Capítulo 1
Os aeroportos me causam medo, e ter que embarcar em um voo é assustador. Como um objeto tão pesado pode voar? Isso não faz sentido. Apesar de adorar viajar, todos os voos são traumáticos para mim; sempre carrego algum calmante na minha bolsa para essas ocasiões. Sinto inveja de todas as pessoas calmas naquela grande lata com algumas turbinas, que os engenheiros garantem ser capazes de nos levar em plena segurança para o outro lado do mundo.
Saí tão apavorada com a confusão instaurada em casa que não peguei a bolsa correta e sequer me alimentei, mas no meu estado atual não posso me dar ao luxo de ficar sem comer.
Sinto minhas mãos ainda trêmulas enquanto procuro pelo meu porta-cartão dentro da bolsa. Será que perdi pelo caminho? Reviro a bolsa e escuto o barulho das chaves do apartamento que não serão mais utilizadas. Sinto os óculos de sol jogados ao fundo, entre outros acessórios, e não consigo encontrar o que estava procurando. O nervosismo começa a tomar conta de mim; alguns objetos vão de encontro ao chão. Quando estou prestes a virar a bolsa em cima da mesa, sem me importar com as pessoas à minha volta que começam a me olhar porque estou fazendo barulho em um local silencioso, uma mão tatuada deposita um dos meus frascos de remédio em cima da mesa, junto ao prato de comida, chamando minha atenção.
– Coma e pare de incomodar as pessoas com essa bagunça.
Não pude ver o rosto do homem, pois ele permaneceu de costas até se sentar em um dos bancos no bar ao fundo do restaurante. Não fui capaz de levantar e questioná-lo; minha situação não é das melhores. Tenho uma mãe descompensada, um pai ausente, amigas distantes e um voo apavorante prestes a embarcar. Só dessa vez, deixarei que ele pense o que quiser; afinal, não o verei novamente nunca mais.
Sinto meu estômago diante de um prato que parece realmente apetitoso. Achei que finalmente iria me alimentar quando meu voo é chamado pelos alto-falantes do aeroporto. Abandono o prato com raiva, depositando uma nota de duzentos reais à mesa, mais do que o necessário para o pagamento do alimento. O restaurante italiano no aeroporto é um dos meus favoritos aqui. Possuía o dinheiro o tempo todo em minha carteira; não precisava da ajuda do estranho. Apenas fiquei nervosa com a possibilidade de ter perdido todos os meus cartões. Afinal, estou saindo do país sem ninguém saber para onde estou indo. Alguns segundos depois do estranho ter depositado o prato em minha mesa, lembrei-me de que havia colocado os cartões no porta-cartão colado no meu aparelho telefônico. O que acaba comprovando que a escolha de fugir desse país e da minha família foi a melhor que tive, pois as últimas 24 horas mudaram toda a minha história.
A vontade de vir até o restaurante desabrochou quando desembarquei há algumas horas de um táxi e acabei dando de cara com um dos sócios do senhor Park, meu pai. Precisei ir em direção totalmente contrária ao meu embarque, tive que esperar por algum tempo até que o homem finalmente seguisse por um caminho no qual eu conseguisse escapar sem ser vista. Acabei perdendo mais tempo do que o necessário, mas como estou indo apenas com uma pequena bagagem de mão, não preciso despachar nada.Terei que correr praticamente todo o aeroporto até o meu portão para o embarque. Desviei de alguns retardatários que passeiam nos corredores do aeroporto de Guarulhos, a locutora do aeroporto anuncia meu voo mais uma vez. Já estou vendo o número do portão de embarque quando sou forçada a parar bruscamente para não atropelar um bebê que entra na minha frente; já a minha mala de mão com rodinhas, acho que era uma ótima hora para ter vida própria e atropelar o homem que estava indo na mesma direção.
– 씨발! - [ maldição! / Droga! ] aquela voz grossa e baixa fez meu corpo todo arrepiar.
Eu não precisei olhar para o dono da voz para que meu corpo estremecesse. Desviei da pequena criatura à minha frente, vendo sua mãe correndo em sua direção para pegá-lo. A jovem senhora pegou a criança, colocando-a em seu colo, pedindo milhares de desculpas, e apenas sorriu de forma educada. Ando calmamente em direção ao homem alto, vestido completamente de preto, com o boné em sua cabeça escondendo seu rosto. Abaixo-me à sua frente, pegando minha mala.
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E agora Clarisse ?
RomanceClarisse, uma jovem brasileira, recebe a pior notícia de sua vida e decide ir ao encontro de suas amigas do outro lado do mundo. Em meio a essa aventura, ela conhece Kim Nan-do, um CEO autoritário que se acha o dono do mundo. Kim Nan-do, um CEO com...