Entre canções e corações

Capítulo 19: Tempestade num copo d'água-Brianna

De onde esse cara surgiu? Qual é a mania dele de me seguir? O fato de Valentino estar aqui me choca mais do que o fato de Twain quase ter me batido.

—Que verdade?

—Posso contar a verdade, Brianna?

—Eu não sei do que você está falando.

—Eu perguntei pra ela. Posso contar, Brianna?

—...ah...

Eu não tenho ideia do que eles estão falando, nem ideia mesmo. Eu apenas balanço a cabeça de forma positiva.

—Alguém não estava estudando, mas estava te traindo.

—Para de mentir, Valentino!

Um nó desce de minha garganta até o meu estômago. Isso não pode ser verdade, isso não é verdade. Valentino só quer foder mais com a minha vida, e eu fui tola de achar que ele havia mudado. É como se eu fosse vomitar todos os cookies que eu comi, uma quentura de brasa arranha minha pele. Minha respiração começa a ficar pesada, tanto que me dá a impressão de que já não consigo respirar. Minhas pernas fraquejam como se fossem se partir ao meio, meu coração pesa tanto que é como se fosse sair de meu peito rasgando. Twain começa a discutir com Valentino, mas não consigo ouvir uma palavra do que ele fala.

Minha visão começa a ficar embaçada e lágrimas se formam em minhas pálpebras, ele está mentindo! Ele não tem provas disso! Valentino tem os problemas dele de não querer me ver feliz, é isso, só pode ser isso. Eu quero que esse prédio desabe sobre mim agora mesmo, mas ao mesmo tempo eu quero que um caminhão atropele esses dois.

—Brianna, olha pra mim.—Valentino se aproxima.

Desabo no chão, caindo de joelhos no meio da rua sem mesmo conseguir me levantar. Estou me tremendo inteira, dentro de mim se faz um furacão com intensidade o suficiente pra levar uma cidade inteira. Meus olhos se levantam até os seus, Valentino está ajoelhado em minha frente.

Eu quero vomitar, gritar, chorar, berrar. Twain não pode ter mentido pra mim esse tempo todo, ele nunca faria isso. A falta de ar esmaga meu interior pouco a pouco.

—...me fala que isso é mentira...por favor...—Imploro entre soluços.

Através das minhas lágrimas que escorrem queimando meus olhos e minha pele, Twain desvia o olhar, parado, quase impassível. Eu me recuso a acreditar nisso. Ele nunca me trairia.

—Você nem tem provas.—Murmura Twain baixinho.

—Provas?—Valentino se levanta.—Bom, posso perguntar pra uma tal de Olivia se ela tem alguma prova, posso perguntar pra todo mundo que esteve na festa da irmã dela aquele dia, posso perguntar pra Delia Hearts. Isso já não é o suficiente?

Festa da irmã de...não. Foi a festa da Octavia? O namorado da irmã da Octavia que Vera havia mencionado, era ele?

Pela primeira vez em muito tempo, Twain parece assustado, ele retorna o olhar diretamente pra mim. Eu limpo meu rosto molhado com os pulsos, infelizmente já convencida. O jeito tão persuasivo dele chega a ser perturbador.

—Brianna, eu...

Me levanto, cruzando os braços tentando fazer com que o vazio dentro de mim não seja tão grande ou o frio de minha pele tão gelado.

—Há quanto tempo você está me traindo?

Antes de responder, ele suspira fundo, uma expressão de derrota se faz em seu rosto.

—...desde que eu falei que estava ocupado com a faculdade.

—Hm...—Respiro fundo, tentando não colapsar novamente.—...por quê, Twain?

—A única vez que senti algo por você foi no casamento da Ava e do William, Brianna. Depois disso, me ofereceram a proposta de apenas...desenvolver um relacionamento com você por muito dinheiro, uma quantia absurda.

Mais lágrimas rolam de meus olhos, estou prestes a me afogar de novo.

—Espera...não me diga que foi...

Valentino o olha com surpresa, ele segura uma correntinha que está escondida por debaixo da camisa, onde só é possível ver o pedaço que ele segura. Twain apenas balança a cabeça positivamente, com um pouco de culpa nos olhos. Aquele desespero que preenchia meu peito sumiu, tudo que me resta agora é soluçar e chorar e tentar soltar os sentimentos que estão reprimidos em meu coração.

—...eu sinto muito, Brianna.

Twain então vai em direção ao carro estacionado não tão longe e entra nele, sem olhar pra trás. Eu limpo as lágrimas com os pulsos mais uma vez, tentando controlar minhas emoções. Mas uma vez que Valentino olha pra mim, meus joelhos fraquejam e eu desabo no chão e no choro mais uma vez. Eu quero tanto culpá-lo, eu quero tanto aliviar tudo isso, mas ele não tem um dedo nisso, não mesmo. Minhas mãos trêmulas vão de apoio em seus ombros, meu rosto inteirinho está molhado, minha respiração está inconstante e nervosa, muitas vezes não consigo respirar direito.

Ele enterra o meu rosto em seu peito, me abraçando firme e forte, tudo que eu precisava agora. É como se eu levasse um soco nos pulmões e no estômago, mas um tapa na cara ao mesmo tempo. Eu lhe fiz mil votos de amor, milhões de confissões amorosas, textos românticos, tudo isso pra simplesmente uma proposta envolvendo dinheiro. Caramba, eu valho só isso mesmo? Minha cabeça começa a doer, meus olhos começam a arder e provavelmente estão vermelhos e inchados.

—Está tudo bem, ele não te merecia.

Ah, certo. Valentino é quem está me abraçando. Aquele que revelou a traição foi o cara que saiu distribuindo mentiras sobre mim gratuitamente. Não importa, estou devendo muito a ele. Enquanto respiro fundo, meus problemas somem por um segundo quando o cheiro de seu perfume preenche meu nariz. Eu esqueci o quão bom era esse aroma.

Me afasto lentamente de seus braços, me envolvendo com os meus e de cabeça baixa, limpo mais uma vez meu rosto.

—Eu estou bem, obrigada.—Digo entre soluços.—Acho que não saberia o que fazer se você não estivesse aqui.

—Você ainda não está bem. Por favor, Brianna, não minta pra mim.

Valentino me olha como se quisesse me tocar, mas ele apenas me olha, apreensivo e preocupado. Por um segundo, eu tenho a impressão de que ele quer me beijar. Por favor, Valentino. Aceite que me perdeu, não temos mais nada, não me olhe dessa maneira.

—É...não estou totalmente, mas vou superar.

—E eu quero ter certeza de que você vai ficar totalmente bem. Por favor, me deixe fazer isso por você.

—...não precisa se preocupar tanto comigo, eu vou ficar bem.

—...certo.

Nós dois nos levantamos em puro silêncio, nos encaramos por alguns segundos antes dele subir na moto de novo, aquele seu olhar admirado e apreensivo ficou indiferente novamente.

—Me promete?—Pergunta ele antes de prender o capacete.

—...prometo.—Respondo em um murmuro.