Capítulo 2

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Olive termina de ler o e-mail aberto em seu laptop pela décima vez naquela semana. E quanto mais lê, mais frustrada fica. Não faz ideia do que fazer para pagar a renovação de seu visto e não ser deportada.

Já pensou em inúmeras possibilidades, desde vender um órgão, até seu corpo para algum velho rico. Ela bate a cabeça frustrada na bancada a sua frente e solta um grito para ver se alivia algo dentro de si.

Sente um focinho em seu cabelo a cheirando, e recebe uma lambida na bochecha.

– Estou bem Kiki – murmura. Levanta a cabeça retirando os cabelos dos olhos, e acaricia a pelagem marrom do labrador ao seu lado. Os olhos verdes a analisando desconfiada – O que você acha de conhecer seus avós? – Kiki se senta abanando o rabo, Olive solta um grunhido em reprovação – Você deve falar que não Kiki. Imagina a gente voltando para casa deles, que lutei tanto para sair. Imagina precisar acordar todo dia de manhã me sentindo a pessoa mais frustrada desse mundo, por não ter conseguido cumprir com meus sonhos.

Olive se levantou indo pegar uma garrafa de vinho na geladeira, mas elas haviam acabado. Olhou para aquela que estava a dois dias em sua bancada, intocada. Estava ali como um lembrete por ter chorado e despejado sua vida em um estranho, que no fim, era um completo doido. Psicopata de merda.

Decidiu que iria sair para comprar mais uma garrafa, ou talvez três. Pegou a guia de Kiki e prendeu em sua coleira. Pensou se trocaria de roupa, mas decidiu apenas colocar um moletom amarelo velho do bob esponja por cima de seu pijama de gatinho, e saiu porta a fora.

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Kiki estava parada em um poste a uns dez minutos se decidindo se valia a pena mijar ali ou no próximo.

– Vamos Kiki, a conveniência está do outro lado da rua. Prometo que na volta te deixo fazer xixi em todos os postes se me deixar comprar algo alcoólico – ela encarou Olive e pareceu concordar com seu pedido – Boa garota – fez um carinho na cabeça de Kiki e as duas atravessaram a rua.

Amarrou a guia em um poste de luz em frente a conveniência e entrou.

Foi direto no corredor de bebidas alcoólicas, parou em frente aos vinhos e se demorou ali procurando algum que lhe agradasse. Geralmente, uma guerra sempre travava dentro de si para escolher entre o mais barato ou aquele de seu gosto. Dessa vez o mais barato venceu. Pegou três garrafas e se dirigiu ao caixa.

Quando chegou ao balcão, entregou duas notas para a senhora ali e ficou esperando o troco. Olhou em direção a Kiki para ver se estava bem e congelou.

Um homem passava a mão em sua cabeça enquanto a desgraçada abanava o rabo. Ela abanava o rabo. Qualquer um poderia passar e roubá-la dessa forma.

Olive observou a cena atenta, ela não conseguia ver seu rosto, pois estava com o capuz sobre a cabeça deixando suas feições nas sombras.

Ele colocou algo na coleira de Kiki e virou, parecendo olhar em direção a Olive, sumindo pela multidão.

Ela pegou a sacola onde estava suas garrafas e seu troco, saindo pelas portas da conveniência. Olhou para os dois lados, mas não conseguiu achar o estranho.

– Você é muito dada, um dia desses alguém ainda vai te roubar de mim – falou para Kiki.

Mexeu em sua coleira e um papel cartão preto caiu dali.

Ela se agachou pegando o papel entre seus dedos trêmulos e o abriu. Ali as mesmas letras douradas marcadas com um novo recado.

"Precisa aprender a escolher melhor, querida."

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