Capítulo 1 Vanu e Alicia

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Irritado com a vida, estava eu, sentado diante do sol abraçador naquela calçada, que me pregava das suas e já não sorria para mim, imaginando estar no meu colo o grande amor da minha vida.

Repousei os meus olhos sob as inúmeras paisagens enquanto, o sol de Abril brilhava e espreitava as janelas. Embriagava a nossa paixões e, todo aquele brilho, se reflectia na sedução dos nossos olhares.

Meu viver humilde e simples, com felicidade razoável, acalentava sempre a esperança de que o amanhã será melhor. A qualquer altura, aparecerá um amor para curar as feridas do tempo que trazem com elas as rugas da idade.

Não tardou, antes que o dia terminasse, e a noite chegasse a mergulhar no olhar da madrugada sonhadora, decide cogitar a realidade, procurar um novo amor, ou melhor, o amor que nunca tive.

As praias estavam mais coloridas, afinal nada melhor nas raças humanas que uma mistura de duas raças mães, a negra e a branca. O poente parecia cair no fim do horizonte, os cantos melancólicos das aves chamavam os amores desencontrados.

Por isso, naquela manhã escaldante, na maravilhosa marginal de Luanda, corria entre os trilhos do calçadão escorregadio pela chuva miúda que caía naquela altura. O meu olhar fixou a morena de olhos castanhos e negros, a uns cem metros, correndo em minha direcção. Parecia que tínhamos o controlo de tudo a nossa volta, quando por alguns instantes, perdemos o controlo, e nossos ombros embateram-se. Desviei-me dela e aquele desviou com gosto de amor e paixão a primeira vista, pela aquela negra morena, causou-me uma lesão grave ao joelho. Aliás, embati ao banco de mármore do calçadão.

Caídos no chão molhado do calçadão, levantei-me amparado pelo ombro da miúda e por seu olhar inocente, magro, quase oriental. Até parecia, pelo seu olhar, que estava sentido a mesma dor. Porém, o corpo macio dela, e o cheiro inebriante do seu perfume, era a anestesia perfeita que matava a minha dor.

É já ali, ao pé daquela travessa, à esquerda, no rés-do-chão daquele prédio, onde vivo e, ela, tirando a minha mão do ombro dela penetrou o seu olhar na profundidade da minha alma miúda. Parecia até dar mais luz ao meu coração vazio.

Senti naquela altura que encontrará o grande amor da minha vida, mas sua inocência, seu jeito de miúda desprotegida, deixava-me sempre a hesitar, ganhei coragem e disse-lhe então o meu nome: Vanu! sorriu-me instantaneamente e, câmara lenta, com seus lábios perfeitos cor-de-rosa deslizando deu-me dois beijos de apresentação. Pela primeira vez, ouvi a sua cintilante e refinada voz quando lhe perguntei qual é a sua graça? Alícia!

Naquele momento, elevaram-se os batimentos cardíacos, parecia até que minha energia de jovem desfalecesse, pois que aquela tamanha beleza aterrorizava-me positivamente.

O solstício de verão anunciava a noite, e num abraço chamejante, bem apertadinho despedi-me da donzela e da sua inocência e, com olhar de cacheche, via um sorriso miúdo no rosto dela, quando andava e virava para trás.

Guardei no meu intelecto aquela voz sensual, e aqueles lábios cor de vinho em chamas, bem como, a blusa branca transparente mostrando seus seios tesos e molhados.

Minha alma parecia agora mais atribulada, porque meu pensamento estava nela.

Meses depois e porque nunca mais a tinha visto no calçadão apercebi-me por um estranho que a canuca fora para a cidade do Huambo continuar os seus estudos, em ciências agrárias.

Minha esperança de rever a miúda começou a morrer porque a cidade do Huambo ficava a muitas milhas da cidade capital, o inverno já se fazia sentir, e nova Lisboa, nessa altura, tem sempre as ruas cheias de gente vinda de todos os pontos do país.

Amor proibido   E      IncestuosoOnde histórias criam vida. Descubra agora