A menina reclusa

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Martin não era nenhuma criança abastada, nem aumenos sabia o que significava um dia sem trabalhar.

Aos 10 anos , se considerava praticamente um pequeno adulto.
Entretanto, ao contrário do que muitos podem imaginar, tinha alegria e esperança quase inabalaveis.

O Sol daquela tarde de verão esquentava seus fios loiros debaixo do velho chapéu de palha.
Mas continuava capinando todo o mato que encontrava , com uma pá grande demais para um menino como ele.

Gostava de ajudar os pais , geralmente podia ser considerado o filho mais obediente, afinal fazia o possível e impossível para compensar o carinho de sua família.

A irmã mais velha trabalhava na mansão dos Cartier , uma família que apesar de rica era excluída pela sociedade por ser em sua parte composta por negros.

O garoto não entendia por que alguém era diferente pela cor de pele. Muito menos no que isso tornava alguém superior ou inferior.

Uma vez até chegará a questionar o pai sobre isso , entretanto o homem sorriu dizendo que era jovem demais para compreender a crueldade das pessoas.

No fim das contas ficará ainda mais confuso, com uma resposta tão enigmática.

Resolveu esquecer o assunto temporariamente e se concentrar em reunir todo o capim para dar aos animais.

Depois tiraria leite da vaca e alimentaria as galinhas .

Mas tarde teria que ir a pequena escola do vilarejo , onde uma das freiras dava aulas de caridade para os mais carentes.

Gostava muito das aulas , e se esforçava para aprender . Diziam sempre que ela tinha uma inteligência acima da média e poderia com esforço crescer na vida e sair do campo.

O coração sempre apertava ao ouvir isso, amava aquele lugar .Ainda que tudo fosse muito simples era seu lar e não tinha pretensão de deixar nada para trás.

Assim que recolheu tudo , guardou e se dirigiu para os próximos afazeres.

......

Makeda não tinha amigos , passava a maior parte do dia em casa , tendo aulas com sua preceptora.
As outras crianças diziam que sua pele era escura e que era rechonchuda demais.

Gostava de comer , e se sentia bem com isso. Contudo , ser diferente as vezes a fazia só. Quantas foram as tentativas de se enturmar , de se enquadrar , todavia era só ela chegar para que todos se afastassem.

As lições da senhora Jonhanson eram boas , falavam sobre o mundo, sobre como se portar , costumes e também aprendia outros idiomas além do Francês.

Sempre depois que as aulas acabavam ia na cozinha pegar algum doce que estava sendo preparado pelas cozinheiras da casa.

Observou aos arredores e andou na ponta dos pés, pode ver o bolo cortado com um creme de morango . Sorriu pegando três fatias e colocando em sua cesta de piquenique .Aproveitou e pegou frutas , geleia , pães frescos e um pouco de limonada.

Os pais estavam ocupados em seus afazeres e não notariam sua ausência, por isso saiu para fazer um piquenique próxima ao lago.

Não era a primeira vez que escapulia para longe , sabia o caminho de cor , nem precisa temer se perder . Mesmo tendo oito anos era muita esperta para sua pouca idade .

O clima agradável aquela tarde a fazia fechar os olhos cada vez que o vento bagunçava seus cachos .

A sensação de liberdade , ar puro e paz à fazia se sentir feliz.

Achou um lugar como sempre e estendeu a grande toalha de mesa sobre o gramado verde.

Tinha rosas começando a nascer e o cheiro era tão bom.

Abriu um livro que falava de princesas e príncipes encantados e se deliciou com os quitutes .

.......

Martin

Voltou para casa satisfeito e agradeceu a freira por poder adquirir mais conhecimentos .

Ao chegar o pai lhe incumbiu de levar um pouco de leite para a irmã na mansão dos Cartier.

Ele ouviu a explicação do caminho e acenou em concordância.

O leite estava fresco, e parecia bom , mas mesmo com fome se limitou a fazer a entrega para Angeline .

Andou , andou até que ouviu gritos como se alguém estivesse em perigo.

Sem pensar muito correu em direção do som e viu o exato momento que uma menina vestida como uma boneca gritava olhando para o pequeno sapo que parecia mais assustado que ela.

Devagar se aproximou e expulsou o animal que saiu a pulos para longe dali :

- Era só um sapinho , ele já foi agora esta segura. - disse sorrindo pela reação exagerada da garotinha.

- Obrigada eu tenho muito medo desses bichos..- respondeu olhando para ele como se estivesse ainda mais assustada que antes.

- Ele não faz mal e só manter distância....- explicou para acalmá-la.

- Não acredito que estou conversando com outra criança. Você não tem nojo de mim ?- questionou com os olhos marejados.

- Por que eu teria ?- retorquiu franzindo as sombracelas em incompreensão.

- As outras crianças dizem que sou diferente , falam que pareço uma porca e sou escura . Não tenho nenhum amigo por causa disso.....- confessou deixando as lágrimas caírem .

- Não a nada de errado com você, eu só vejo uma menina bondosa, delicada e linda .- falou com certa raiva das crianças que não conseguiam ver isso .

- Quer ser meu amigo , podemos nos ver aqui todos os dias e fazer piquenique. - propôs com a inocência de uma menina que não conhece as diferenças sócias.

- Você quer ser amiga de um plebeu? - argumentou comovido pela aura de humildade daquela menina.

- Você não é um plebeu , é um príncipe disfarçado .- admitiu dando três tapinhas na tolha onde estavam as comidas .

- Venha e se junte a mim ! - pediu alegre .

- Não costumo comer essas coisas ....- explicou tomando um lugar ao lado da menina mais bela que ele já virá.

- Agora que é meu amigo vá se acostumando...- ditou e lhe estendeu dois pães com geleia , uma fatia de bolo e um copo de suco .

Depois daquele dia , uma amizade verdadeira se iniciará.......


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