Cai no canto da sereia

oportunidade

Point of view of S/n

Enquanto o vento suave da noite acariciava os meus cabelos, eu me encontrava deitada no gramado, perdida em pensamentos. O céu estrelado se estendia infinitamente acima de mim, pontuado por uma lua cheia que derramava sua luz prateada sobre a casa. O eco das palavras do apresentador ainda reverberava em minha mente, anunciando os imparedados da semana: Thalita, Davi e Juninho.

Não era segredo que os laços na casa se tornavam frágeis quando se tratava de formações de paredão. A atmosfera que pairava sobre nós depois do programa ao vivo era densa, carregada de tensão e incerteza. Todos estavam imersos em seus próprios pensamentos, ponderando estratégias e alianças em meio à pressão de uma possível eliminação.

Olhei para as estrelas, buscando algum tipo de orientação ou clareza em meio ao turbilhão de emoções. Não tinha nada pessoal contra nenhum dos imparedados; afinal, estávamos todos aqui para jogar e alcançar nossos objetivos. Mas a verdade era que a eliminação de qualquer um deles poderia impactar diretamente o rumo do meu próprio jogo.

Decidi me afastar do grupo, buscando um momento de solidão para refletir sobre as minhas próximas jogadas. A grama macia sob mim oferecia um conforto reconfortante, enquanto o silêncio da noite me envolvia em sua tranquilidade fugaz. Era hora de traçar estratégias, de analisar alianças e de preparar-me para os desafios que estavam por vir.

Enquanto eu estava mergulhada em meus próprios pensamentos, uma voz suave interrompeu minha introspecção. Era Yasmin, colocando-se ao meu lado no gramado. Seu perfume delicado misturava-se com o aroma fresco da noite, criando uma sensação de conforto ao meu redor.

— Em que você tanto pensa? — perguntou ela, sua voz carregada de curiosidade e preocupação. Eu podia sentir o calor de sua presença ao meu lado, e isso me trouxe um certo conforto em meio à tempestade de pensamentos.

—  no jogo, em você, na gente, em tudo — respondi, desviando meu olhar das estrelas para encontrá-la diretamente. Seus olhos escuros brilhavam sob a luz da lua, refletindo a profundidade de suas próprias reflexões. Era como se, naquele momento, estivéssemos conectados não apenas pelo jogo, mas também pelos nossos sentimentos compartilhados e pela busca por clareza em um mundo de incertezas.

Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas para expressar o turbilhão de emoções que me inundava. A noite parecia congelar ao nosso redor, suspensa em um momento de intimidade e vulnerabilidade compartilhada. Era um momento fugaz, mas significativo, que eu sabia que guardaria comigo, independentemente do que o futuro reservasse.

O tom de sua voz revelava uma mistura de confusão e nervosismo, enquanto Yasmin buscava entender o significado por trás das minhas palavras. Seus olhos escuros fixaram-se nos meus, procurando por qualquer sinal de clareza ou revelação.

— Como assim na gente? — perguntou ela, sua voz trêmula com a ansiedade de saber mais. Eu senti um aperto no peito, percebendo que talvez tivesse revelado mais do que pretendia. Era como se estivéssemos dançando na corda bamba da honestidade, equilibrando nossos sentimentos com a necessidade de manter as aparências no jogo.

— Ah, não é nada demais — respondi, tentando desviar o assunto da conversa. — Estava apenas pensando na nossa amizade, em como é bom conversar contigo. — Minhas palavras soavam cuidadosamente escolhidas, um véu que encobria as emoções mais profundas que eu guardava dentro de mim.

Percebi que estava prestes a revelar coisas que poderiam mudar o rumo das coisas entre nós, algo que não podíamos nos dar ao luxo de fazer no ambiente competitivo em que estávamos inseridos. A linha entre a verdade e a estratégia ficava cada vez mais tênue, e eu sabia que precisava ser mais cautelosa se quisesse manter minha posição no jogo e preservar os laços que havíamos construído até então.

O momento se desenrolava enquanto estávamos sentadas no gramado, envoltas pela escuridão da noite. Yasmin lançou a pergunta inesperada, e eu pude sentir a surpresa refletida em minha expressão enquanto me esforçava para compreender suas verdadeiras intenções.

"Você ficaria com alguém da casa?", sua voz suave rompeu o silêncio, criando uma onda de expectativa entre nós. Eu me peguei avaliando cada gesto, cada inflexão em sua voz, em busca de pistas sobre o que realmente a motivava a fazer essa pergunta agora.

A hesitação pairou no ar enquanto eu tentava formular uma resposta adequada. Por que ela estava perguntando isso? Será que havia algum motivo oculto por trás desse interesse repentino?

— Por que a pergunta? — devolvi, buscando entender suas intenções. Enquanto aguardava sua resposta, o som suave da noite envolvia-nos como um manto, adicionando uma camada de mistério ao nosso diálogo.

— Ah, não, nada demais — respondeu ela, sua voz suavizando-se à medida que ela se aproximava de mim. — Só curiosidade mesmo. — Sua presença próxima acrescentava uma nova dimensão ao momento, e eu me encontrava lutando para decifrar os segredos por trás das suas palavras e ações.

Enquanto a noite prosseguia, era claro que o jogo não se limitava apenas aos muros da casa; estava acontecendo entre nós, em cada troca de olhares e em cada palavra cuidadosamente escolhida.

Nossas vozes se fundiram suavemente com a noite enquanto eu respondia, deixando escapar um sorriso leve diante do apelido carinhoso que ela me atribuíra.

— A sereia é bem curiosa — comentei, adotando o apelido com um toque de afeto. Minha proximidade aumentou enquanto eu me aproximava dela, buscando compartilhar o calor reconfortante de nossa conversa íntima.

— Sim, sou uma sereia muito curiosa — concordou ela, sua voz ecoando suavemente no ar noturno. — Mas estou com curiosidade em outra coisa neste momento. — A tensão entre nós cresceu à medida que ela se aproximava ainda mais, nossos rostos agora a apenas centímetros de distância.

Eu podia sentir sua respiração quente contra minha pele, um lembrete constante da eletricidade que dançava entre nós naquela noite.

Cada batida do meu coração parecia ecoar no silêncio, enquanto eu lutava para manter minha compostura diante da proximidade avassaladora de Yasmin. Era como se estivéssemos suspensas em um momento fugaz, envoltas pela escuridão da noite e pelo peso das palavras não ditas. O jogo continuava, não apenas entre os muros da casa, mas também entre nós, em cada olhar compartilhado e em cada toque sutil que nos aproximava ainda mais.

Minha voz escapou quase como um sussurro, carregada de antecipação enquanto eu ecoava a pergunta dela: —Em que você está com curiosidade? — Antes que ela pudesse responder, nossos corações pareciam bater em uníssono, cada batida ecoando no ar noturno como um segredo compartilhado entre nós.

Mas o silêncio foi interrompido abruptamente pela chegada de Alane, que se juntou a nós no gramado, puxando um assunto aleatório como se não tivesse percebido a tensão palpável entre nós.

Um suspiro escapou dos meus lábios enquanto eu tentava recolher meus pensamentos dispersos, disfarçando a decepção momentânea com a chegada inoportuna de Alane. Era como se o momento fugaz de intimidade tivesse sido arrancado de nossas mãos antes que pudéssemos explorá-lo plenamente.

Por um instante, trocamos olhares fugazes, compartilhando uma compreensão silenciosa do que poderia ter sido. Mas então, como se acordando de um sonho, voltamos nossa atenção para Alane, forçando um sorriso polido enquanto nos envolvíamos na conversa casual que ela iniciara.

Enquanto a noite prosseguia, a sensação de oportunidade perdida pairava no ar, uma sombra discreta que nos lembrava da efemeridade dos momentos preciosos. O jogo continuava, não apenas dentro da casa, mas também entre nós, em cada interação e em cada interrupção que desviava nosso curso.