Quando resolveu ir falar com Lena para resolver qualquer mal-entendido, soube pelo mordomo que eles tinham partido para Londres mais cedo. Aquilo o deixou bastante frustrado, porque odiava deixar as coisas sem resolução. Mas teria que aguentar chegar à data que sua família também partiria para Londres em prol da temporada social, porque se fosse antes perguntariam o motivo, e não estava com muita disposição para dar explicações.
Na verdade, Matthew estava com o pior dos humores; qualquer coisa o deixava bastante irritadiço. Fazia todas suas atividades rotineiras, coisas que normalmente surtiam efeito quando não estava com bom humor, no entanto tudo falhava miseravelmente. Não conseguia parar de pensar na última conversa com Lena, o que ela queria falar, como tinha sido um cretino com ela.
— Posso ouvir o barulho da sua mente. — sua colocou a mão em seu braço gentilmente. — Venho observando que alguma coisa está tirando você dos eixos, meu filho. Poderia desabafar comigo? — seus belos olhos azuis brilharam de tanta curiosidade.
Deu uma pequena risada.
— Poderia ser mais sútil em sua curiosidade, mãe.
— Infelizmente foi mais forte do que eu. — sentou-se no canapé lilás em frente a ele. — Nunca deixa transparecer suas preocupações, sempre tive muita dificuldade de identificar seus sentimentos. Não sei quando está feliz, está triste. Reconheço que seu pai tem forte influência no seu comportamento. Então, meu querido, o que fez essa máscara cair?
Lena Clark, pensou.
Matthew tinha uma grande dificuldade em pedir qualquer tipo de ajuda, não gostava da ideia de incomodar qualquer pessoa com um problema que era seu. O duque tinha influenciado e ensinado como manter a neutralidade para lidar com qualquer situação que caísse em suas mãos. Desde o seu nascimento sua vida era controlada, qualquer ato fora do eixo era recriminado e ficava de castigo. Nunca teve abertura com seu pai, pois ele tinha uma natureza muito difícil de lidar. Quando foi estudar na universidade e voltava das férias, conseguia não discutir tanto, fazendo com que Matthew percebesse que ambos não poderiam viver no mesmo lugar por muito tempo.
Apesar de amar sua mãe completamente, por muito tempo ela se manteve distante tentando ao máximo não discutir com seu pai. Contrariá-lo muitas vezes não era algo muito agradável. Sempre pensou o quanto sua irmã era privilegiada por ter a duquesa por perto o tempo todo. Quando atingiu a adolescência ela tentou se aproximar mais, no entanto, havia muito tempo perdido e ele não queria não queria recuperar naquela época. Agora, não saberia se conseguiria se abrir com sua mãe. Falar sobre um sentimento que estava surgindo dentro dele de maneira bastante inesperada.
Ponderou bastante sobre falar alguma coisa ou não. Tinha medo de como ela reagiria.
— Mãe, conheci uma dama inesperadamente...
Quando estava começando a falar, seu sobrinho entrou pela sala correndo e gritando.
Sentiu-se levemente frustrado.
— Oh, meu amor, cadê sua mãe? Estava conversando um assunto importante com seu tio.
— Mamãe saiu. — respondeu Lionel.
— E sua babá?
Não demorou para que a babá entrasse com o rosto completamente vermelho, provavelmente tentando encontrar fôlego para conseguir correr pela casa atrás dele.
— Perdão, Sua Graça. — fez uma vênia. — Milorde.
— Sem problemas, Srta. White. — disse sua mãe. — Poderia levá-lo, por favor? Preciso conversar algo importante com meu filho.
— Sim, Vossa Graça.
Srta. White pegou Lionel no colo e saiu o mais rápido que pôde.
Os olhos da sua mãe se voltaram rapidamente para ele.
— Lembro de uma dama ter sido mencionada antes de sermos interrompidos. — abriu um sorriso largo. — Estou curiosa, meu filho. Sempre foi completamente averso ao casamento.
— Não sou averso ao casamento, apenas quero me interessar por alguém de maneira natural, sem interferências. — sua mãe estreitou os olhos perante sua indireta.
— Bom, seu pai ficaria muito contente se estivesse interessado na Srta. Potter.
Ele fez uma careta ao ouvir aquele nome.
— Deduzo que ela não é a felizarda.
— Apenas casaria se o rei mandasse. Mas, certamente eu fugiria do país.
Eles começaram a rir.
— Também não ficaria muito feliz em tê-la como nora. Ela tem o temperamento semelhante ao da mãe, é muito difícil lidar normalmente. Mas, aparentemente seu pai mantém amizade com pessoas incrivelmente insuportáveis. Algumas vezes penso que pode ser algum tipo de provocação.
— Bom, vindo dele...
— Certo, não enrole mais. Quero saber quem é a dama misteriosa.
— Sem mais delongas: Lena Clark.
A duquesa arregalou os olhos e abriu a boca impressionada.
— Tinha achado um pouco estranho você conversando com ela, porque sempre foi bem distante das mulheres para que não pudessem criar algum tipo de expectativa. Agora entendo o motivo da duquesa Potter estar inquieta olhando para os dois conversando. Como pude ser tão desatenta?
— Mãe, por favor, não quero que crie uma situação fantasiosa em sua mente. Ainda estou tentando entender a razão pela qual estou tão agoniado por não ter conseguido falar com ela após uma pequena discussão que tivemos.
— Discutiram? — sua mãe arqueou a sobrancelha.
— Eu poderia ter sido mais gentil...
— Matthew, não seja como seu pai, essa falta de gentileza muitas vezes pode afastar as pessoas para sempre. Tive pouco contanto com a Srta. Clark, parece ser uma menina gentil.
— Ela é.
— Em breve estaremos em Londres para a temporada, terá tempo para conversar com ela e pedir desculpa. — sua mãe se levantou. — Agora, querido, preciso resolver algumas coisas para o jantar. — aproximou-se dele, com um sorriso nos lábios. — Estou animada com a nova possibilidade!
— Mãe! — a repreendeu.
— Uma senhora possui o direito ao romance. — beijou sua bochecha. — Fique tranquilo.
A duquesa saiu da sala falando sozinha e completamente animada.
Matthew respirou aliviado como não acontecia alguns dias. Ter aquela breve conversa com sua mãe foi de alguma forma bastante reconfortante, porque sabia que passaria um bom tempo se consumindo sem poder falar com ninguém.
Andou até a janela que dava para o jardim da sua mãe, encostando seu corpo na parede. Quando precisava pensar, gostava de observar a natureza. Achava uma das obras mais belas da vida, pois tudo se encaixava de uma forma tão perfeita, mesmo que algumas vezes fosse um pouco exótica para a inteligência do homem.
Uma chuva fina surgiu e ficou observando enquanto pensava nas razões de Lena em propor um cortejo falso.
Matthew naquele momento sabia que não conseguiria manter um cortejo falso por muito tempo, se tivesse aceitado naquele dia, porque estava começando a suspeitar que gostava dela.
Gostava muito.
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Linha invisível
Historical FictionLena Clarke é uma jovem procurando seu lugar na sociedade londrina e fugindo das garras do casamento. Acredita que sua vida seria muito melhor sozinha com seus livros e sua gata Hope. No entanto, será muito difícil convencer a todos sobre sua decisã...