Capítulo 4 - O casamento

18 1 0
                                    


Sentamos no nosso quintal, numa noite castanha, com a companhia do silêncio que bailava ao nosso redor, lembrávamos então dos momentos bons e maus que tínhamos vividos. Naquele mesmo momento, enquanto a entrada do luar afogava o sol cinzento, olhei profundo nos olhos da miúda, peguei na mão dela, ajoelhei perante os céus e as estrelas e todas as forças que lutavam contra e a favor do nosso amor beijei a mão demoradamente e pedi-lhe em casamento.

Senti que o céu escureceu, parecia ser a voz divina negando, dizendo não, mas o amor é cego. Ela sorria sem parar, parecia-me perdida sem saber o que dizer. As lágrimas dela varriam cidades.

Por último parou de chorar, suspirou profundo deu-me um beijo intenso, ia eu aceito! mor, o aceito gritou ela, naquele jeito dela de menina perdida e apaixonada.

Parecia mesmo que a sepultura estava cavada e estávamos só esperando o dia da morte para o enterro se consumar, a maldição lá de cima parece que estava consumada, porque o nosso amor tinha passado todas as fronteiras proibidas.

Já não havia fronteiras para romper era só agora esperar pela voz da desgraça, para consumar nosso desfalecer, para falecermos aos olhos do mundo porque até o perdão divino parecia estar mais longe de nós, corria a passos gigantes, sem chance de a gente apanha-lo e reparar o erro que era enorme.

Lembrei-me de Canqueliva. Lá existem boas e maravilhosas praias limpinhas de Natureza, acertamos tudo e decidimos que o casamento seria lá, ai onde vivi grande momentos com meu primeiro amor, a mãe dela, viajou para lá e mal chegamos a aquela maravilhosa cidade veio às recordações de Alícia e minha mente naquele instante parecia perturbada, mas o amor que eu sentia pela Jéssica era maior e bastava um abraço um beijo dela, para me desmontar e esquecer todas as lembranças que eu vivera naquele paraíso.

O cenário estava preparado os convidados estavam chegando, cada um a seu estilo e todos bem grifados, uma verdadeira gala a beira-mar, como é hábito, convidamos um padre católico para consagrar a nossa união.

A tia dela que tinha a idade inferior a dela segurava-a a mão e entrava de mãos dadas com a miúda dos meus olhos, a miúda que me cegava. Nunca em toda minha vida tinha visto mulher linda como ela parecia até que meu amor de pai juntou-se com minha paixão de marido bobo e apaixonado.

Juro que naquele instante mesmo que se dissessem que era minha filha e era proibido aquele casamento eu não aceitaria, era uma verdadeira enciclopédia de beleza a entrar e a rebolar naquele seu andar. Ela vinha em minha direcção, parecia que aqueles 50 metros que nos separavam eram infinitos.

Até que em fim ela chegou e segurei-a na mão esquerda. Estávamos agora perante o padre para oficializarmos o nosso amor proibido, o nosso incesto.

E lá suou a voz do padre se alguém tiver algo contra este acto que estamos a realizar, que se manifeste ou cale-se para sempre.

A sala permanecia muda, um silêncio trombudo comparado só com o silêncio dos túmulos, de repente uma ventania estranha varria a praia onde estávamos pareceu-me ver Alícia passar entre a ventania, era o espírito da Mãe dela que estava a passar por ai e como a sua voz já era muda e os gestos dela já não eram visíveis a terra firme. Ela decidiu manifestar-se através da Natureza.

Quando a ventania passou, havia no fundo do salão um remoinho que não parava. Era Alícia a lamentar pela nossa loucura e sentimos na sala ao ar livre da praia uma voz dizendo não, não concordo com este casamento, incestuoso, e a sala pôs-se a rir porque ouvíamos a voz e não víamos a pessoa, parecia uma brincadeira ensaiada pelos nativos de Canquiliva que estavam a organizar o casamento e era sempre comum na tradição daquela ilha fazer surpresas aos noivos.

Amor proibido   E      IncestuosoOnde histórias criam vida. Descubra agora