Estilhaço

Chamas

"Um amigo íntimo" no final das contas essa foi toda a resposta que Paraná conseguiu do mineiro e por mais que ele quisesse continuar insistindo nesse assunto, Rio Grande do Sul o repreendeu dizendo que seria falta de educação.

- Ele claramente não quer falar sobre isso.

- Isso eu já sei, mas não muda o fato que EU quero saber.

Os dois cochichavam sempre que achavam que Minas Gerais não estava ouvindo.

- Ele já ta ajudando a gente, tu não pode ficar fazendo essas coisas.

- E se for alguma coisa perigosa? Você viu muito bem o tanto de animais esturricados que a gente achou nesses dias!

- Guri, fala baixo! O Minas já disse que não tem por que a gente se preocupar, ele me ajudou antes e agora segue ajudando, não tem motivo pra desconfiar!

- "Não tem motivo pra desconfiar" pipipipopopo – Paraná imitou de um jeito ridículo a ultima fala, cruzou os braços e ficou mais emburrado do que já estava.

Rio Grande do Sul apenas revirou os olhos para a cena e andou mais rápido para chegar próximo do sudestino.

- Então, Minas – Ele olhou rápido para trás, mas conseguiu registrar a cara incrédula do espectro, isso fez o loiro sorrir de canto – Acha que a gente vai andar por muito mais tempo nesse aguaceiro?

- Óia, pra sair daqui achu qui vai mais um dia, pur que?

- Acho que to precisando andar em solo firme, parece que meus pés nem sabem mais o que é terra seca.

- Hahaha, incomoda mesmu, mais num si preocupe, logo acaba.

- Sem problemas.

- Rio Grandi du Sul, deixa eu ti pergunta um negócio?

- Claro.

- U Paraná ta muito nervosu?

- Ah – Ele olhou pra trás de novo, o paranaense parecia fazer questão de acompanhar os dois de uma distância considerável – Ele é meio cabeça quente, mas logo passa.

Minas Gerais também olhou para trás e notou a distancia que o espectro tinha dos dois.

- Nainho chegue aqui! Num precisa fica longi não!

- HM! – Ele se aproximou um pouco mais dos dois.

- Si ocê quiser a gente anda um pouco mais divagar.

- Não precisa.

- Larga a mão de ser bicudo, Paraná – O loiro falava em um tom provocativo – Não é você que ta andando no sol e com as pernas atoladas na água.

- Felizmente também não sou eu que to sentindo seu cheiro de cachorro molhando, lamento Minas – O rosto teve uma sutil mudança de expressão.

- Como é?

- Achei que cachorro escutasse bem.

- Ficou azedo por que, Gasparzinho?

- Xô, xô – Ele moveu uma das mãos como quem espanta um animal – Passa daqui Totó.

- Vou te mostrar o "totó"!

- Hahahaha – Minas Gerais viu que os dois olharam pra ele – Ocêis mi lembram uns amigus.

- Hm! – Paraná e Rio Grande do Sul resmungaram basicamente ao mesmo tempo enquanto viraram o rosto para lados opostos.

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Quando estava quase anoitecendo eles finalmente assistiram o lamaçal diminuir pouco a pouco, a água agora mal passava da altura dos calcanhares, o que fez o gaúcho soltar um audível suspiro de alivio.