O coração dela estava acelerado como se estivesse correndo por muito tempo. Mas havia um pequeno detalhe: Lena não tinha feito nenhum esforço para estar com aquela taquicardia. Sentia como se estivesse vivendo algo parecido com seus romances. No entanto, aquele era Matthew McCartney, um homem que jamais olharia para ela além de uma amizade. Porém, podia sonhar um pouco com aqueles belos olhos verdes.
Sorriu para si mesma, pensando no quanto era uma tola por pensar em coisas praticamente impossíveis. Passou a mão pela saia do seu vestido nervosamente, desejando não ter ido, mesmo que secretamente tenha torcido internamente com muito afinco para poder ir e encontrá-lo novamente.
Matthew tinha sido a única pessoa que Lena obteve um diálogo agradável e descontraído. Ela simplesmente pôde ser ela mesma, sem precisar fingir sorrisos e gentilezas. Aquela sociedade aristocrática exigia muitos fingimentos, e caso alguém ousasse tentar contrariar aquelas regras, era jogado no precipício sem o mínimo de remorso.
Lena tinha dito a ele que ia procurar sua mãe, o que era uma mentira. Apenas percebeu que o clima ficou um pouco confuso e precisava se afastar. Agora procurava algum lugar afastado o suficiente para que ninguém a incomodasse, mesmo que fosse uma tarefa complicada.
Gostava da liberdade que um evento no campo era capaz de proporcionar, porque assim poderia pensar sem ser interrompida a todo instante. E Lena adorava sentir a natureza, aproveitar os detalhes de cada coisa que aparecesse em seu campo de visão para que pudesse fazer anotações em seu diário.
Gostava do exercício de anotar as coisas, assim poderia lembrar de determinados momentos caso tivesse vontade. Mantinha seu diário escondido para que sua mãe não lesse, porque a condessa desconhecia o que era privacidade, o que a deixava bastante atenta para não vacilar com seus pertences mais íntimos.
Fechou seus olhos para puder sentir o vento em volta dela. Maravilhou-se com aquela sensação, como se fosse algo parecido com liberdade. Adoraria ser livre para escolher o que quisesse, sem tantas pessoas para ditar o que era ou não apropriado.
— Lady Clarke! — gritou uma mulher, com a voz que parecia ser de Sarah Potter. — Estava mesmo procurando pela senhorita.
Lena se virou e encontrou a mulher que parecia um pouco ofegante ao tentar alcançá-la.
— Vossa Graça. — fez uma pequena mesura. — O que deseja?
— Um minuto, preciso me recompor. Acredito que não é um lugar apropriado para uma dama solteira ficar sozinha.
Lena quis responder de maneira malcriada, mas teve que segurar um pouco a língua. Sua mãe a colocaria de castigo pelo resto da vida se ela respondesse uma duquesa.
— Bom, querida, gostaria de conversar sobre algo muito importante. Espero que não compreenda de maneira errada o que vou pedir.
Apenas olhou para a duquesa com curiosidade, sem entender muito bem onde ela queria chegar ao dizer aquilo. Nunca tiveram muita proximidade, além da cortesia comum de quando se encontravam em bailes, saraus e outros eventos. Porque a aristocracia era uma classe complicada, mas a família Potter poderia ser facilmente a definição de complicação.
— É a segunda vez que vejo a senhorita conversando com Matthew McCartney com muita intimidade. E devo lhe dizer que não gosto nada disso.
— Perdão? — pensou ter ouvido errado, tamanho era o absurdo que ela havia dito.
— Penélope possui todas as qualidades para ser a futura duquesa de Kent. É uma ótima instrumentista, fala francês fluentemente, sabe todos os deveres que uma senhora precisa para administrar um lar. Além disso, possui uma beleza incomparável e um corpo perfeito. — Sarah a olhou com superioridade. — A senhorita parece bastante deslumbrada com a atenção inesperada de Matthew McCartney. No entanto, sabe que ele é um pouco rebelde, não sabe? Meu marido e o pai dele conversam há muito tempo sobre a união dos nossos filhos, e claramente ele é contra. — pegou em seu queixo com força. — Não irá fisgá-lo com sua beleza mediana, corpo completamente fora do padrão e sempre escondida nos salões dos bailes.
Ficou completamente sem reação, poderia esperar qualquer coisa, menos aquelas palavras ameaçadoras. O problema foi a forma como elas a atingiram. Principalmente porque a duquesa Potter tinha atingido seu ponto mais fraco: sua autoestima.
Sentiu seus lábios tremerem e lágrimas brotarem nos olhos, no entanto não daria o prazer para aquela mulher de desmoronar em sua frente. Engoliu o choro e deu o sorriso mais falso possível.
— Espero que tenha um bom evento, Vossa Graça.
E saiu.
Lena não prestou muita atenção para onde caminhava, simplesmente saiu desnorteada para qualquer lugar que a afastasse da duquesa. Lágrimas caiam como um torrencial em seu rosto. Como poderia uma pessoa destruir uma pessoa em tão poucas palavras?
Há anos vinha lutando consigo mesmo para tentar ver uma imagem diante do espelho. Sempre se sentiu como um patinho feio diante das outras moças. Nunca se sentiu desejada ou minimamente capaz de ser cortejada. Sempre desconfiou que acabaria sozinha na casa dos seus pais, e futuramente dependendo da boa vontade de parentes.
Como odiava pensar no seu futuro provável.
Em um momento de devaneio, gritou.
Gritou muito enquanto as lágrimas continuam escorrendo por todo seu rosto.
Abraçou seu próprio corpo e se sentou no chão.
Cansada de sentir pena de si mesma, enxugou seu rosto com raiva. Lena tinha ficado muito vulnerável diante daquela mulher, parando para analisar a situação com a cabeça mais fria. Mesmo que tenha segurado o choro, sua fragilidade ficou exposta quando fugiu. Porque se tudo entre Matthew e Penélope era uma certeza, aquele medo dela em vê-lo conversando animadamente com outra dama não deveria existir. Ainda mais se a dama fosse tão desqualificada. Mas não tinha como ela ser desqualificada, afinal, era filha de um conde. Ou seja, uma possível ameaça para os planos ambiciosos da duquesa.
Lena começou a rir da tamanha estupidez da duquesa. Como era uma mulher tola. Para ser ambiciosa, no mínimo precisava ser inteligente. Mas, claramente ela achava perspicaz amedrontar uma jovem vulnerável.
Sarah Potter quase conseguiu...
Matthew certamente não teria nenhum interesse nela, mas incomodaria a duquesa o máximo que fosse possível. Era uma questão de honra vê-la enfurecida e afogada em seu próprio veneno.
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Linha invisível
Historical FictionLena Clarke é uma jovem procurando seu lugar na sociedade londrina e fugindo das garras do casamento. Acredita que sua vida seria muito melhor sozinha com seus livros e sua gata Hope. No entanto, será muito difícil convencer a todos sobre sua decisã...