🌈 XXII 🌈

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Duvaldevern

🌈 (nota da autora) Estamos mesmo a chegar às retas finais. Não espero que compreendam tudo, pois, como sabem, trata-se de uma sequela de livros e este serve apenas como introdução para os restantes. 🌈


Quem sou eu? Onde estou? O que faço aqui?

Porque estava a premeditar sobre aquelas três grandes questões? Talvez porque houvesse um grande sentimento de perca a abarcar-me o espírito. Embora calmo e agradavelmente sereno, sentia uma desolação profunda a emergir como se algo me escapasse a todo o momento. Missmit...

Quem é ou o que é Missmit? Porque me lembrava disso agora? Era alguma espécie de animal ou nome de ser vivo? Uma cidade, um objeto, um café para onde ansiava retornar... se eu nem sabia quem era, não haveria por certo sítio algum para onde pudesse voltar, ao qual poderia chamar casa? Casa... eu teria uma?

Preciso que procures... Uma voz humana. Eu seria humano? Preciso que procures... Missmit. Alguém queria que eu procurasse algo. Alguém aparentemente masculino dada a voz rouca e firme que implorara. Ter-me-ia pedido por procurar alguém, procurar algo, procurar Missmit, quem era Missmit? Imaginei, de alguma forma, sem, no entanto, conseguir distinguir proeminentemente, que as vozes que separavam as duas frases não eram as mesmas. Alguma seria minha?

Se possuía uma voz, não gritava. Sentia sim que vagava no ninho embrionário como se ainda nem tivesse nascido. Estava nu, contudo, não era frio que assolava os meus músculos ressequidos, antes a estranheza do toque pela substância viscosa que me abarcava. Eu ia nascer ou já tinha nascido? Ou morrera e renasceria para um mundo diferente? Bem, afinal, já sabia algo sobre onde me encontrava. Só poderia ser numa dimensão irreal e eu não pertencia ali.

Ouvi uns "crak's" no meio dos meus pensamentos em turbilhão. Estaria dentro de um ovo e iria aflorar do mesmo? Não consegui abrir os olhos, por isso ainda me parecia que vagava no infinito vasto, impossibilitado de detetar qualquer fresta de luz.

- Queres sair?

Era uma voz diferente. Uma tonalidade completamente contrária à outra que me atingira. A sua pergunta ser-me-ia direcionada? Como não ouvi mais ninguém responder, e acima de tudo sentindo-me sozinho, sabia que não havia mais ninguém ali, enclausurei-me nos meus pensamentos. Preciso que procures... A voz masculina diferenciava-se em muito a este novo tom, pois tratava-se de uma mulher.

Quem és tu? Eu pensei. Porém, devia ter-me inquirido primeiro sobre quem era eu. Seria injusto conhecer outrem quando ainda nem de mim nada sabia. A não ser que aquele sítio fechado, cada vez mais apertado, me ia provocando ânsias claustrofóbicas. Se queria sair? Supunha que sim.

Missmit. Missmit. Missmit. Que estranha sensação familiar. Como me sentia ridículo por todas aquelas informações tão próximas me fugirem pelas mãos, escorrendo-se-me por entre os dedos à semelhança do fluído irrequieto que borbulhava pelo meu corpo, no entanto, era calmaria que me ia sendo injetada continuamente nos vasos sanguíneos e que corria incessantemente até alcançar o meu coração e o impelir a quase deixar de bater.

- Vais sair em breve.

A tal voz feminina ecoou em harmonia por todas as direções. Com ela, também uma distopia singular de um presente irrisório pausado pela sensação de que ascendia como se rumasse do núcleo para a superfície e a cabeça latejava, porém continuava sem poder ver.

Nas Terras das Lendas, Volume I - A Casa dos DemóniosOnde histórias criam vida. Descubra agora