Capítulo 2 - Crianças que Brincam como homens.

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Capítulo 2

Clarisse

Algumas horas antes do voo.

As palpitações no meu peito não diminuem; a dor no meu abdômen cresce a todo instante. A tontura parou, a medicação intravenosa em meu braço estava apenas no início quando uma linda médica me direcionou até uma sala pequena com duas poltronas e uma televisão.

– Bom, Clarisse, o resultado dos seus exames acabaram de sair. Está acompanhada de algum familiar aqui?

Meu porto seguro sempre foram as minhas amigas Gabriela e Lara, mas hoje não estão comigo no Brasil, então não seria possível tê-las por perto. Elas estão fora do país em um intercâmbio na Coreia. Meses atrás, quando elas começaram a planejar tudo, neguei-me a largar a confusão que está instaurada na minha família e ir curtir essa aventura junto a elas. Agora, com meu diagnóstico, tenho apenas um arrependimento: não ter ido curtir meus últimos momentos junto a quem eu amo.

Após um dia inteiro internada, com dezenas de exames, acabei de ser diagnosticada com câncer gástrico com metástase. A médica me deu alguns meses de vida. Ela até tentou me convencer a permanecer no hospital para uma melhor qualidade de vida nesse pouco tempo, me recusei. Assinei a minha liberação e vim para casa, tentando ser o mais forte possível e não derramar nenhuma lágrima até estar na fortaleza do meu quarto. No entanto, quando eu abro a porta da cobertura onde meu pai nos deixou após a separação para que eu e minha mãe morássemos, dou de cara com as minhas malas todas empilhadas na sala.

– Mãe? O que está acontecendo? – a chamo, retirando os sapatos no vão de entrada do apartamento, como de costume, hábito realizado desde a minha infância.

O apartamento está completamente silencioso e vazio, as vozes fazem eco dentro do imóvel. Onde estão os empregados? O escritório, a cozinha, tudo vazio; os armários não têm nenhuma vasilha sequer. Escuto a fechadura da porta da sala destacando, corro de volta para a sala.

– Mãe?

– Oi, Clarisse. – Seus olhos vermelhos são notáveis, sua voz embargada pelo choro preso em sua garganta.

– O que houve? Por que todas essas malas estão no meio da sala?

– Chegou a ordem de despejo, parece que seu querido pai vendeu o apartamento e temos até a noite para desocupar. – a fúria tomou conta de mim, Peguei a bolsa que acabara de pôr no aparador, colocando-a de volta em meu corpo.

– Irei falar com ele, resolver isso mãe, fique calma.

– Que mania horrível de me chamar de mãe, eu sou tão nova.

Acabo me alterando e gritando com ela. – Mas você é a minha mãe.

– Clarisse, não tem mais jeito meu amor.

– Eu não apoiei ninguém, vocês já estavam separados de corpos, não tem motivos para não falar com meu pai.

– Cesar, me traiu.

– Mãe, ele continua sendo meu pai.

– Calada! César não irá voltar para mim, se você não o apoiasse, estaria aqui nesse apartamento comigo.

Me aproximo da mulher que sempre admirei por ser quem é, pondo a mão em seu rosto. Minha mãe é tão jovem, por que quer viver uma relação onde não há mais amor? Viver de aparências com um homem que não a valoriza, que vivia para o trabalho e jantares sem sua presença. Cesar Park sempre preferiu sua empresa; ela sim é o seu verdadeiro amor.

– A que preço, mãe? Até quando você iria se sujeitar a essa relação falida?

– Eu o amo.

– Mas ele não te ama. Cesar Park ama apenas aquela empresa.

E agora Clarisse ?Onde histórias criam vida. Descubra agora