7- Sacrifícios

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    Era como remar contra a maré em meio uma tempestade, os pés deslizam na terra com movimentos lentos e pesados, o corpo luta para manter o equilíbrio enquanto o fôlego se esgota pouco a pouco. Mas nada o faria desistir! Dario têm plena convicção de sua própria força e mesmo ali, diante de um inimigo com tamanho poder destrutivo, não se renderia sem antes lutar.

    As pálpebras se fecharam brevemente e ao abrir, seus olhos de lobo estavam com um brilho ciano, assim como a energia que agora flui de sua pele como um manto de chamas azuis. Os braços estendidos em direções opostas barraram a passagem das ondas sonoras, o primeiro passo foi o mais difícil, mas o segundo e os outros em seguida encontraram menor resistência até que a jovem Vampira cessou o ataque.

 Mesmo com o Espírito Selvagem os Betas encontraram dificuldade para se manter em pé, Dario sabia que não teria outra chance de conter uma explosão devastadora como essa. Logo, precisava impedir que o inimigo iniciasse outra investida.

  ––– Alana? ––– Heitor advertiu com urgência ––– O que pensa que está fazendo? Acabe com eles de uma vez!

    Assentiu com a cabeça, mas era visível o cansaço em sua face pálida, como se estivesse perto de exceder seus limites, ainda assim obedeceu às ordens de seu superior, alinha a postura e arqueia as costas para maior absorção, as placas do peitoral expandem quando os pulmões inflam ao máximo, as veias negras ao redor dos olhos tornam-se mais protuberantes e realçam suas pupilas que acendem como rubis mágicos.

   As presas a mostra num berro estridente que não fosse a agilidade de Cecília, teria devastado toda a aldeia em questão de segundos. A mão ainda treme ao abafar o grito, unhas cravadas nas laterais do rosto da inimiga cujos olhos esbugalhados exprimem lágrimas de sangue. O próprio corpo não suporta a pressão contida, a pele de mármore fica roxa à medida que incha e ganha volume.

  Como se pressentisse o caos, Heitor desapareceu nas árvores a tempo de escapar da onda de choque que dissipou seu batalhão no instante em que Alana despejou toda sua energia violenta e desenfreada, antes de se debruçar no chão. 

   ––– Prendam essa criatura ––– o semblante firme em contraste com sua aparência delicada ––– é melhor garantir que permaneça esgotada, para o bem de todos.

  Cecília arrasta a vampira pela capa para dentro da aldeia e dois guerreiros se encarregam de levar a prisioneira. Dario analisa os limites do portão, a área completamente destruída, um verdadeiro campo de guerra, entre os escombros da natureza, pilhas de armaduras retorcidas e tecidos em trapos que ardem em brasa entre as cinzas do exército caído.

   ––– Ótimo trabalho, Ceci! ––– sem tirar os olhos da trilha ––– Mas a batalha está longe de terminar.

     ––– Povo de Rochedo!

   Todos se voltaram para o rei e deram passagem para sua família. A pequena Ágata na frente com a anciã, em seguida a mãe e o pai. 

    ––– Chegou a hora ––– continuou Nero, a voz firme, e o coração apertado ––– nossa alcatéia está a beira da extinção e a única forma de manter nossa linhagem viva é nos separando. Portanto, jovens guerreiros, a vocês confio a vida de minha filha! ––– olhos marejados testa franzida com pensamentos relutantes, mas sabia que não existia outra maneira ––– hoje sua jornada inicia, que nossos ancestrais possam guiar e levá-los em segurança.

  A tribo vibrou com uivos de vitória perante as palavras do Alfa, sem questionar ou se opor, pois a confiança era plena em seu líder e qualquer um, do mais novo ao mais velho, abriria mão de sua própria vida pelo bem da alcatéia.


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