Após a Grande Guerra entre o céu e o inferno, o hotel ficou em pedaços, mas em poucos dias, com a ajuda e todo o suporte que os pecadores deram, o hotel estava tão bonito quanto antes, já que agora havia muita ajuda para consertar até os mínimos detalhes.
O clima entre os moradores, tanto dos novos quanto dos que já habitavam desde o inicio estava melhor do que nunca. Charlie estava aprendendo a ser uma boa líder e estava se saindo muito melhor do que esperava. Todos a obedeciam e participavam de suas atividades, por mais bobas que fossem, já que eram reconfortantes pela sua simplicidade e carisma. Claro que não estava sendo cem porcento fácil, alguns pecadores ainda tinham vergonha, entretanto, com o apoio desajeitado de Husk, Angel e Vaggie, que entendiam a timidez inicial de praticar tais atividades, as coisas foram andando.
Lúcifer, apesar de estar acompanhando todo o processo só agora, ele podia ver a notável mudança e progresso do hotel, isso o deixava muito orgulhoso ainda mais sabendo que era sua filha que estava no comando de tudo aquilo. Ele nunca imaginaria que um dia alguém conseguiria mudar a mente de pecadores, poucos que fossem, já que o pecado era visto com luxúria e normalidade no inferno.
Ele também estava se saindo bem em relação aos moradores, estava criando amizade fácil, por mais que ainda fosse um tanto relutante e preferisse passar a maior parte do tempo sozinho. Entretanto, tinha uma única pessoa que ele se negava completamente em conversar: Alastor. O charme apavorante de Alastor o deixava irritado, principalmente porque a relação de Alastor e Charlie era bem melhor que a dele com Charlie. Tinha algumas razões para isso, mas ainda sim ele se sentia péssimo pois ele era o pai dela. Obviamente conforme ele passava os dias no hotel, ele tentou recomeçar sua relação com Charlie, e deu bastante certo, mas ele continuava se sentindo enciumado e ameaçado com a presença de Alastor. Todos o tratavam com o mínimo de respeito que fosse, já que ele não exigia nem um pouco em ser tratado como um rei, já que tal atitude não lhe agradava, mas aquele "paspalho de mal-caráter" -- como ele nomeava Alastor em sua mente -- nem sequer se esforçava para ser educado com ele, entretanto, para não causar stresse a si mesmo e nem para sua filha, ele passou a apenas ignorar a presença do dito cujo o máximo que conseguia, e aparentemente, o outro fez o mesmo.
Com esse acordo não-verbal de ignorar um ao outro, a tensão dos dois diminuiu muito, mas Charlie, carinhosa que era, percebeu essa atitude de ambos e até tentou comentar sobre com o pai para ver se havia alguma possibilidade de reconciliação entre os dois, mas Lúcifer prontamente recusou pois sabia que o outro não se esforçaria nem um pouco para manter uma relação mais amigável, o que Charlie concordou, chateada. Isso partiu o coração do rei, mas não havia nada que ele pudesse fazer.
Certo dia, numa manhã calorosa, Charlie pediu educadamente a todos que se reunissem no salão principal do hotel, anunciando uma nova atividade a ser feita, e dessa vez, exigiu a presença e colaboração de todos, já que Lúcifer era uma das pessoas que apenas observava as atividades serem feitas, mas nunca de fato participava. Charlie estava tão empolgada e convicta dessa tal atividade que ela fora até o quarto do pai mais cedo pedindo insistentemente que ele participasse dessa vez, e o rei, mole como era, não pensou duas vezes antes de aceitar, sentindo-se fragilizado por ela ter se dado o trabalho de pedir sua colaboração em particular.
Após a princesa ter sua confirmação de que todos estavam presentes, ela se pôs numa postura confiante com sua namorada ao lado e começou a explicar suas intenções.
"Bom dia a todos! Sei que hoje a reunião começou mais cedo, mas após conversar com Vaggie ontem, eu tive uma ideia calorosa que eu não pude deixar de compartilhar com vocês o mais rápido possível. Como vocês sabem, a musica é um elemento muito importante na vida de todos nós, ela sendo algo que presenciamos desde o nosso nascimento até o fim de nossa existência. A música não só nos faz bem intelectualmente como ela também pode servir como um objeto de auto-conhecimento e conexão com as pessoas, como no caso de bandas. O que eu quero pontuar é: eu recolhi diversos instrumentos para que vocês pudessem explorar seu lado artístico. Quero que vocês escolham um instrumento que sabem tocar ou que querem aprender a tocar e aprendam uma música para apresentar para todos nós no final do mês. Vocês podem agir em conjunto ou em solo." Charlie gesticulava empolgada, e quando finalmente parou de tagarelar, soltou um enorme sorriso ao perceber os murmúrios positivos e olhares interessados. "Podem escolher seus instrumentos."
Em poucos minutos todos haviam escolhido seus instrumentos e alguns até já tinham formado bandas. Estavam empolgados com a atividade, pois poder se expressar emocionalmente através de músicas não era algo tão aceitável no inferno, a não ser que a música fosse sobre sexo e drogas.
Lúcifer foi uma das pessoas que escolheu o trompete. Ele poderia ter facilmente escolhido o violino já que já sabia tocar, mas ele estava inspirado a tentar um instrumento novo, então escolheu o trompete mesmo que não soubesse nem o básico.
Após Charlie dar algumas dicas e finalmente encerrar a reunião, o rei foi em direção ao seu dormitório, porém, antes que entrasse em seu quarto, fora barrado pela sua filha, que tinha um sorriso inspirador no rosto, coisa que Lúcifer achava uma graça.
"Pai, vi que você escolheu o trompete. Escolha interessante. Tem algum motivo para ter escolhido?"
"Não de fato, apenas escolhi pois nunca toquei muitos instrumentos além de violino e piano. Sua ideia me deu a oportunidade de aprender algumas músicas novas." ele falou com um sorriso singelo no rosto, observando curioso o instrumento dourado que tinha em mãos.
"Eu estou muito empolgada para ver como você vai se sair. Qualquer coisa, você pode ir para a sala do andar debaixo que tem isolamento acústico, é onde a maioria das pessoas irão praticar."
"Acho que eu prefiro tocar no meu quarto por enquanto, as paredes são grossas então acho que não irá fazer tanto barulho, caso o contrário, me avise." a verdade é que ele estava morrendo de vergonha de tocar na frente das pessoas, ele preferia tocar mal sozinho do que tocar mal com várias outras pessoas o observando.
"Tudo bem. Eu irei retornar ao meu quarto, mas se você precisar de mim, é só me chamar." ela foi se distanciando aos poucos acenando para o pai, que retribuiu o gesto.
Agora ele estava sozinho dentro de seu quarto, sentado na cama com o trompete do lado. Ele havia aberto alguns vídeo aulas de como tocar aquilo, e não parecia tão difícil já que ele tinha a manha de outros instrumentos. Entretanto, ao botar em prática, ele percebeu que não estava saindo quase nenhum som, só um assopro terrível com um arranhado de som no final, era um barulho horrível, e provavelmente isso se derivava pela sua falta de controle respiratório, o que lhe deixou frustrado, mas não ao ponto de desistir. Então começou a ver mais vídeos explicativos e praticou quase a tarde toda. Estava tão determinado que sequer saiu de seu quarto para comer, mesmo que sua boca já estivesse ficando dormente e sua respiração, debilitada.
Quando finalmente decidiu dar uma pausa, ele pode ouvir um som deliciosamente ecoando do quarto de cima. Era piano, e tocava uma música suave de jazz, que Lúcifer não reconhecera já que era leigo quando o assunto se tratava de jazz ou músicas clássicas, porém o som que estava ecoando leve pelo seu teto o fez fechar os olhos e apreciar a música. Ele não sabia quem que habitava no quarto de cima, mas sabia que era uma pessoa extremamente talentosa. Então ele passou o resto de seu tempo escutando a pessoa tocar calmamente.
(Para quem quiser saber, a música era "I've Got A Crush On You", Ella Fitzgerald)
Nota: Uma dica que eu dou para deixar a leitura mais interessante é ouvir playlist de jazz dos anos 30/40, além das músicas que aparecem no título ou na história em si.
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Oh Al, amore.
FanfictionA música é um elemento de grande importância na vida de qualquer um. A música faz as pessoas se conhecerem melhor e as estimula intelectualmente, mas o mais cativante é a forma como ela une aqueles que compartilham a mesma paixão musical. E foi assi...