4- Karma is a cat- Zac

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A semana inteira foi um teatro de súplicas de Melissa para estudar em casa, mas meu pai permaneceu inabalável. A verdade é que Melissa não era a única adolescente naquela escola a flertar com as sombras da dependência. Crianças com bolsos cheios de uma mesada opulenta e sem noção de como gastá-la era um clichê triste. Eu mesmo não era exemplo de virtude; dividia minha mesada entre maconha, cigarros e gadgets de última geração. Julgar? Eu estava longe disso.


Quando estacionei o carro, encontrei meu pai e Melissa já à minha espera. Ela estava transformada, a maquiagem e as roupas meticulosamente escolhidas servindo de armadura contra o mundo. Trocamos cumprimentos rápidos, um abraço com meu pai e um beijo na bochecha de Melissa, cujo exterior polido mal escondia a tempestade interna. Na sala da orientadora, a tensão era palpável. Melissa encarava a orientadora com uma mistura de desdém e desespero velado, pronta para desmoronar a qualquer sinal de fraqueza. 


Meu pai, com a autoridade de um general, fez seu pedido: "Quero garantir que ela não compartilhe sala com aqueles amigos."


"A garantiremos, Dr. Hastings," a orientadora prometeu, levantando-se com um olhar de compaixão direcionado a Melissa. 

Enquanto eu estava ali, perdido nos meus próprios devaneios e lambendo as feridas do meu ego ferido, meus olhos se desviaram para o monitor que transmitia o show ao vivo do Big Brother escolar. Um dos quadrados, em particular, parecia estar transmitindo um drama digno de novela das nove – lá estava Alexia, a protagonista da minha recente saga de humilhação, conversando com um garoto que eu não reconhecia. Isso durou até a chegada triunfal de seu irmão, que a envolveu em um daqueles abraços que parecem resolver todos os problemas do mundo. Por um momento, fiquei imaginando como seria seu primeiro dia; se ela estaria navegando pelo mesmo mar revolto de emoções que eu, ou se a tempestade era um privilégio exclusivo meu.Alexia tinha aquela expressão que poderia facilmente ser confundida com alguém que acabou de descobrir que ganhou na loteria, mas perdeu o bilhete. Ela estava distante da garota que, há alguns dias, me presenteou com um repertório de insultos que eu nem sabia que existiam. Era uma imagem estranhamente solene, quase como se ela tivesse sido temporariamente substituída por uma versão mais melancólica de si mesma. Eu não conseguia decifrar se preferia a Alexia que atirava farpas ou essa, que parecia carregar o peso do mundo nos ombros. 


De qualquer forma, a cena me fez refletir que, talvez, nós dois não estivéssemos tão diferentes assim – ambos navegando pelo caos, tentando não afundar."Vamos?" Meu pai interrompeu meus pensamentos, sua voz puxando-me de volta à realidade.


"Pai?" respondi distraidamente, passando a mão pelos cabelos numa tentativa de reunir meus pensamentos."Ela vai para a aula. Vamos embora."


Seguimos o caminho de volta em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos. Jason já havia me adiantado o trabalho do dia, e tudo o que eu desejava era um refúgio da realidade. Chegando em casa, deixei-me cair na cama desarrumada, entregando-me ao esquecimento momentâneo do sono.Assim que abri os olhos, Jason já estava ali, como uma estátua, me observando.


"Caramba, será que preciso trocar as fechaduras para vocês pararem de invadir minha casa quando bem entendem?" resmunguei, esfregando os olhos enquanto ele, imperturbável, abria as cortinas, inundando o quarto de luz.


"Se você trancasse a porta, eu não estaria aqui," ele rebateu, um sorriso de canto delineando seu rosto.

This Is How We Do ItOnde histórias criam vida. Descubra agora