V

67 14 6
                                    

Enquanto seu cabelo era penteado com uma força desnecessária por sua criada, Lena refletiu sobre seu dia tenebroso. Se soubesse que seria daquele jeito, nem teria levantado da cama; inventava qualquer indisposição. Agora estava olhando para si mesma diante do espelho completamente constrangida. Deveria permanecer no campo para sempre e ser esquecida pela sociedade londrina. Mas, sua mãe certamente faria com que lembrasse desse dia por um longo tempo, para seu infortúnio.

E quando lembrava da proposta feita para Matthew, sentia vontade de cavar um buraco e entrar. Tinha calculado mal aquela vingança boba para atingir a duquesa. No entanto, aquela mulher tinha atingido seu orgulho sem piedade nenhuma. Lena poderia não ser a maior beldade do mundo, mas não era tão terrível assim.

— Como conseguiu deixar sua mãe tão aborrecida? — Srta. Lewis depois de longos minutos tentando desembaraçar seu cabelo, resolveu quebrar o silêncio. Sempre foi a mais fofoqueira dos empregados. — Poderia ver fumaça saindo das ventas dela.

Lena revirou os olhos, era típico da condessa aquele drama.

— Não aconteceu nada muito relevante...

Lena tinha omitido veemente sobre o ataque da galinha que tinha sofrido. Aquele animal traiçoeiro achou de bom tom achar ela uma ameaça para seus pintinhos e voou bicando suas costas. Tinha gritado com todas as forças, mas aparentemente não tinha encontrado ninguém para socorrer aquele ataque furioso. Saiu correndo aleatoriamente, e por sorte conseguiu chegar no lugar certo. O único problema foi ter encontrado Matthew daquele jeito. Não bastava ter aquela conversa humilhante com a duquesa, parecia que precisava aparecer humilhada também.

Quando surgiu diante da sua mãe, a duquesa conversava alegremente com ela. Lena constatou como aquela mulher era um lobo disfarçado em pele de cordeiro. Como poderia ser tão falsa? Estava poucas horas antes fazendo ameaças para a filha da mulher com quem falava tão alegremente. Sabia que o mundo aristocrático era um ninho de cobras, mas a duquesa aparentemente estava em outro patamar.

Respirou aliviada quando percebeu seu cabelo completamente penteado, sua sessão de tortura finalmente havia acabado. Srta. Lewis organizou as coisas na penteadeira, perguntou se Lena desejava mais alguma coisa, e quando ela negou, saiu silenciosamente do quarto.

Estava sozinha em seu quarto sob um silêncio que muitas vezes desejava quando precisava pensar sobre alguma coisa importante. Mas sua mente estava inquieta, barulhenta e sem muita direção do que poderia fazer para aliviar aquela sensação de vergonha e humilhação.

Deveria contar a condessa sobre a ameaça bem direta da duquesa Potter? Ou deveria simplesmente engolir aquele sentimento ruim até seu túmulo?

Foi para sua cama, deitou-se em posição fetal e lágrimas começaram a descer por seu rosto descontroladamente.

— Se por alguma razão eu merecer tanta vergonha, meu Deus, por favor, quero saber. Porque assim, prefiro nem sair de casa.

Não demorou muito para que Lena pegasse no sono. Depois de um dia complicado como aquele, uma cama macia era tudo o que precisava.

Sua mãe resolveu abruptamente voltar para Londres, argumentou que o tempo no campo tinha sido o suficiente. Lena sabia a verdadeira razão daquela decisão, mas não falou absolutamente nada. Tudo foi preparado de maneira rápida para que partissem de imediato para a velha cidade cinzenta e chuvosa.

O caminho para Londres foi longo e silencioso. Em outro momento teria detestado aquele silêncio, porque viagens longas a deixavam muito nervosa. No entanto, aquela pequena paz estava sendo um alívio. Conseguiu se distrair olhando a paisagem, mesmo que conhecesse ela perfeitamente devido há tantos anos fazendo o mesmo percurso. Pararam em uma estalagem para descansarem, e só pararam quando chegaram no destino final.

Lena inventou uma desculpa esfarrapada para comer em seu quarto, e por alguma razão sua mãe não veio até seu quarto contestar. Ficou aliviada, não possuía forças para mais uma discussão. Em seu íntimo, sabia que a condessa estava esperando o momento certo para arrancar seu couro e planejar os piores castigos. Mas estranhava a demora daquilo acontecer. Preferia ouvir todos os desaforos possíveis, do que a agonia da espera.

Srta. Lewis trouxe seu jantar e tentou conversar. Insistiu em diversos assuntos, quando percebeu que Lena realmente não estava disposta a jogar conversa fora, pediu licença e se retirou.

Deitou-se em sua cama, mesmo estando sem sono.

Ouviu uma batida na porta e sua mãe colocou a cabeça na fresta da porta.

— Ainda indisposta, Lena?

Entrou no quarto e fechou a porta.

— Um pouco, mãe.

Sua mãe estava vestida com sua camisola branca com bordados de florzinhas coloridas. Lembrava dela distraída em sua sala particular fazendo aqueles desenhos delicados com a linha; Lena achava uma arte, pena que não tinha muito talento para tal coisa.

— Querida, tentei adiar um pouco nossa conversa sobre o evento da duquesa, porque parecia realmente perturbada. Sei que não me contou tudo. Na verdade, tenho muito medo de perguntar o que aconteceu.

— Mãe, podemos falar sobre esse assunto amanhã?

— Claro que não. — sua voz saiu bastante firme. — Ando pensando que não eduquei você devidamente. Inclusive, a duque Potter...

Lena sentiu uma raiva se apossar do seu corpo ao ouvir a menção daquela mulher. Maldita fosse ela. A décima primeira praga do Egito.

— Lena, ouviu alguma coisa do que acabei de falar?

— Sim. — mentiu.

— Achei os métodos dela muito... Radicais. Mas, se não melhorar seu comportamento, farei o mesmo.

Ela não sabia exatamente do que sua mãe estava falando, porque não tinha prestado atenção. Porém, pelo teor daquela conversa, era equivalente a mandá-la para um convento.

— A senhora deveria saber com quem mantém amizades. E principalmente, saber de quem ouve conselhos.

Pela luz fraca da vela que iluminava o quarto, Lena observou a expressão assustada da sua mãe por causa do tom de voz que usou para respondê-la.

— O que está acontecendo com você, Lena?

— Apenas não gosto da duquesa Potter. E nenhuma opinião que sair da boca daquela megera terá qualquer importância para mim! — começou a se alterar. — Por favor, mãe, saia do meu quarto. Quero descansar, a viagem foi longa e cansativa.

A condessa aquiesceu.

Saiu do seu quarto sem falar mais nada. 

Linha invisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora