Luna

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As vezes eu me pergunto em que ponto da minha vida eu me desviei e cheguei onde eu estou. Sério, eu venho de uma família tradicional, diria até que privilegiada - não por ter dinheiro, já que meus pais e parentes são todos de vida humilde, mas só pelo fato de que tenho pais ainda casados, diria que é um GRANDE privilégio -, então como foi que me tornei isso?
Termino de limpar o resto de sangue do chão e tirar qualquer vestígio do que possa ter acontecido aqui, esse homem tinha que espernear tanto? O cliente da vez foi bem exigente com o que teria que ser feito e, apesar de eu não apreciar tanto a tortura, dinheiro é dinheiro. Geralmente eu não entro em detalhes dos motivos pelos quais meus clientes querem que eu mate alguém, mas dessa vez me bateu uma curiosidade e fui pesquisar mais sobre a vida do desgraçado que eu acabei de torturar. Miguel Barros, 37 anos, trabalhava como gerente de uma empresa que eu nem me dei o nome de guardar, era casado e claro, traiu a sua esposa tantas vezes que a coitada acabou contraindo uma IST. A mulher era tão inocente que achou que tinha contraído em uma consulta de rotina com o ginecologista, pois o canalha do seu marido bateu tanto nela que acabou a convencendo de que a culpa era dela pelos dois estarem doentes, patético. Não me entenda mal, eu não ligo muito sobre quem eu mato e muito menos se eles tem família ou não, mas esse mereceu cada maldito segundo do que eu fiz.
Olho em volta e já me sinto exausta, a pior parte é ter que limpar toda a sujeira e descartar o corpo, principalmente quando o morto em si é o dobro do seu tamanho. Solto um suspiro e começo a me esticar, ainda tenho 3h para voltar para a minha casa e terminar o trabalho da faculdade que o professor pediu para amanhã. É horrível ter que conciliar a faculdade com meu trabalho de verdade e esse aqui, não vejo a hora das férias chegarem e eu finalmente descansar.
Penso em acender um cigarro mas isso significaria limpar mais coisa e logo desisto, tenho que parar com esse hábito antes dos meus pais descobrirem e me darem 2h de sermão sobre o quão mal o cigarro faz. Olho para o celular descartável que eu comprei e vejo novamente o vídeo que eu gravei da tortura e dou um sorriso, o desgraçado mereceu cada segundo disso e porra, eu sou excelente no que eu faço.
Envio o vídeo para o meu cliente e aguardo a transferência do dinheiro aparecer na minha tela, não demora muito e recebo uma mensagem do cliente agradecendo e mandando o comprovante da transferência. Claro que o dinheiro está indo para outra conta, não sou tão idiota de deixar que me achem tão facilmente.
Vou andando em direção ao carro que eu comprei em um site de usados. O comprador ficou tão feliz quando viu que eu pagaria a vista que nem questionou pra quem era. Em tese, eu não tenho habilitação sendo assim eu nem poderia ter um veículo, mas meu pai me ensinou a dirigir pois caso tivessem uma emergência, eles poderiam contar comigo. Não era um carro incrível, mas tinha um porta-malas maravilhoso que era exatamente o que eu precisava. O corpo já está lá, drenei o sangue dele para dificultar caso achem o corpo e descartei aqui perto junto com o que eu acidentalmente acabei arrancando e entro no carro.
Escolhi esse armazém em especifico pois além de abandonado, eu verifiquei antes e o lugar era usado como depósito para armazenar algum tipo de fertilizador natural, mas o dono faliu e teve que vender tudo, porém, vi que rondavam histórias sobre esse lugar sobre o dono, que ele matava pessoas e usava os restos para usar na receita secreta e ajudar a potencializar na fertilização, então os possíveis compradores tinham medo de comprar o lugar pois diziam que era mal assombrado pelos espíritos - quase ri da ironia, se o tal dono matava ou não, só Deus sabe, mas pelo menos os mortos deles agora tinham companhia, os meus. O lado bom era que o armazém ficava em um lugar remoto da cidade e mal tinha sinal de celular aqui, então muitos animais que viviam perto acabavam facilitando na hora de desovar os corpos, e de quebra eu ainda ajudava a natureza e alimentava alguns bichinhos, vê se eu não sou uma boa pessoa no final das contas?
Vou até o local de costume e despacho o corpo já devidamente separado e sem roupas para a natureza fazer o seu papel. As roupas eu já havia deixado perto de um morador de rua antes de vim para cá e vesti Miguel com outras que eu peguei em um bazar qualquer. Sequestrar o idiota foi tão fácil que eu ganhei tempo para conseguir me livrar das suas roupas e qualquer outra coisa que ajudasse a identificar o corpo dele, o cara é tão prepotente que só percebeu o que estava acontecendo quando era tarde demais. Volto para o carro, limpo novamente o porta malas e volto para o banco do motorista, e logo lembro do trabalho da faculdade, por quê eu tive que escolher cursar direito mesmo? Inferno de querer mudar de vida de maneira honesta, bom não tão honesta mas tudo bem.

Lose ControlOnde histórias criam vida. Descubra agora