Capítulo IV - Reinado de Terror.

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"Artórius"


          Acordar no meio da noite aos pesadelos se tornou uma coisa comum ao longo desses anos, minha irmã em especial despertava quase todo o castelo com os seus gritos. Só os deuses sabem o que aconteceu com ela, mas todas as noites quando pulava da cama assustada, ali eu estava para a abraçar firmemente e dizer que tudo estava e iria ficar bem. Essa noite não foi diferente de nenhuma das demais, já havia me acostumado com isso no último ano, quando a lua alcançava o ápice, era o momento em que ela se desesperava e eu trazia-a para a cama gentilmente — Anne, eu to aqui, eu to aqui... — Dizia a abraçando, envolvendo-a nos meus braços enquanto se encolhia em posição fetal no chão.

          Quando ouvia minha voz, se acalmava. Nosso pai parecia indiferente, nunca estava presente para ajudar, muito menos perguntava o estado da própria filha, e toda vez que a pegava para colocar de volta na cama, cobria seu corpo com os cobertores e ali ficava acariciando os seus cabelos, dizendo aos seus ouvidos — Vai ficar tudo bem... Já acabou, você está bem. Pode dormir, o seu irmão está aqui por ti. — E assim ela caia dormindo, dizendo palavras soltas que não faziam muito sentido.

          Ao dormir, ainda ficava em seus aposentos mais alguns minutos para me certificar de que não voltaria a despertar, só saindo ao ouvir o primeiro ronco de um sono profundo e enfim respirar aliviado por conseguir ajudá-la mais uma noite.

          De volta ao meu quarto, nem mesmo o colchão mais fino de algodão em que dormia era o suficiente para me fazer dormir facilmente. Longas eram minhas noites e ainda mais longos eram meus dias, mas nem por isso deixaria de acordar com o nascer do sol para cumprir as minhas obrigações.

          Como príncipe herdeiro do grande império que minha família fundou a mais de cinco séculos, os deveres caiam sobre os meus ombros com uma grande facilidade desde que essa posição foi me dada, na época um garoto de apenas quinze anos. Hoje, quatro anos depois, me sinto como se ainda fosse aquele garoto desejando uma vida mais ativa ao lado de meu pai, ajudando a cuidar dos reinos e proteger a coroa, mas quem dera soubesse o quão difícil seria, desgastante e exaustivo.

          Levanto-me com o primeiro dos raios de luz, rapidamente já estava vestido com os trajes mais finos nas cores de nossa nação soberana, feito em um azul-marinho com detalhes bordados com fios de ouro. Na cintura, uma espada feita pelo melhor dos ferreiros, adornada com ouro e prata, a batizei de Maresia.

          — Meu príncipe! — Diziam os guardas fazendo reverencias simples para não deixarem seus postos por mera formalidade real, todos os dias.

          — Bom dia, Maxon... Bom dia, Jhon... Bom dia Damian... — Respondia um por um. Sabia o nome de cada soldado, cada homem que servia naquele palácio, cada serviçal e criada que andavam pelos corredores além dos membros da corte e seus familiares convidados para residir conosco, dando a todos um caloroso "bom dia" para que ninguém pensasse negativamente de mim, afinal, como príncipe herdeiro a imagem é tudo o que importa, como diria o meu pai com toda a certeza.

          — Artórius Vermillion, Príncipe da Maré e Herdeiro do Trono do Oceano. — Eis o anúncio que ouvia todos os dias de minha vida sempre que adentrava a sala de reuniões do conselho. Responsáveis por gerir todo o império, cada integrante ali presente possui extrema importância para a estabilidade da nossa dinastia. Dispostos e devidamente sentados em seus assentos pré-definidos na longa mesa retangular.

          No primeiro assento, a cadeira mais a extremidade da mesa longe do Imperador, o Mestre do Ouro, Edwin Áurear, responsável pelas finanças, sempre muito bem-vestido com representações visíveis de sua função, esbanjando o dourado em suas vestes e em acessórios que utilizava com orgulho como o anel da corte real. Uma face cínica de um homem que particularmente nunca vi com bons olhos. Talvez tenha por volta de 50 anos, ou um pouco menos, mas os pelos de sua barba grisalha em contraste com sua pele escura e cabeça desprovida de cabelo facilmente diziam ser um homem que já havia vivido muitos invernos. Sua Casa, os Áureals de Monte Reluzente, depois da família real, é a mais rica de todo nosso continente.

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