⌛ XII ⌛

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Duvaldevern

(nota da autora) Novas personagens, intensificação e resumo do que se sabe sobre o mundo. Se chegaste até aqui, agradeço-te, do fundo do coração. Please, just don't give up. I promise it will get better.


- Diz-me quem... - A paciência dela fugia-lhe cada vez mais rápido pela forma como parecia ter ativado o modo furtivo da interrogação num desmantelo contínuo à presença humana defronte si... com tanto reboliço e tempo eterno naquele cenário talvez já se encontrasse apta para apanhar assassinos em série. Modo de predador: 'check'. - ... quem és tu?

- Ah, já te disse! – E a impaciência dele ameaçava tingir-lhe o cérebro de tons saturados, feito o justo à semelhança das bochechas vermelhas tipo tomate tipo pimentão que se lhe cobriam a face de vergonha e inquietação. Modo de presa: 'check'. – O meu nome é Promethean, mas podes-me chamar de Prometeu. Quantas vezes mais é preciso repetir?

- Mas tu és burro ou fazes-te? – E nisto qualquer aspeto de sanidade na cara de um ou de outro se dissipariam, lembrando um baile de antagónicas parábolas deformadas em debates de palavras que não conduziriam a lugar nenhum. – Eu estou farta que me digas que és o Promethean, blá, blá, ou que te podem chamar de Prometeu, blá, blá. Eu perguntei-te quem és tu?

Prometeu ficou a olhar para a cara dela, sem saber se deveria rir, ou chorar, ou simplesmente pestanejar até eventualmente acordar e descobrir que aquilo não passava só de um sonho. Quem lhe dera a ele... quem me dera a mim...

A rapariga de aspeto minorca, mas mais alta que uma anã, de corpo tão esguio e magro que lhe conferiria a sensação de que passaria solenemente por entre os pingos da chuva, a uma distância bastante razoável de manter essa mesma distância entre ela e eles, bateu na mesa de aspeto podre, sob a qual se reclinava na tentativa falhada de esmiuçar o rapaz amedrontado pela sua própria existência.

Até agora, tanto quanto sabia, ela chamava-se W. E ele Prometeu. Ela teria um aspeto juvenil, mas uma atitude instintivamente desconfiada, ele um olhar pesaroso sob a ignorância de não saber quem era, ou de saber o mínimo, e desconhecer o ponto do agora que vivia, e de um passado que perdera num breve e simples piscar de olhos. Ambos tão diferentes, ambos tão complementados num tempo de sombras por surgir.

- Vamos fazer o seguinte. – W. recostou-se na sua cadeira de metal reles. – Vamos começar do início.

- Outra vez? – Protestou o rapaz.

- Quantas as vezes necessárias para desembuchares o que fazes aqui, a-mi-go. – Cerrou os dentes contra os lábios numa desenvoltura tal que os fez arroxear pelo sangue ávido que escorreria a seguir.

- Eu... já disse... que... não sei! – Promethean bateu com os punhos algemados contra as suas próprias pernas, revestidas de um branco tão sujo pela poeira e o conflito dos eventos anteriores que parecia que ele não tomava banho há décadas. – Aparentemente tinha a fotografia de uma rapariga que afinal é irmã do boy que eu nem sequer conheço, e ia dizer alguma coisa sobre ela, mas o quê? Não me perguntem. Se calhar, confundiram-se e esse não era eu. Só sei que lhe salvei o coro daqueles imbecis que começaram a matar todo o mundo, e agora querem-me matar a mim também!

Deixei-me ficar recostado ao fundo da parede daquele beco subterrâneo fracamente iluminado. Permitira-me familiarizar com o espaço, tendo em conta o possuir de algumas semelhanças com a gruta aonde eu costumava encontrar minha mãe nos sonhos por vezes; a mesma gruta em que ela sempre deixava cair o seu colar, o que me dera, o cujo com a extremidade pungente num "E" a palrar iluminação radiosa em todas as direções possíveis e imaginárias. Ainda bem que amainara, agora que já se tinham passado algumas horas depois do ataque. Eu libertara-o do peso das mãos minhas que, a custo, o tentaram esconder. Acho que ainda lhes conseguia ver um traço do vinco que a bijuteria me descrevera, tamanha força a minha.

Nas Terras das Lendas, Volume I - A Casa dos DemóniosOnde histórias criam vida. Descubra agora