2 - Querido déjà vu

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Naquela tarde, Shinji decidiu fazer uma caminhada. Ele não tinha exatamente um destino, só pegou o seu walkman e foi um pouco depois da aula terminar. A esse ponto, o sol já estava começando a se pôr e o céu já estava alaranjado.

Shinji decidiu parar um pouco em um lugar da estrada no qual ele esteve com Misato a alguns dias atrás, se apoiando no corrimão e olhando a vista. Era realmente bonito, o jeito no qual os prédios escureciam com a luz amarelada.

Neo Tokyo-3 era uma cidade até que bonita. Talvez ela tivesse sido mais bonita um dia, antes dos anjos aparecerem. Uma cidade normal, como a que ele e seu professor moravam.

Essa é a cidade que eu moro. A cidade que eu protejo. O lugar que eu mais quero sair...

A música n° 25 terminou. Ele volta a fita até a primeira música novamente, antes que a música n° 26 pudesse começar a tocar.

Era engraçado. Muitas coisas mudaram desde que ele veio pra esse lugar, mas uma que nunca mudou foi que ele nunca escutava a música n° 26. Shinji não sabia o porquê ele fazia isso, mas desde que ele descobriu como usar o antigo walkman do pai, ele nunca escutou nenhuma música acima dessa.

Shinji solta um suspiro. Ele precisava chegar em casa logo, mesmo que ele não quisesse. Misato iria se preocupar e Asuka ia ficar enchendo o saco dele. E era o dia da Misato fazer a janta. E ele ainda tinha suas tarefas da escola, e...

Do seu lado, Shinji escuta alguém cantarolando. Ao olhar para a fonte do barulho, ele vê um menino que parece ser perto da idade dele, com cabelos aparentemente quase brancos, e uma pele pálida como a de Ayanami. Ele estava com os olhos fechados, com os braços apoiados nas barras. O vento fez um leve movimento em seu cabelo.

De onde ele veio? Eu não consegui ouvir ninguém vindo...

"Como é bom cantar, não é?" ele diz. "Cantar enriquece a alma. É o maior feito da civilização criada por Lillith." Ele abre os olhos. Talvez seja a luz, mas eles parecem ser vermelhos, também como os de Rei.

Shinji continua olhando confuso pra ele.

"Você não acha," o menino olha para ele ", Shinji Ikari?"

A menção de seu nome o atentou. O garoto o olhava como se os dois se conhecessem de algum lugar, mas ele não se lembrava nem de ter visto esse garoto por aí, ele certamente iria lembrar de alguém com uma aparência tão peculiar.

Realmente, os olhos dele eram vermelhos. Mas de algum jeito, pareciam ser mais... vivos dos que de Ayanami. Será que eles eram parentes ou algo do tipo?

Shinji percebeu que estava só encarando ele, e não havia respondido nada. "Como- como você sabe meu..." "Todos sabem seu nome." ele foi interrompido pelo menino pálido. "Sem ofensa, mas acho que você devia ter mais consciência da sua posição."

"Você acha?" A única resposta dada foi um sorriso e uma risada discreta. "E... quem é você?"

"Kaworu. Kaworu Nagisa." Ele respondeu. "Sou uma das crianças do projeto, como você. A quarta criança."

Shinji se surpreendeu. "Quinta criança? Eles não falaram nada sobre isso com a gente..."

Kaworu riu. "Era esperado. Eu vim antes da hora, era pra eu ter vindo daqui uns 5 meses."

"Ah... Você é de onde, Nagisa?" Shinji perguntou.

"Eu vim da Alemanha, como a segunda criança." Ele inclinou a cabeça "A propósito, pode me chamar só de Kaworu, Ikari."

Shinji corou e desviou o olhar, olhando para frente. "Ah, nesse caso você pode me chamar de Shinji também."

Kaworu apenas riu e fechou os olhos quando olhou para frente de novo. O vento veio novamente, e ele respirou fundo, enquanto Shinji o observava.

"Você já conheceu a Asuka então?" ele pergunta.

"Não, apenas ouvi falar dela. Me disseram que ela tem uma personalidade forte."

Ele solta ar pelo nariz. "É, muito forte mesmo."

Geralmente, Shinji não gosta quando fica um silêncio no meio de uma conversa, mas agora ele parecia natural.

"Você conhece a Ayanami? É- Rei Ayanami?" Shinji pergunta.

O menino abre os olhos e olha na distância. "...Não. Já ouvi sobre ela, mas não sei quem ela é de verdade."

Mais silêncio predomina o ar enquanto os dois veem o céu na distância. O sol agora já está quase se pondo, e a vista continua bonita... Mas Shinji tem que voltar. Está ficando escuro, e daqui a pouco já a Misato iria começar a achar que ele fugiu de novo.

Shinji tira os braços do apoio. "Eu... preciso ir. Tá ficando tarde. Foi bom te conhecer... Kaworu."

Ele se vira e sorri. "Até mais, Shinji."

Shinji sorri e se volta para a estrada, traçando o caminho até sua casa mentalmente.

Ao mesmo tempo que aquele menino era meio esquisito... Tinha alguma coisa estranhamente familiar nele. Como se eles já tivessem se conhecido antes, ou algo do tipo.

Talvez seja só impressão, não tem como esquecer alguém assim. É melhor ele começar a voltar pra casa.


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Kaworu encarava as costas de Shinji enquanto o mesmo ia para longe, lentamente desaparecendo do seu campo de vista. O céu já havia escurecido faz um tempo, dando espaço para as primeiras estrelas da noite. Isso, até os postes começarem a iluminarem o lugar, dificultando a visão.

Era como ele se lembrava. Shinji Ikari realmente existia fora de seus sonhos, e era tão adorável quanto neles. Pelo momento no qual os dois se falaram, parecia como se seu sangue tivesse acabado de começar a fluir pelo seu corpo. Uma sensação de pertencimento.

Ele ouviu falar uma vez que o nome para isso era Déjà vu. Exceto que, nesse caso, era só uma sensação de ter uma memória. O que Kaworu tinha era certeza que alguma coisa aconteceu entre eles em outra vida.

De qualquer jeito, ele também precisava voltar. Ele tinha muito o que fazer pela frente.

Quebra de uma profecia [Evangelion, Kawoshin]Onde histórias criam vida. Descubra agora