0.2 O Traidor

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Havia agora uma certa cautela no ar, uma frieza que fazia todos se arrepiarem, principalmente quando uma presença passava se arrastando pelos corredores, botas pesadas contra o chão, soando como uma melodia sombria por onde passava, e o cheiro do sangue ainda parecendo tão fresco no ar como se a própria morte já estivesse rondando pela Fortaleza. Era assim que todos se sentiam após a noite sombria dos mercenários no quarto da herdeira do trono.

Foi tão alarmante que foi algo que acabou vazando para outros lordes, Alicent poderia imaginar quem teria feito esse ato. Alguns talvez vissem isso como uma oportunidade de tentarem também, e outros pareceram horrorizados com a clara ameaça que Rhaenyra representou, e poucos ainda ficaram admirados com sua resistência diante de uma morte certa. Muitas histórias acabaram rodando sobre esse assunto, desde o povo comum até o outro lado do Mar Estreito.

Viserys ficou enfurecido em saber disso, e enquanto tentavam investigar quem estaria por trás de tal plano, também tentou manter a calma por toda a Fortaleza, mostrando que não havia fraqueza, e até mesmo Daemon pareceu cauteloso por alguns momentos, olhos baixos e analisando de canto, como se algo estivesse quase para acontecer, e logo ele daria apenas um sorriso divertido e sumiria para a Rua da Seda por algum tempo divertido. Rhaenyra parecia indiferente com tudo, mesmo que carregasse agora uma carranca sempre que havia uma reunião do conselho, silenciosa olhando para todos.

— Não há sentido em caçar o responsável. — A voz áspera cortou qualquer discussão naquele dia, e Viserys olhou confuso para a filha.

— Como não, Rhaenyra?! Alguém planejou sua morte! Minha filha e única herdeira!! Não podemos deixar isso passar tão levianamente nesse momento. — O homem mostrou um lado feroz naquele momento, sempre tão calmo e pacífico, ele se sentia atacado e arisco sobre aquele assunto.

— Mesmo nos Degraus eu tive muitos ataques também, isso deve ser apenas mais um recado que Myr ainda se ressente, não acha isso, Otto? — Olhos densos roxos ficaram fixos no homem, que escondeu o nojo quando cruzou os dedos.

— Talvez, Princesa, mas ainda devemos mostrar uma imagem forte para que não achem que possam sair impunes do que foi feito. — Otto respondeu calmamente, um toque de repreensão em seu tom.

Alicent o olhou com cuidado de seu lugar ao lado de Viserys, ajudando cuidadosamente com aquelas reuniões sobre a investigação do atentado feito. Ainda não havia conversado com seu pai, já se faziam alguns dias desde a sua última conversa com Rhaenyra, e havia tanto o que fazer que foi difícil tentar conversar com o homem, e agora ele parecia pronto para provocar mais a Princesa. Tolo, tolo homem.

Respirou fundo, sentindo uma dor de cabeça vindo novamente, as reuniões eram tão dolorosas, havia sempre muitas discussões entre os lordes ali, e entre tantos alfas e homens betas exigentes sendo a única ômega era como um castigo entre os feromônios asquerosos no ar, mesmo que todos ficassem silenciosos diante de Daemon ou Rhaenyra à mesa, como os mais dominantes ali exigindo a submissão dos outros. Seu corpo mesmo latejava de tanto estar diante daquela mesa, pedindo por um pouco de descanso, uma febre ameaçando se aproximar lentamente. Fazia tanto tempo que estavam nisso.

— Lorde Lyonel, como Mestre das Leis, qual é seu pensamento sobre o possível criminoso? Acredito que um homem como você deve ter algumas suspeitas. — A voz áspera cortou novamente, e todos os olhares foram para o homem Strong, que sempre se manteve calado e amistoso durante muitas das discussões.

O homem citado não pareceu intimidado com o sorriso predatório da Princesa, ele na verdade pareceu bem pensativo quando olhou para ela, sua mão subindo para seu queixo, onde acariciou a barba ainda escura, pensando sabiamente sobre o assunto.

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