Fazia uma força do caralho para erguer com a perna um peso de dois quilos e nada. Não conseguia nem mesmo formar um ângulo de trinta graus, pois a dor que me invadia era tão aguda que me fazia trincar os dentes. Eu estava de saco cheio disso, e não poder voltar ao meu trabalho normal, já estava sendo o fim para mim.
Até mesmo uma promoção de aposentadoria com louvor já me havia sido oferecida, a fim de me parar. O que para mim era um insulto muito grande já que eu, mesmo com uma das pernas fodida, era melhor que muitos que tinham até mais tempo de carreira que eu e não faziam nada para sociedade. Eu estava mesmo indignado.
Ser policial sempre foi o sonho da minha vida. Meu pai foi um policial, assim como meus tios e avós. Era algo de família e faria de tudo para que meus filhos e filhas também decidissem seguir a carreira. E eu estava ansioso por ser pai. O difícil seria encontrar uma mulher séria, que aceitasse minha vida agitada e perigosa, como minha irmã Janet muito bem chamava, e que amasse crianças na mesma proporção que eu também amo.
E amo demais crianças!
Minha vontade de ter pelo menos uns seis filhos deixa qualquer mulher inquieta. Por isso, só consigo casos de poucas semanas, pois, ao começar falar das minhas pretensões de futuro e do desejo insano de ter um time de basquete como filhos, elas sempre fugiam. Eu voltava para a estaca zero. Não posso culpa-las por isso. Sempre fui muito emocionado e isso atrapalha um pouco.
Isso porque, de acordo com a caçula da família, que mais parecia a mais velha, eu sou sentimental demais e muito impulsivo. Segundo ela, me apaixono rápido demais e por isso me magoo fácil. Não ligo para isso, tudo que quero é viver o que posso, me apaixonar quantas vezes foram possíveis, até que eu encontre aquela que me completará para sempre. E eu sonho com isso.
- Não acha que já está na hora de se aposentar? - Félix, meu melhor amigo e parceiro de trabalho, pergunta. - Acho que tem mais peso do que seu fisioterapeuta indicou. E eu estava lá quando ele disse isso.
- Você é um intrometido e fofoqueiro. - Ralhei e ele sentou-se num aparelho a minha frente. - E meu fisioterapeuta não sabe do meu limite. - Completei.
- Claro, porque agora você é seu próprio médico, não é? - Dei de ombros. - Olha meu amigo teimoso, sei que já foi enfermeiro, é um ótimo atirador...
- O melhor do departamento. - Interrompi.
- Desculpe, não quis ofendê-lo assim. - Falou, jogando as mãos para o alto. - Estou dizendo que sei que faz uma investigação forense como ninguém, deixa os profissionais da área de TI perdidos com suas descobertas nada fáceis, e é um exímio lutador. Embora não cozinhe porra nenhuma, é um gênio em muitas coisas, mas não me lembro de tê-lo visto trabalhando como fisioterapeuta. - Ironizou. - Faz o caralho do exercício direito.
- Ei! Não cozinho tão mal assim! - Reclamei. - E não estou fazendo errado. Estou apenas buscando ultrapassar meu próprio limite.
- Vai foder sua perna de vez! Se ainda pensa em voltar...
- Eu vou voltar, Felix! Ainda tenho alguns casos para finalizar. - Corrigi-o.
- Você levou um tiro na perna, que esmagou seu osso. Por sorte, não arrebentou a femoral. Mais sorte ainda que você consegue andar munido dessa moleta. Ainda dá para trabalhar na parte interna, como já lhe foi oferecido, é uma ótima ideia também.
- Não mete essa, Felix! Nenhum de nós dois concorda que essa é a melhor coisa para mim. - Levantei-me, sentindo um pouco meu músculo repuxar. - Eu quero ir para as ruas. Voltar ao caso que estava e encontrar todas aquelas mulheres e crianças que estão desaparecidas.
- Jerry está no caso. Ele está bastante empenhado.
- Por favor, Félix! Você e eu sabemos que o Jerry morre de medo de sair às ruas. Está achando que ele vai encontrar todas aquelas pessoas, sentado atrás de um computador? - Questionei e ele deu de ombros. - Isso é uma situação para externa, não interna. E nós dois somos as pessoas mais adequadas para isso.
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TRAFICADAS
ActionO tráfico humano é um distúrbio da nossa sociedade. Diariamente, crianças e mulheres principalmente são tiradas de seu lar, sua família, para servirem como objetos sexuais nas mãos de tudo quanto é tipo de pessoas abomináveis. Nessa situação, um age...