Capítulo 3 - E no final, o lobo pode não ser o vilão da história.

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Kim Na-ndo

Dias atuais

Algumas horas antes do voo:

– Nan-do, esse desgraçado deve estar morto em algum buraco na Coreia.

– Ele não está morto, Ji. Eu o vi. Sabemos que minha memória é fotográfica.

Em uma mesa no fundo escuro de um restaurante qualquer no enorme aeroporto, consegui ter uma visão ampla do local. Todos que entravam e saíam, a impaciência se fazia presente por ter que aguardar pessoas descompromissadas. Uma jovem atrapalhada com sua mala e uma bolsa barulhenta com muitos chaveiros me distraiu por alguns instantes, não percebi a aproximação do garçom com um prato de comida que não foi solicitado. Abaixo do prato havia um envelope. Ao olhar para Ji, não foram necessárias muitas palavras para ele perceber que era hora de irmos, pois já tínhamos o que precisávamos.

– Livre-se de tudo e me aguarde no avião.

Não esperei por ele, me levantei e saí do restaurante, deixando que ele cuidasse de tudo. Sentei-me em um dos bancos da sala de espera e abri o envelope. Tudo que eu precisava estava ali. Foram anos procurando pelo filho do traidor, e finalmente o encontrei. Ele trocou de nome, trocou de corte de cabelo, se bronzeou, trocou sua nacionalidade. Eu seria capaz de encontrá-lo até no quinto dos infernos; ele é a minha primeira presa e nunca deixará de ser. Posso ter matado muitos homens antes dele, mas ele continua sendo a minha primeira missão.

Há homens meus espalhados por todo o avião; eu vim até o Brasil apenas para isso. Alguns meses atrás, no aeroporto de Paris, em uma das muitas missões que me são dadas disfarçadas de negócios, esbarrei com um rosto conhecido. Ele não percebeu, mas eu o reconheci naquele momento. Não pude ir atrás dele, pois estava com uma reunião marcada com o embaixador da Coreia do Sul na França. Era algo importante, tendo em vista que transportaríamos drogas e mercadorias vivas através do exército coreano. Então, deixei a minha nova caçada para outro momento. Ordenei que um dos nossos soldados disfarçados de segurança fosse atrás dele. Agora, depois de tanto tempo, vim atrás das respostas que eu procurava.

Uma aeromoça informa que as portas serão fechadas e não haverá mais embarque assim que a última passageira passa pela porta. A mulher era um desastre ambulante, com a mesma bolsa barulhenta e os pingentes que fazem barulho irritante quando ela anda. Sem perceber, ela esbarra em todos ao passar. Tem algo nela que me intriga; percebo que estou tampando o sorriso com a mão quando Ji me encara com olhar de confusão do seu assento.

Sem pensar muito, solto o meu cinto e a sigo. Vejo o chefe da minha equipe de segurança, Yoongi, vindo ao meu encontro assim que entro na classe econômica. Há apenas dois lugares vagos naquele ambiente. A mulher tenta encaixar desajeitadamente a mala no bagageiro, quando a aeromoça me aborda. Mesmo que ela tente tocar meu braço, eu desvio de seu toque sem ao menos olhá-la.

– Algo que eu possa lhe ajudar, senhor?

– Sim, acho que acabei trocando de passagem com meu amigo. Yoongi, vá para meu assento, eu fico por aqui.

A mulher nos encarou sem acreditar muito no que foi dito, mas também não nos questionou. Aproveitei que a jovem estava distraída e me aproximei por trás dela

O homem com o olhar ardente, sentado duas poltronas à frente, se prontificou a ajudá-la. Sem dar tempo para que a mulher respondesse, tomei a mala de suas mãos e acabei com a enrolação antes que a desastrada não a encaixasse direito no bagageiro.

Pela sua respiração alterada, percebi que a minha proximidade mexeu com ela. Seu olhar denunciou que me reconheceu quando me aproximei. Não é preciso que ninguém fale para um homem o quão bonito ele é; nós somos capazes de identificar isso através dos olhares e suspiros que recebemos na rua. Na Coreia, a beleza é importante, às vezes até mais do que sua inteligência e seu dinheiro. As pessoas te elogiam não pelo seu cérebro, mas pelo que o seu rosto bonito pode fazer.

E agora Clarisse ?Onde histórias criam vida. Descubra agora