Capítulo 2.1

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  Dentro de seu quarto novamente, o garoto se jogou em sua cama, pegando o seu celular para conferir as notificações mais recentes.

  Não havia nada demais em suas redes sociais principais: no Instagram haviam convites de lives e uma mensagem de um seguidor que ele respondeu em alguns segundos; no Facebook, tudo estava parado e, no Twitter, haviam posts novos de algumas pessoas que ele tinha começado a seguir recentemente, alguns falando sobre comida, outros sobre séries e filmes, e alguns apenas militando na internet.

  Só havia uma notificação que tinha chamado sua atenção de verdade.


[Por que você não volta para casa?]


  Uma mensagem em seu WhatsApp criou uma chama de curiosidade em seu interior. O número era desconhecido, e não havia uma foto, nome ou biografia que o permitia identificar quem era.


[Quem é vc?]

[Uma pessoa que você era bem próximo]

[Que tipo de pegadinha é essa?]

[Vai continuar me ignorando? Fingindo que não me conhece?]

[Eu já perguntei uma vez, QUEM é vc?]

[Também te fiz uma pergunta. Por que você não volta para a sua casa?]

[Já tô em casa!]

[Não é dessa casa que eu estou falando.]

[Que tipo de doido vc é? Não fala seu nome ou quem vc é, e ainda quer me falar aonde é a minha casa ou não. Deixa de ser idiota.]

[Eu sou o que fui feito pra ser. Ou melhor, eu sou aquilo que faço. Também posso falar que eu sou muito mais do que faço, ou, que eu faço muito mais do que eu sou.]

[Era o que me faltava!!! Um maluco conseguiu meu número.]

[Sabia que a minha loucura possui mais sabedoria do que a sua racionalidade?]

[Muito improvável...]

[Bem... Você não sabe de muita coisa mesmo...]

[E vc sabe?]

[Eu sei tudo aquilo que preciso saber. Mas, tem uma coisa que você precisa saber.]
[O quê?]

[É a sua última chance.]

[Agora vc também vai me ameaçar?]

[Não posso dizer que é uma ameaça, mas, também não posso dizer que não seja. Mas, sendo direto, já tentei te trazer de volta várias vezes, e você nunca escuta o que estou falando, então, dessa vez, vou ser bastante direto: ESSA É A SUA ÚLTIMA CHANCE DE VOLTAR PARA A SUA CASA!]

[Quem é vc?]


  Joe não recebeu nenhuma outra mensagem, e sentiu que não receberia nenhum resultado positivo se tentasse ligar para aquele numero.

  Ele se sentiu bastante desconfortável, e ao mesmo tempo, pareceu que alguém o observava de muito perto.

  Por um instante, o seu quarto pareceu muito menor do que já era. Por um segundo, o mundo pareceu encolher, até chegar do tamanho de seu quarto, mas, apesar de tudo parecer tão próximo dele, o mundo estava em silêncio...

  Um silêncio angustiante...
  Um silêncio solitário...
  Um silêncio que durou até uma voz tomar o seu lugar.

  — JOE, DESCE LOGO!

  De repente, o garoto saltou da cadeira que estava sentado, acordando assustado com o som da voz de sua mãe e com o rosto levemente dolorido por causa das teclas do computador.

  — Então foi só um sonho? Que estranho...

  Joe se sentiu aliviado ao perceber que as lembranças dos últimos momentos não passavam de uma cena imaginada pela sua mente, enquanto dormia na mesa de seu quarto com o rosto apoiado no teclado.
 
  Ele até mesmo conferiu o próprio celular, e, como esperado, não havia nada demais nas notificações, logo, tudo havia sido mesmo só um sonho.

  Ele deu uma leve ajeitada em seu cabelo bagunçado, passando um pente para desembaraçar um pouco dos fios, e saiu de seu quarto, indo em direção a sala no andar de baixo.

  Terminando de descer as escadas, ele seguiu primeiro para a cozinha, seguindo a lembrança do sonho, e foi conferir o fogão. Como suspeitava, até o registro do gás estava fechado.

  Enquanto saía da cozinha, não conseguiu deixar de olhar o relógio acima da porta, que agora marcava oito e quinze da manhã.

  “Bem... Foi só um sonho mesmo...”, Joe pensou consigo mesmo, antes de entrar pela porta da sala de jantar.

  — Finalmente, a coruja saiu de seu ninho!

  — Não começa, Cloe.

  A sua irmã estava sentada em uma das quatro cadeiras da grande mesa de vidro no centro do cômodo, ao lado de sua mãe, que parecia distraída enquanto lia um pequeno livro de capa colorida.
 
  Cloe possuía olheiras fundas, como se tivesse acabado de acordar, e o seu cabelo bagunçado só trazia uma confirmação do fato.

  — O que você tá olhando, Coruja?

  — Nada demais. Primeira vez que eu vejo um pavão feio.
  Ele não conseguiu segurar o riso enquanto se assentava na única cadeira vazia, ao lado de seu pai, que estava lendo alguma coisa em seu celular, com uma expressão séria em seu rosto.

  — Infelizmente, uma coruja ficou acordada a noite quase toda, e os barulhos dos passos dela atrapalharam meu sono de beleza.

  — Uma noite só de sono não ia fazer milagre no seu rosto.

  — Não enche! E o que você fez a noite toda no seu quarto?

  — Dormi.

  — Mentiroso. Meu quarto é ao lado do seu, então dá pra ouvir seus passos pesados de noite.

  — Tô falando sério. Dormi feito pedra hoje. Tem certeza que o químico das suas maquiagens não estão te fazendo alucinar?

  —Ah, fica quieto, é melhor assim. Só vê se não faz tanto barulho assim enquanto “dorme”.

  Ele não a respondeu com voz audível e apenas fez que sim com a cabeça, com a certeza de que a sua irmã havia enlouquecido de vez.

  Joe pegou uma fatia de torrada e enquanto passava uma boa quantidade de manteiga nela, não pôde mais evitar de pensar sobre o quanto aquela situação o incomodava: todos na mesa estavam calados, e, assim como se fossem todos estranhos uns para os outros, ninguém fazia qualquer tipo de som.

  — Mãe?

  — Oi?

  Ela estava tão distraída com a sua leitura, que o respondeu sem olhar para o seu rosto.

  — Mãe?

  Dessa vez, ela nem sequer respondeu...

  — Rosa!

  A mulher levantou seu rosto na direção do garoto, com o olhar mostrando que estava irritada, como se aquilo tivesse a incomodado.

  — Cadê os bons modos?

  — Eu tive que te chamar três vezes para você olhar nos meus olhos!

  — Uai, filho, eu tô ocupada agora. Por isso que eu não olhei pra você.

  — Se fosse o contrário...

  Antes que ele completasse a frase, seu pai, que até agora estava calado, colocou o copo em sua mão na mesa com um pouco mais de força, apenas para chamar a atenção deles para si.

  — O que você ia falar, Jhonatan?

  — Nada demais. Me desculpa, mãe.

  O garoto estava claramente irritado já imaginando o que estava por vir, mas, ele sabia que era melhor abaixar a sua voz do que retrucar.

  — Se você for querer bancar o valentão, você vai ter que ser homem também para as consequências.

  — Eu sei pai, eu só queria que a minha mãe olhasse para mim...

  — Você não percebeu que ela está ocupada? Quem você acha que fez o café da manhã enquanto vocês dois dormiam? Ela também tem que ter um tempo de sossego! Tenta pensar em outras pessoas além de você.

  — Mas, eu não queria ser mal edu...

  — Não é só questão de educação! Você começou a ter esses momentos de “coragem” depois que aqueles “amigos” seus apareceram do nada.

  — Por que você sempre tem que falar deles?

  — Porque eu sou o pai dessa família! Eu tenho a responsabilidade de saber com quem os meus filhos andam.

  — Ok, me perdoe...

  O garoto abaixou a cabeça enquanto ouvia o esporro que seu pai lhe dava, que do seu ponto de vista era mais do que injusto, mas, ainda assim, não disse nada para contrariar o que ele ouvia.

  O homem, enquanto falava, talvez tenha percebido que estava indo longe demais para algo simples, e deu um longo suspiro para se acalmar um pouco, antes de voltar a falar, agora com um tom de voz mais suave:

  — Me perdoa se às vezes eu perco um pouco do controle. É só que ultimamente tem muitas coisas acontecendo, então, às vezes, eu e sua mãe ficamos com pouca paciência para algumas coisinhas.

  — Tá tudo bem, pai. Eu entendo.

  — Obrigado.

  Não dava pra negar o quão irônica aquela cena havia sido.
  Assim que o seu pai disse a sua última palavra, todos voltaram para o estado anterior de um puro silêncio desconfortável, só que, dessa vez, Joe também se calou.

A Escolha Certa - Um Romance Um Tanto Quanto Cristão Onde histórias criam vida. Descubra agora