- Any -
O dia amanheceu diferente dos outros, ameaçando chover. Minha vontade é me enrolar na coberta com meu filho e assistir quantos filmes fossem possíveis em um dia, mas nós dois temos coisas para fazer. Ele escola, eu trabalho. A triste vida do trabalhador.
- Colocou a capa de chuva na bolsa? – Pergunto.
- Sim, mamãe. A do homem aranha. E você?
- Não tenho uma capa de chuva tão legal quanto a sua, mas estou com um guarda-chuva. – Seguro sua mão para atravessar. – Me fala quando estiver liberado para atravessar, ok?
- Tá... Calma... Calma... Calma... – Erick olha atento para o semáforo. – Agora!
Colocamos um pé na rua, mas paramos quando uma buzina soou.
- Josh!
- Josh?
Falamos ao mesmo tempo. Erick solta da minha mão voltando para a calçada e indo para o carro. Chego segundos depois e escuto os dois se cumprimentando.
- O que faz aqui?
- Bom dia, Any. – Josh sorri de dentro do carro.
- Como sabe onde eu moro?
- Sina, e vim te buscar para a reunião.
- Que só acontece daqui três horas.
- Acho pouco tempo para conversarmos sobre as coisas que aconteceram no seu antigo emprego, então temos que nos apreçar.
- Vou levar Erick para a escola, depois nos falamos...
- Eu dou uma carona. Não é Mia?
- Sim! Podemos ir assistindo Agente especial Urso. – Mia fala animada.
- Por favor, mamãe! – Erick balança meu braço.
- Isso é golpe baixo, Beauchamp. Não acho que seja uma boa ideia, limites tem que...
- E eu peço desculpas por ontem. Você mantém o papel certo e não acho que passa dos limites. Pense nessa oferta como um pedido de desculpas, uma ajuda.
- Mais uma ajuda você quer dizer.
Josh olha seu relógio.
- Não acho que você chegue a tempo na escola de Erick e em casa para buscar Mia a tempo de chegar para o início das aulas.
- Tá...
- Eba! – As crianças comemoram.
Isso é certamente irritante. Em um dia Josh está com raiva e no outro parece um cachorrinho arrependido. Limites é o que eu quero colocar e ele também, mas suas atitudes não parecem concordar com a sua vontade.
Mia e Erick assistem o episódio vidrados na tela do tablet que Mia segura, já eu e Josh não trocamos uma palavra. Parece que qualquer coisa que eu pense em fazer fugiria do limite e eu seria posta no meu lugar de novo, como da última vez.
- Ah sabia que eu vou me mudar para essa escola? – Mia fala feliz para mim.
Olho para Josh que dá de ombros estacionando o carro.
- Por que você vai mudar ela de escola? Mia está em uma das melhores...
- Mas não me parece ter um caráter verdadeiro. Como eles vão ensinar as crianças a serem educadas se os mais velhos não fazem isso?
- Mas... Krystian seu boca aberta! – Sussurro com raiva. – Erick vamos?
Caminhamos para a entrada da escola onde algumas pessoas cumprimentavam os pais e alunos. Erick passou o caminho do carro até a escola falando como estava feliz por saber que Mia mudaria para sua escola.
- Promete aproveitar seu dia? – Pergunto e ele concorda feliz.
- Hoje eu vou fazer um gol, mamãe.
- Eu sei que vai. – Lhe dou um beijo. – Agora vai lá, tenho que deixar Mia na escola também.
- Te amo, mama.
- Te amo, cariño.
Volto para o carro e começo uma conversa descontraída com Mia. Ela me pergunta várias coisas sobre a escola nova e como quer fazer aulas de dança e natação. Conto que Erick faz aula de futebol e de robótica.
Quando Josh e Mia descem do carro os observo. Os dois são bem ligados, provavelmente esse laço aumentou depois da perda em comum. A energia que Mia tem é possível recarregar Josh de uma forma que apenas ela consegue. É uma relação forte.
- Mas que... Perdoa minha fala, mas... Que droga você acha que está fazendo trocando Mia de escola?
Pergunto assim que Josh entra no carro. Seus olhos azuis me encaram por alguns segundos antes de fecharem com a risada sincera que vinha de sua boca.
- Krystian realmente estava certo, você vai o matar.
- Eu falei para ele não falar nada para você e pior, pedi para ficar longe disso.
- Eu sei, mas Sina não me chama de teimoso atoa. – Gruno de raiva. – Se te serve de consolo eu já queria trocar Mia de escola, saber como a secretária foi com você só acelerou o processo. Não quero minha filha perto de pessoas assim.
- Você não consegue se controlar frente a uma injustiça, né. – Cruzo meu braço olhando para a janela. – O que você queria conversar sobre meu antigo trabalho?
- Quando conversamos a uns dias atrás você foi meio vaga sobre as coisas, preciso que confie em mim e fale tudo. Só assim vamos conseguir o que você merece. – Ele olha rapidamente para mim. – Sina me falou sobre uma coisa de três atrasos.
- Ah minha razão de ser despedida. – Puxo todo o ar e o solto profundamente. – De todos os meus anos de trabalho eu só poderia chegar três vezes atrasada, se não seria despedida. Para mim não foram coisas banais, mas para Dytto foram.
- Que seriam?...
- Duas vezes foram por causa de Erick. Uma ele passou mal e o levei ao médico. Sabe como demora um hospital público para te atender? Passei a madrugada com ele no hospital e quando estava dando meu horário de trabalho tive que ligar para Sabina ficar com ele no hospital, porque teria que trabalhar.
- Ela não te dispensou esse dia?
- Não só isso, tive que trabalhar até mais tarde. Ligava de meia em meia hora para saber como meu filho estava, mas passei meu dia arrependida de não estar com ele. – Seguro o choro. – Na segunda vez eu tive que ir a escola porque Erick estava com problemas. Não sabia que ele estava sofrendo bullying de um grupo de alunos mais velhos. Sabe o que é uma diretora falar para você que seu filho não falou nada porque não queria me preocupar? Bom, é péssimo. Fiquei a manhã resolvendo esse problema e de tarde não pude ficar com o meu filho e explicar que suas dores são minhas também e que poderia me contar tudo o que quisesse. Só de noite, quando estava quase dormindo pude ter essa conversa.
Duas lagrimas teimosas deixam meus olhos e tento secá-las em um movimento que não delatasse a Josh que estava chorando.
- Isso é...
- A terceira foi culpa minha. Tive que deixar Erick com Sabina e o ônibus que sempre pegava aos domingos para trabalhar teve um problema e demorou muito para passar. Essa foi a gota d'água para Dytto.
- Uma gota d'água que não foi sua culpa. Ninguém tem uma bola de cristal para saber quando o ônibus vai ter problema. Só com essas três coisas que você me disse já te dão todo o direito de ganho de causa. Any eu não pararia por aí, conseguiria tudo o que você tem direito, mas se você acha que essas três coisas já te afetam demais, paramos por aqui.
- Se eu estou na chuva é para me molhar não é mesmo?
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A Babá
FanfictionAny Gabriely, uma mãe solo que enfrenta as adversidades da vida após perder o emprego, se vê em um momento de profunda incerteza. É quando uma oportunidade surge de forma inesperada: ser a babá da filha de Josh Beauchamp. O homem, ainda dilacerado p...