𝐈𝐫𝐢𝐬-09

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Hollywood, 1995

A tão esperada sexta-feira tinha chegado e com ela a todos os compromissos dos Peters: Audição para Dom Quixote e primeiro dia da gravação do álbum da Sunset Curve. Não eram muitos, mas a importância fazia com que parecessem ao menos dez!

O teste acabou sendo marcado pela manhã, impedindo Rose de ir às aulas e como seria rápido, de usar o carro. Reggie e os garotos seguiram suas rotinas normalmente, encontrariam com ela apenas à tarde, na gravadora.

Rosemary estava extremamente nervosa porque teria de dançar o Desafio de Kitri, que exigia um forte temperamento, técnica e agilidade...  Não era como se ela não tivesse treinado até a exaustão por semanas, mas os giros ainda eram um grande problema com uma sapatinha gasta. Neste instante, a bailarina estava aguardando ansiosamente no corredor de espera, usando um papel alfinetado em seu collant com o número 018. Ao seu lado tinham garotinhas de no máximo doze anos conversando animadamente sobre seu espetáculo, escola e garotos... Refletira que mesmo em períodos tão diferentes da vida, elas ainda compartilhavam muito.

Suas reflexões foram interrompidas por Renné chamando:

- Número dezoito, audição para Dom Quixote.- Ouviu um burburinho das pequenas bailarinas e recordou de quando era como elas e  assistia às aulas das mais velhas... Hoje ela era a mais velha. Riu anasalado.

- Bom dia. Apresentarei o Desafio de Kitri.

A melodia iniciou e Rosie não perdeu sua deixa, saltava e dançava veementemente, sua mente e corpo estavam a mil. Os pas de chat foram bem sucedidos, assim como o primeiro developpé  e as piruetas,  todos os saltos bem executados, ela estava confiante, tudo estava sob controle. Quando menos esperava, sua sapatilha cedeu e seu pé virou completamente para o lado, um som extremamente alto veio de seu tornozelo direito, assim como uma dor absurda que a derrubou no chão, chorando.

- Rosemary, está tudo bem?- Renné desligava o som, enquanto agachava na altura da menina.

A bailarina apenas resmungava, seu tornozelo estava realmente doendo muito, mas sua mente e seu choro não estavam concentrados naquele simples fato. Um tornozelo quebrado significava nada de dançar por tempo indeterminado, nada de shows, nada de passeios, nada de alegria ou sucesso... Tudo parecia desaparecer como um sonho...

Chamaram seus pais para acompanharem ela no hospital por ser menor de idade e neste momento os três estavam em silêncio na sala de espera, depois de alguns exames de imagem. 

- Rose, como aconteceu isso?- Sua mãe depositou a mão sobre a sua, delicadamente.- Você dança há anos e nunca se machucou assim antes...

- Minha sapatilha estava velha e gasta... Eu deveria ter comprado uma nova depois de treinar tanto com ela, mas eu não tinha dinheiro o suficiente e... Agora eu não posso mais ser a Kitri. Não posso mais dançar, o que eu vou fazer da minha vida?- Olhou desesperada para a mãe com lágrimas nos olhos.

- Rosemary, por que não pediu pra eu comprar a tal sapatilha para você?- Seu pai perguntou disfarçando a irritação. Joseph sempre achou que a filha se comprometia com atividades demais e que alguma hora aquilo a prejudicaria. Infelizmente ele tinha razão.

-Não queria incomodar, achei que ela ainda duraria mais um tempo... Me desculpe.

- Não culpe Rosie, Joseph. Você nunca se importou com o ballet dela, muito menos com o que ela precisa. Quem sempre levava Rosemary para as aulas e comprava as coisas era eu. Não tente bancar o pai agora!

- A quantas apresentações você já foi, Agatha? Quantos shows dos meninos você assistiu? Nenhum! Não vem me falar que apoia nossos filhos mais do que eu!

𝑯𝑬𝑨𝑽𝑬𝑵- 𝑳𝒖𝒌𝒆 𝒑𝒂𝒕𝒕𝒆𝒓𝒔𝒐𝒏 ®Onde histórias criam vida. Descubra agora