20 disparos

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A morte não é o fim. A separação é temporária. Deixe-a seguir adiante e permita-se viver em paz.

"A morte é só uma mudança de estado.
Depois dela, passamos a viver em outra dimensão."

— Zíbia Gasparetto.







03h45m

Ninguém espera que vá morrer no dia de amanhã, muito menos o motivo da morte. Talvez pensem nas causas mais comuns, como velhice, ataque cardíaco, um assalto, um acidente de carro ou qualquer outro veículo. Alguns temem a morte, sentem medo, pavor, outros almejam por ela. Assim como a garota conhecida por suas tranças bem feitas, que tinha seus fios soltos voando pelo vento frio daquela varanda.

Entre seus dedos, um cigarro recém acesso. Sua boca lançava a fumaça quente pelos ares, o cotovelo apoiado no balaústre de forma relaxada, o peso de seu corpo levemente inclinado para ele. Os olhos escuros encaravam o nada, sua cabeça projetando imagens de tudo o que já viveu, do que irá viver e em como tudo poderá acabar.

— Você não deveria estar fazendo isso.

A voz da garota lobisomem ecoou logo atrás de si. Seu tom era diferente dos normais, havia toques de preocupação, baixa, e tensa. Ela se aproximou em passos calculados, imitando sua pose. Os olhos cor oceânicos analisavam a feição da morena, suas expressões, e o quão distante estava; caindo para o cigarro acesso em sua mão e a fumaça que saía da ponta dele.

Um silêncio desconfortável se fez presente, um silêncio esperado, mas com sensações imprevisíveis. A escuridão daquela noite apenas deixava aquela situação com ainda mais incômodo, o soar longe e calmo de alguns pássaros noturnos, o vento forte e gelado que percorria cada perímetro daquela varanda, as folhas secas correndo pelo asfalto vazio e solitário da rua, a lua brilhando como nunca antes no céu sombrio e misterioso, carregando consigo pequenas estrelas que davam contraste para a bela luz do luar.

— Está tudo bem? — Ela insistiu em receber alguma resposta da garota, que permaneceu quieta até certo ponto.

— Está. Estou apenas pensando. — Demorou em torno de 10 segundos para respondê-la, erguendo o braço para tragar mais um pouco do cigarro.

— Não me parece estar pensando em coisas muito boas.

— E eu não estou. — Deu uma pausa, liberando a fumaça resfriada. — Há muitas coisas ruins na minha cabeça.

As palavras dela não transmitiam emoção alguma, muito menos seu rosto, apesar de suas declarações de medo, nada era evidente em sua linguagem corporal. A mais baixa virou o rosto para encarar a loira, seus olhos pequenos e cansados.

— É sobre o Augusto, não é?

— O Augusto é poderoso, e esse poder é quase imprevisível. Eu não faço a menor idéia do que ele pode estar planejando, nem se quer sei se ele já não está com tudo em mente, apenas esperando que nós cheguemos até ele.

— ... — Ela franziu a testa, tentando compreender a mudança de comportamento da namorada em tão pouco tempo. — Por que você está assim agora? Aconteceu algo que eu não sei?

— Eu estou com medo, Enid. Estou com medo do meu plano fracassar, e eu acabar perdendo você. Perder todo mundo, inclusive eu mesma.

— Ei, você não vai me perder... Nem ninguém, seus planos são ótimos, por que tudo isso? — Em uma maneira de a acalmar, deu alguns passos em sua direção, estendendo as mãos para toca-la na bochecha.

— Você não está me entendendo, Enid... — Afastou-se, suspirando pesado. — Augusto sabe demais. Principalmente sobre você, ele pode facilmente usar muito desse conhecimento sob você, e tudo pode acabar.

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⏰ Última atualização: Mar 13 ⏰

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