Capítulo 6

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Camila

Não abro os olhos, tento raciocinar o que me aconteceu e tudo o que vem na minha mente é que descobriram a minha identidade, uma grigorieva no meio da guerra é uma enorme moeda de troca para os radicais.

Eu quis acreditar que isso não poderia acontecer, mesmo meus pais deixando claro que esse era o maior medo deles, meus pais , penso neles e sinto vontade de chorar.

"Você nunca estará sozinha minha morena, apenas lembre-se de respirar depois da escuridão sempre tem a luz"

Lembro das palavras do Manassés quando sinto meu coração apertando e minha respiração se agitando, ele está comigo, ele precisa estar, tento afirmar com medo de ter uma crise aqui mesmo.

O tempo vai passando, ouço vozes, passos, mas ninguém aparece, respiro, seguro o choro, chamo por alguém e nada, estou sozinha, sozinha com radicais que podem me matar a qualquer momento.

— Sés — Chamo como se ele pudesse me ouvir — Me tira daqui — Imploro, fecho os olhos e canto baixinho "coming home da Skylar Grey" a música dos meus pais que sempre me fortalece, pego no sono.

Não sei quanto tempo dormi, mais é dia e o sol está alto, respiro fundo, alguém passou por aqui pois agora estou sem o saco e as vendas, olho ao redor nada, apenas uma cama, uma pia, uma privada, uma janela fechada com tábuas e uma porta, a hora vai passando e sei que logo a falta dos medicamentos, a ansiedade, o medo e angústia, irão desencadear uma crise, respiro fundo, peço metalmente que Deus me ajude, olho a corda presa no meu tornozelo, tiro o elástico do meu cabelo e ponho no pulso, ando de um lado para o outro, vou até onde a corda me permite, uso o banheiro, volto para a cama, respiro fundo e conto mentalmente, uso o elástico para me infligir dor, preciso disso, corro até o fim da extensão da corda causando pressão, sinto quando machuca e brutalmente me causa alívio, respiro fundo novamente e repito o movimento de novo e de novo.

Me seguro no chão quando começo perder a sanidade, imploro para que alguém me encontre, choro sentindo que está vindo, olho ao redor, não encontro nada que posso me machucar, tudo gira, fecho os olhos e me sinto inerte, ouço meus próprios gritos, sinto minhas lágrimas, tremo com a minha força e choro ainda mais por não ter controle sobre meus atos.

— Preciso de você agora — Digo encolhida em um canto olhando para o quarto destruído, tenho medo de olhar meu corpo e apenas choro desesperada — Manassés cadê você? Você prometeu...

Choro ainda mais, me desespero, sou vencida pelo cansaço, durmo, acordo, entro em pânico, um ciclo sem fim, a dor dos machucados em minha pele arde, não consigo olhar e choro.

Ele prometeu , penso, choro e peço a Deus...

Sem noção das horas ou dos dias que estou aqui me sinto inerte em dor, e sem esperança, me encolho em um canto, nem as dores dos machucados que me causei são capazes de me amortecer, a dor que gera uma satisfação hoje é só mesmo dor.

Lembro das risadas dos meus irmãos, a imagem das minhas melhores amigas em nossas noites de primas, eu e papai na grama olhando as estrelas, vovó Atena...

— Vovó... — Chamo como se do céu ela pudesse me escutar — Eu estou com medo — Digo em lágrimas.

Lembro as lembranças da infância da minha mãe que aquela vizinha me contou, o jardim que minha mãe sempre amou, volto para a primeira vez que eu e a minha mãe conversamos no jardim, minha primeira amiga planta foi um pé de morango.

— Mamãe luta por mim — Imploro

Me encolho, fecho os olhos a visão turvando e peço para que nesse momento ninguém entre, uma crise prestes a dominar meu corpo está chegando e suspiro.

Me concentro no silêncio, a movimentação agora parece mais constantes, eles andam de um lado para o outro, vez ou outra entram aqui deixam água e comida, consegui comer pouco, e quando viram o estrago do quarto e o que fiz em mim diminuíram a comida em reprimenda.

Tomo um gole de água, creio que é madrugada pois os homens já não andam e conversam como mais cedo, eu posso tentar escapar, sou treinada pelos melhores, se eu conseguir ao menos escapar das cordas posso render o que cerca o quarto de madrugada, pega a arma e acabar com quem quer esteja lá fora, o que me dá medo é não saber o número de radicais por aqui.

Vejo entre as frestas uma agitação, gritos e correrias, alguns disparos ao longe, outros mais perto, me encolho longe da porta, aguardo.

Grito com o estrondo da porta sendo aberta

— Ela está aqui — Uma voz feminina diz em inglês e fico atenta — Me cobre coala, porra — Ela esbraveja.

— Estou logo atrás de você Coiote vai logo merda — Outro diz da porta, encaro essas pessoas encapuzadas, não sei se sinto medo ou confiança, são americanos isso eu sei.

— Fica calma — A garota diz se aproximando de mim, passa a lanterna por todo meu corpo e pragueja — Fênix, nós temos a Cristal — Ela diz numa espécie de ponto eletrônico — Ela está um pouco, não, ela esta muito machucada — Avisa me encarando, faz uma careta o que parece é que esse tal fênix é o líder.

— Certo Coiote ande logo com isso — O rapaz na porta diz atirando sem parar — Atenção equipe Alfa e Beta, equipe delta, preparar extração do Cristal

— Desculpa por isso — A garota diz

Reflexo do Amor - Livro 2 - Série Herdeiros GrigorievaOnde histórias criam vida. Descubra agora