Camila
Não abro os olhos, tento raciocinar o que me aconteceu e tudo o que vem na minha mente é que descobriram a minha identidade, uma grigorieva no meio da guerra é uma enorme moeda de troca para os radicais.
Eu quis acreditar que isso não poderia acontecer, mesmo meus pais deixando claro que esse era o maior medo deles, meus pais , penso neles e sinto vontade de chorar.
"Você nunca estará sozinha minha morena, apenas lembre-se de respirar depois da escuridão sempre tem a luz"
Lembro das palavras do Manassés quando sinto meu coração apertando e minha respiração se agitando, ele está comigo, ele precisa estar, tento afirmar com medo de ter uma crise aqui mesmo.
O tempo vai passando, ouço vozes, passos, mas ninguém aparece, respiro, seguro o choro, chamo por alguém e nada, estou sozinha, sozinha com radicais que podem me matar a qualquer momento.
— Sés — Chamo como se ele pudesse me ouvir — Me tira daqui — Imploro, fecho os olhos e canto baixinho "coming home da Skylar Grey" a música dos meus pais que sempre me fortalece, pego no sono.
Não sei quanto tempo dormi, mais é dia e o sol está alto, respiro fundo, alguém passou por aqui pois agora estou sem o saco e as vendas, olho ao redor nada, apenas uma cama, uma pia, uma privada, uma janela fechada com tábuas e uma porta, a hora vai passando e sei que logo a falta dos medicamentos, a ansiedade, o medo e angústia, irão desencadear uma crise, respiro fundo, peço metalmente que Deus me ajude, olho a corda presa no meu tornozelo, tiro o elástico do meu cabelo e ponho no pulso, ando de um lado para o outro, vou até onde a corda me permite, uso o banheiro, volto para a cama, respiro fundo e conto mentalmente, uso o elástico para me infligir dor, preciso disso, corro até o fim da extensão da corda causando pressão, sinto quando machuca e brutalmente me causa alívio, respiro fundo novamente e repito o movimento de novo e de novo.
Me seguro no chão quando começo perder a sanidade, imploro para que alguém me encontre, choro sentindo que está vindo, olho ao redor, não encontro nada que posso me machucar, tudo gira, fecho os olhos e me sinto inerte, ouço meus próprios gritos, sinto minhas lágrimas, tremo com a minha força e choro ainda mais por não ter controle sobre meus atos.
— Preciso de você agora — Digo encolhida em um canto olhando para o quarto destruído, tenho medo de olhar meu corpo e apenas choro desesperada — Manassés cadê você? Você prometeu...
Choro ainda mais, me desespero, sou vencida pelo cansaço, durmo, acordo, entro em pânico, um ciclo sem fim, a dor dos machucados em minha pele arde, não consigo olhar e choro.
Ele prometeu , penso, choro e peço a Deus...
Sem noção das horas ou dos dias que estou aqui me sinto inerte em dor, e sem esperança, me encolho em um canto, nem as dores dos machucados que me causei são capazes de me amortecer, a dor que gera uma satisfação hoje é só mesmo dor.
Lembro das risadas dos meus irmãos, a imagem das minhas melhores amigas em nossas noites de primas, eu e papai na grama olhando as estrelas, vovó Atena...
— Vovó... — Chamo como se do céu ela pudesse me escutar — Eu estou com medo — Digo em lágrimas.
Lembro as lembranças da infância da minha mãe que aquela vizinha me contou, o jardim que minha mãe sempre amou, volto para a primeira vez que eu e a minha mãe conversamos no jardim, minha primeira amiga planta foi um pé de morango.
— Mamãe luta por mim — Imploro
Me encolho, fecho os olhos a visão turvando e peço para que nesse momento ninguém entre, uma crise prestes a dominar meu corpo está chegando e suspiro.
Me concentro no silêncio, a movimentação agora parece mais constantes, eles andam de um lado para o outro, vez ou outra entram aqui deixam água e comida, consegui comer pouco, e quando viram o estrago do quarto e o que fiz em mim diminuíram a comida em reprimenda.
Tomo um gole de água, creio que é madrugada pois os homens já não andam e conversam como mais cedo, eu posso tentar escapar, sou treinada pelos melhores, se eu conseguir ao menos escapar das cordas posso render o que cerca o quarto de madrugada, pega a arma e acabar com quem quer esteja lá fora, o que me dá medo é não saber o número de radicais por aqui.
Vejo entre as frestas uma agitação, gritos e correrias, alguns disparos ao longe, outros mais perto, me encolho longe da porta, aguardo.
Grito com o estrondo da porta sendo aberta
— Ela está aqui — Uma voz feminina diz em inglês e fico atenta — Me cobre coala, porra — Ela esbraveja.
— Estou logo atrás de você Coiote vai logo merda — Outro diz da porta, encaro essas pessoas encapuzadas, não sei se sinto medo ou confiança, são americanos isso eu sei.
— Fica calma — A garota diz se aproximando de mim, passa a lanterna por todo meu corpo e pragueja — Fênix, nós temos a Cristal — Ela diz numa espécie de ponto eletrônico — Ela está um pouco, não, ela esta muito machucada — Avisa me encarando, faz uma careta o que parece é que esse tal fênix é o líder.
— Certo Coiote ande logo com isso — O rapaz na porta diz atirando sem parar — Atenção equipe Alfa e Beta, equipe delta, preparar extração do Cristal
— Desculpa por isso — A garota diz
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Reflexo do Amor - Livro 2 - Série Herdeiros Grigorieva
RomanceCamila enfrenta diariamente os desafios de conviver com dois transtornos graves, encontrando em seu primo de consideração um apoio essencial para lidar com suas crises. Enquanto isso, ele, que foi adotado após uma infância difícil, tenta a todo cust...