My Sweetie Pinetree

16 - Casa

- Finalmente casa - Bill se joga no sofá suspirando.

Passamos algumas semanas na dimensão do Plástias, os médicos falaram que seria perigoso atravessar dimensões na minha condição, então tivemos que esperar eu melhorar. Atualmente, estou muito melhor, só foi recomendado eu não fazer muito esforço e evitar situações de estresse.

Me sento ao lado de Bill olhando em volta, "casa", esta é a casa dele, o lugar que ele chama de lar.

Durante muito tempo, percebi um acordo não-verbal entre nós sobre não falar sobre o passado, então eu sempre acabava engolindo essas coisas, mas durante o hospital eu recebi ajuda psicológica e apesar do curto tempo fez eu perceber que era hora de conversar.

- Bill... Essa é a sua casa, não a minha.

- O que você quer dizer? Você mora aqui também, isso não é o suficiente pra ser sua também?

- Bill, o que você considera casa? - Eu me sento ao seu lado, suspirando.

- Sei lá, o lugar que você dorme, vive, que tem suas coisas - Ele dá de ombros - Uma estrutura que abriga pessoas?

- Talvez... Mas pra mim, casa é onde você se sente bem, acolhido, onde sua família está - Falo com a voz calma mas exalando nervosismo, sentia meu coração batendo assustadoramente rápido.

Vejo Bill respirar fundo e se virar em minha direção, ficando de frente para mim no sofá, pelo seu olhar, ele entendeu onde eu pretendia chegar.

- Pinetree, o que mais eu posso fazer? Você já tem tudo do bom e do melhor, eu te dei videogame, celular, um bom quarto, comida de qualidade - Ele vai listando, mas eu o interrompo.

- Não se trata de coisas físicas Bill, eu fiquei... Feliz com essas coisas, mas eu quero minha família, eu sinto falta da minha irmã, assim como você devia sentir falta do seu irmão.

- Não, isso não - Bill se levanta e começa a se afastar, eu me levanto indo atrás dele.

- Bill! Você não pode ignorar pra sempre que eu tenho uma vida longe daqui, pessoas sentem minha falta!

- Eu não ligo! Quando você fez um acordo comigo você sabia disso - Ele diz servindo um copo de água na cozinha.

- Você ameaçou matar quem eu amava! Eu não tinha escolha! - A raiva estava começando a se fazer presente na minha fala, ele sempre diz como se eu saísse ganhando no acordo, como se eu tivesse muita escolha.

- Vocês me mataram pra começo de conversa! Eu estava no meu total direito - Bill deixa o copo na pia e sobe as escadas, eu subo atrás.

- Direito???? Você queria dominar a minha dimensão inteira, você iria matar vidas inocentes, se achava tanto assim no direito?

- E isso importa? A gente tava indo bem Pinetree, pra que voltar no passado? Ninguém gosta do passado, todo mundo gosta do futuro - Ele diz desfazendo a mala irritado.

- Você sempre evita falar do passado, mas não é simples assim, tem coisas no passado que você não pode ignorar - Eu digo o observando.

A campainha toca e nós dois nos olhamos, eu desço as escadas para atender a porta, quando abro a mesma, vejo Theo.

- MASON! - Ele me abraça imediatamente e eu não consigo evitar um sorriso, mesmo que ainda tenha resquícios de raiva em mim - Eu to tão feliz que você tá bem, eu estava tão preocupado.

Faço carinho no rosto do Theo sorrindo fraco, porém quando ouço os passos de Bill descendo as escadas, me afasto.

- BILL CIPHER! - Theo grita seu nome e eu vejo Bill revirar os olhos dando meia volta, mas Theo consegue agarrá-lo pela gola da camiseta antes dele subir.

- Oi Bekergan, quanto tempo né? Poderia ser mais - Ele fala com deboche.

- Como você deixou isso acontecer com ele Bill? O Dipper estava sobre sua responsabilidade! Você acha mesmo que é um dono tão bom assim, com o seu servo sendo sequestrado e torturado?? - Os punhos de Theo cerram e o vejo apertar a gola de Bill.

- Isso é um problema meu, não seu - Responde Bill sem paciência - O que foi? Tá com ciúmes pelo Pinetree ser meu? Inveja por eu ter o que você não tem?

- Eu nunca teria inveja de alguém podre como você - Theo solta Bill - Qualquer um consegue ver que o Dipper não é feliz com você.

- Olha aqui seu... - Desta vez foi Bill a ir para cima de Theo, mas eu o seguro antes que isso possa acontecer - Vai embora... AGORA.

- Só se o Dipper for comigo - Ele diz seriamente, eu olho para Theo surpreso.

- Ah sim, deixa eu pensar um pouquinho... Nos seus sonhos! - Os pulsos de Bill se fecham e ele me empurra.

- Eu vou cuidar dele muito melhor do que você cuida, se é que isso pode ser chamado de cuidar - Theo me puxa pelo braço - Quer saber? Por que não deixamos o Dipper escolher?

Ambos olham para mim, eu sinto o ambiente ferver, dois pares de olhos raivosos, olhando para mim, esperando uma resposta minha.

Meu coração estava acelerado, minhas mãos tremiam, eu provavelmente estava tendo um ataque de pânico, mas eu tirei coragem de não sei onde e consegui falar o que estava entalado no meu peito.

- Eu quero ir pra minha casa! Na minha dimensão! - Solto rapidamente de uma vez, respiro fundo e então continuo - Eu não sou um objeto de vocês dois, eu quero ir pra onde eu me sinto bem.

- Mason... - Theo se aproxima de mim, mas para quando um portal se abre do meu lado.

- Vai - Olhando para Bill, ele estava com um olhar sombrio, não era de raiva, nem ódio, era algo além da descrição possível - Mas se for, não volte.

Eu olho para ambos, o olhar de Theo dizia o que sua boca não conseguia, ele me implorava para ficar com ele, ter uma vida com ele, mas antes de uma vida com ele, eu preciso de uma vida comigo.

- Obrigada por tudo, mas isso não vai ser uma decisão difícil pra mim - Beijo a festa de Theo e me afasto, olho o Bill uma última vez, ele não diz nada e eu também não, não é necessário.

Eu sei que disse que não era uma decisão difícil, não deveria ser, mas eu pestanejo na frente do portal, de relance podia ver meu quarto, na minha casa, na Califórnia.

Mesmo assim, uma sensação angustiante tomava meu peito e pesava meus ombros, uma sensação que eu não sabia o motivo, ou talvez estava o ignorando por todo esse tempo.

Olho para trás uma última vez, Bill e Theo, lado a lado, tão parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo, mesmo assim, eu passo pelo portal.

Talvez essa angústia, seja a sensação de deixar para trás um futuro amor, que não teve e não vai ter chance de acontecer.