso para ver a amada Bella dele? - Anderson falou e arregalou os olhos com a própria fala, visto que Elídio parou o que estava fazendo e começou a correr atrás do amigo. —Dani, socorro! Daniel! - gritou, mas o mais velho apenas gargalhava sentado na cama.

[...]

É engraçado como um único acontecimento, simples, talvez até bobo para tantos, possa causar algo tão grande e virar chaves em nossas cabeças. Era isso o que Marcatti pensava enquanto se olhava no espelho. Quase todos os dias ela tirava um momento para refletir: ou no espelho, ou no banho. E se não quisesse pensar tanto, se concentrava em Yoga, por mais que não fosse assiduamente adepta.

Ela não queria que aqueles sentimentos voltassem, mas voltaram. O que ela podia fazer? Talvez, nada. Tentava pensar que poderia vencê-los como havia sido dez anos atrás; no entanto, estava difícil.

Bella vivia um rebuliço dentro do peito e sabia que já não tinha como controlar. Mal tinha conseguido dormir, perdida em seus pensamentos. Afinal, agora que ela sabia qual o gosto do beijo de Elídio, não conseguia não pensar o que poderia, o que seria, o que iria acontecer...

Recapitulando: a cena, o álcool. - deixava martelar em sua cabeça que aqueles fatores seriam os únicos culpados dos lábios se selarem. Uma cena, a porra de um selinho de menos de cinco segundos. Uma dose não tão pequena de álcool, um beijo quente. Uma conversa amigável... quase resultou em mais um.

Foi aí que ela franziu o cenho. O que teria acontecido no dia anterior se a energia não tivesse voltado e Andy não tivesse aparecido? Negou com a cabeça mais uma vez e ligou a torneira para jogar uma água na cara. Quando foi pegar a toalha, o telefone tocou.

—Alô? - atendeu sem nem olhar o nome, passando a toalha de rosto na cara e se olhando no espelho novamente enquanto fazia isso.

Oh, mulher, tu já fez as malas? - a voz soou e por um segundo ela não reconheceu, tendo que encarar o visor para ver o nome de Cintia Portella. Só ali ela lembrou que também viajaria. Bufou.

Uma História ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora