II

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  Estou simplesmente a quase 30 minutos olhando para este colar, como se ele me deixasse hipnotizada, o que me faz pensar que sou louca. Eu queria colocar em minha mente que ele estava pendurado na árvore e que não 'descolou' dela assim que o toquei.

  Começo a sentir algo tão estranho, como um arrepio na minha espinha. Meu corpo começa a tremer de forma leve. Acontece uma sensação esquisita no meu corpo, é difícil explicar, não é uma sensação ruim, é algo estranhamente bom.

  Na minha mente surge uma imagem verdadeiramente fascinante e surreal. Estou flutuando em um céu lilás desprovido de pássaros, mas, em vez deles, vejo peixinhos dourados voando em círculos ao meu redor. Tento tocar um deles, mas ele se afasta antes que eu possa alcançá-lo. De repente, todos os peixes tentam me atacar voando em minha direção, porém apenas roçam em mim, sem chegar a me tocar.

  Subitamente, não estou mais flutuando, mas sim caindo. Quando percebo, estou submersa em água azul turquesa, e novamente é muito estranho. Não há peixes, tubarões ou qualquer ser marinho na água, mas sim pardais, beija-flores e... um avestruz?

  Sinto algo agarrar meu pé e me puxar para baixo. Tento gritar, mas as únicas coisas que saem da minha boca são nada mais que bolhas, roubando rapidamente o meu fôlego. Minha visão escurece e depois abro meus olhos novamente, percebendo que ainda estou em cima daquela árvore.

  Continuo a olhar o colar, foi ele quem me fez imaginar isso? É ele quem me trouxe aquela sensação estranha? Por que é o colar de quando eu era menor? Como ele veio parar aqui? São tantas perguntas que minha cabeça pesa.

  As mãos vão tremendo. O que está errado? O que está se movendo? Por que tudo parece tão estranho? Por que tudo é tão familiar? Por que isso, esse colar?
As pernas começam uma sensação que parecie se sentir em gravidade zero. O braço que tem o colar começa a tremer, e a gravidade parece estar puxando cada vez mais para o chão.
Os olhos, sem qualquer motivo, também parecem estar ficando mais e mais pesados. A mente começa a ficar confusa.

  Quando os olhos não estão mais pesados, o tremor some e a sensação vai embora, sinto uma ardência no joelho e no cotovelo. Abro os olhos lentamente e percebo que estou estirada no chão como uma vitima de assassinato.

  Com um esforço considerável, ergo-me do chão, sentindo a dificuldade em meu joelho que, embora não estivesse ralado, exibia um tom roxo resultante da pancada. Retiro a poeira das roupas e ajeito os cabelos desalinhados.

  O bservo ao redor e constato que o local está deserto. Arremesso o colar o mais longe que minha força permite. Estou tomada por um sentimento de ódio em relação àquela peça, sem razões apenas um intenso sentimento de raiva.

  Caminho lentamente em direção à casa, mancando devido à dor no joelho. Os pensamentos sobre o garoto retornam à minha mente: como será a sua estadia? Como ele se comportará? Quais serão suas características? Será que vamos confundi-lo no aeroporto e ele ficará perdido lá? Talvez eu esteja ficando um pouco paranoica.

  Nunca recebemos intercambistas por aqui, o que me deixa insegura quanto à forma de agir, ao que dizer e como será a convivência. No entanto, talvez eu consiga me adaptar a isso... pelo menos é o que espero.

  Ao me encontrar a apenas duas ruas de casa, percebo um pequeno peso em meu bolso e imediatamente coloco a mão dentro do mesmo. Impossível, não pode ser... o colar está ali, mas como? Eu o arremessei o mais longe que pude.

  Olho ao redor e avisto uma lata de lixo, dirigindo-me rapidamente até ela. Deposito o colar no interior da lata e fecho a tampa. Agora ele está confinado em um espaço fechado, não sairá dali... pelo menos é o que espero.

  Enquanto retorno para casa, sigo o caminho tranquilamente e, para a minha surpresa, me deparo com o meu gato, que estava desaparecido desde antes do início das aulas de hoje. Ele surge subitamente, como se tivesse acabado de sair de um esconderijo misterioso, e logo o pego no colo. A pelagem dele brilha sob a luz dos postes da rua revelando um mistério que só os gatos sabem guardar.

- Como vai, Plagg? Você sumiu logo depois que eu servi seu café da manhã. - o gato coloca a pata em cima de meu cotovelo machucado - ai! Isso dói, pare com isso!

  Com cuidado, coloco o gato no chão ao chegar em frente à casa, ansioso para abrir a porta devagar, temendo qualquer ruído que acordasse minha mãe. Sinto Plagg roçando suavemente pelas minhas pernas, ansioso para entrar em casa. Assim que ele passa, fecho a porta suavemente, para que não faça barulho. Para minha tristeza não tenho curativos, mas tenho poupa de fruta congelada, melhor do que nada. Abro o congelador pegando algumas, Em seguida, vou para o meu quarto, a dor agora esta um pouco mais forte que antes, o que me arranca algumas reclamações baixinhas.

  Descanso na cama por alguns minutos, tentando ignorar a dor latejante no corpo. Plagg se acomoda ao meu lado, ronronando suavemente como se isso tentasse tirar minha dor. Aos poucos, o frio das poupa de fruta congelada alivia a dor e consigo relaxar um pouco. Enquanto descanso, penso em como explicarei para minha mãe o que aconteceu e tento planejar a desculpa perfeita para não preocupá-la.
 
  Depois de um tempo, a dor diminui o suficiente para eu conseguir levantar e tomar um banho. Depois de 15 minutos saio do banho, visto o meu pijama e vou até a janela fechar a cortina. Antes que eu pudesse fechá-la sinto alguma coisa atingindo minha testa com força, o que me faz cair sentada no chão.

  Olho para o chão e ao meu lado esta o colar. Eu estou maluca, só posso estar maluca! isso é maluquice! Isso é loucura! É impossível! Não consigo acreditar nisso. Talvez eu tenha dito coisas do tipo "maluquice" em excesso...ou eu quem estou maluca demais, ok, parei.

  Imagens vem a tona em minha mente, como vários flashs de várias câmeras quais te deixam desnorteada ao ponto de não conseguir diferenciar o real do imaginário. 

  Meus olhos começam a pesar, começo a ter a sensação que meu corpo esta flutuando, minha visao começa a escurecer, a cabeça começa a doer e sem perceber, estou desmaiada.

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