IV

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Depois de um tempo fugindo do evento da sua mãe, voltou para socializar com os convidados novamente. Estava um pouco entediado, quase dormindo enquanto conversava com o duque Potter sobre suas apostas ridiculamente arriscadas em cavalos que poderia falir qualquer pessoa com uma fortuna menor que a dele. Mas, Matthew havia aprendido na universidade que nenhum dinheiro durava para sempre, principalmente se não houvesse um controle sobre ele. Por isso vinha se tornando mais comum entre as famílias aristocratas a falência. No entanto, as aparências sempre eram mantidas como se nada de grave estivesse acontecendo. Inclusive, vinha desconfiando das condições do duque.

— Meu jovem, precisa me acompanhar um dia para ver as corridas de cavalo. São os mais ágeis do Reino Unido, garanto que vai se sentir instigado a entrar para o clube de apostas.

— Vou declinar do seu convite, nunca fui muito dado em jogos de azar.

O duque olhou para ele como se fosse uma espécie estranha. E seu pai que acompanhava a conversa com cautela, pareceu ter ficado aborrecido com sua resposta.

Seu pai tinha uma amizade de muitos anos com John Potter. Eles haviam estudado juntos no colégio, e posteriormente na universidade. Ambos possuíam personalidades bastante diferentes, ao ponto de ele questionar diversas vezes o que unia aqueles dois. Mas, Matthew sabia que opostos poderiam se atrair. Não tinha muito afeto por aquela amizade, porque sempre houve muitas conversas para casá-lo com Penélope Potter. E ele odiava essa ideia.

— Meu filho sempre foi um pouco conservador com esses assuntos, John.

— Imaginei que fosse diferente, afinal, jovens gostam de aproveitar.

— O senhor não é mais jovem, mas continua aproveitando. — Matthew respondeu sem pensar muito bem, porque aquele homem dava nos nervos.

Seu pai perdeu levemente a postura, vislumbrou um resquício de sorriso naquele rosto que sempre era tão sério. Seu pai concordava com ele pela primeira vez em muito tempo. Mas ele sabia que logo viria uma repreensão daquela mão de ferro.

— Bom, o rapaz possui um senso de humor afiado. — percebeu o desconforto do duque. — Preciso procurar minha esposa, com a licença dos senhores.

Ele e seu pai fizeram uma vênia enquanto o homem saiu nitidamente desconfortável, como se quisesse fugir o mais rápido possível dali. Porque era de conhecimento geral que ele jamais procuraria a esposa em qualquer evento, pelo simples fato de se odiarem. Compartilhavam a mesma carruagem por não ter uma alternativa, apenas manter o mínimo de aparência que restava.

— Se fosse aceitar o convite dele para um jogo, certamente gastaria mais do que o planejado. — seu pai falou de repente. — Quando ele me convidou na primeira vez, aceitei por achar que seria divertido, mas cometi um terrível engano.

Arqueou a sobrancelha ao ouvir o pai contando algo pessoal dele, não era um comportamento comum da parte dele.

— Viciados são difíceis.

Seu pai apenas assentiu e não falou mais nada, era o clássico silêncio entre pai e filho.

— Meu filho querido. — sua mãe chegou com um belo sorriso no rosto. — A condessa Clarke está procurando lady Lena, disseram que a última vez que a viram, ela estava com você.

— Sim, mas ela me disse que ia procurar a condessa. Aconteceu alguma coisa? — perguntou preocupado.

— Bom, a menina está sumida por muito tempo.

Matthew começou a ficar inquieto com a possibilidade de Lena estar perdida pela propriedade, porque era muito grande e tinha lugares não muito recomendados para quem não tivesse conhecimento, por ser perigoso. Pelo pouco que conhecia dela, não era uma mulher dada a cometer esse tipo de atitude, porque caminhar em lugares desconhecidos seria muito imprudente.

— Vou tentar achá-la.

— Filho...

Nem deixou que sua mãe concluísse a fala; saiu até mesmo sem cumprimentar o pai. Lena Clarke tinha sido uma grata surpresa para ele, como um lufo dos primeiros dias de primavera na Inglaterra, quando tudo começava, pelo menos aparentemente, ficar melhor e mais agradável. Há muito tempo que Matthew não tinha uma conversa tão interessante como teve com ela. Então, cada parte do seu corpo só desejava ver aquela pequena mulher bem.

Começou andar pela região onde ficava uma pequena floresta, conhecia toda aquela propriedade como se fosse sua mão. Não que seu pai tenha se esforçado para que isso acontecesse, mas, por sorte, seu avô viveu bons anos e mostrou tudo. Todos os encantos, perigos e segredos que eram guardados ali. Amava cavalgar sem rumo quando estava em Kent, porque ele lembrava vividamente cada ensinamento dado por seu querido avô.

Distraído em seus pensamentos, nem percebeu a chegada de Lena.

Ela estava com os cabelos completamente desgrenhados, o rosto inchado de quem parecia ter chorado bastante, e seu vestido estava completamente amassado e sujo. Ela parecia tão frágil, tão triste, que a única coisa da qual ele tinha vontade, era abraçá-la. Por um instante, quase seguiu seu instinto, no entanto, conteve seus impulsos.

— Lena, por tudo que é mais sagrado, o que está fazendo aqui? — perguntou com um leve tom de desespero na voz.

Seus olhos ficaram arregalados, quando institivamente colocou as mãos nos braços dela.

— Tive uma leve distração e cheguei até aqui. Estava tentando me encontrar, mas aqui é extremamente grande. — ela olhou para as mãos dele em seus ombros, como se fosse um pedido para que ele tirasse, e assim o fez. — Fui muito tola.

— Por isso estava chorando?

— Não... E não quero falar sobre isso agora. Obrigada por ter sido atencioso em vir me procurar.

— Sua mãe está enlouquecida atrás de você.

— Ah, não. — choramingou. — Ela vai me deixar de castigo até eu morrer.

Matthew começou a rir.

— Está achando engraçado? — fez um bico enorme. — Não conhece a minha mãe, ela sabe ser carrasca quando quer.

— Posso tentar ajudá-la.

— Fazendo algum milagre?

— Consigo convencer sua mãe para que não tenha um castigo, confie mim. — ofereceu seu braço. — Agora, podemos voltar? Está ficando escuro.

O desespero em seus olhos enquanto enlaçava seu braço ao dele, fez com que desse risada mais uma vez. Ainda não saberia o que dizer a condessa Clarke, mas faria alguma coisa para que a punição dela fosse mais amena.

— Pensei em algo para que possa me ajudar.

Lena quebrou o silêncio enquanto andava com ele de volta para o jardim.

— Como?

Ela relutou um pouco para falar.

— Está me deixando curioso.

— Gostaria que me cortejasse de mentira.

Matthew parou e olhou para ela.

— Como? Enlouqueceu?

— Não enlouqueci, é apenas uma forma...

— Acho que é uma forma muito drástica em ajudá-la, ainda mais por um motivo bobo. — sentiu-se irritado. — Acho que a senhorita confundiu as coisas.

Lena desvencilhou seu braço dele.

— Entendo que não queira ser visto comigo, senhor. Consigo enxergar as pessoas daqui, posso ir sozinha. Esqueça o que pedi, foi tolice da minha parte. Obrigada por ter ido ao meu encontro.

Ela seguiu seu caminho sem deixá-lo responder e não olhou para trás em nenhum momento.

Matthew respirou fundo se sentindo frustrado.

Como consertaria aquela situação?

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