Capítulo 9

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- Josh -

Isso dói. Ver o rosto de Mia com uma tristeza por sentir falta, dói. Savannah se foi quando Mia tinha apenas dois anos, faltava dois meses para ela completar três. Tentei de todas as formas possíveis, junto com Sina, evitar que minha filha sentisse essa falta, mas conforme ela foi crescendo e vendo seus amigos com suas famílias, foi inevitável esse sentimento. O problema é que ela nunca tinha falado, e ainda pensa que não falou, para mim.

Percebo que Any sente a mesma coisa que eu, tristeza. De todo o tempo que passamos juntos, percebi que a vida tem como objetivo fazer Erick feliz, não importando o quanto isso custe a ela.

- Mia, Erick. – Quebro o silencio e Any olha para mim. – A comida está pronta. Lavem as mãos e desçam para comermos.

Seguro os ombros de Any e a levo direto para a cozinha. Ela ainda tinha uma expressão, ainda que contida, de tristeza e não quero que a noite do taco seja estragada por nossos sentimentos.

- Já sei o que você vai falar. – A cacheada lê meus pensamentos. – Foram anos consideráveis, fingindo que tudo estava bem, Josh. Posso colocar minha mascará de novo.

- É cansativo, não é? Fingir que está tudo bem, mesmo não estando.

- Sim, muito. E depois do que escutei lá em cima, percebi que não é só nós que fazemos isso. – Infelizmente tenho que concordar. – Mas olha, esses recheios estão divinos. Não vai ser difícil fingir um bom jantar.

Ela dá um sorriso tranquilo, mudando o assunto.

- Você tem razão.

Assim que as crianças desceram, já atacamos a comida, todos com muita fome. Eles contaram animados como foi o dia na escola e Mia sempre perguntava alguma coisa sobre a escola que irá na próxima semana. Erick como sempre contou tudo com o maior entusiasmo. Era nítido ver que ele gostava da amizade que tinha com Mia, os dois se davam muito bem e isso me alegrava.

Depois de nos empanturrarmos com tacos e brigadeiros, ficamos arrumando a cozinha enquanto Mia e Erick foram assistir a serie do agente urso, como sempre.

- As vezes eu fico feliz por Erick não ter um pai, pelo menos não o pai biológico. – Any fala sentada a mesa depois de terminarmos a arrumação.

- Ele era muito ruim? – Ela nega.

- Não, pelo contrário, ele era muito bom. Ou era o que eu achava. – Any olha para a palma da mão. – Nos conhecemos na faculdade. Tivemos problemas, como o pai dele não aceitar o nosso namoro por conta das nossas diferenças, mas passamos por isso. Ele me defendeu a todo momento. – Um sorriso fraco surge em seus lábios. – Até que eu contei que estava gravida. Aí ele mudou, falou que não iria assumir o filho.

- Infelizmente isso é bem comum, já tive muitos casos na empresa assim...

- Pois é... No outro dia descobri que ele tinha pedido transferência para outra universidade. – Meu sangue ferve. Como alguém pode ser tão cretino a esse ponto. – Tive que contar para o meu pai... Que também não recebeu a notícia de uma boa maneira. Resumindo, só ficou Sabina, que foi meu anjo nesse tempo. Então, entre não ter um pai e ter esse pai, eu prefiro que ele não tenha.

- Sinto muito por isso ter acontecido com você, Any. – Falo sincero. – Pelo pouco que te conheço, você não merecia nada disso.

- Obrigada. – Ela sorri menos desanimada. – Mas tudo tem um lado bom. Se nada disso tivesse acontecido, eu não teria o Erick.

Concordo com a cabeça. Me recordo da conversa que tive com Sina. Any com certeza sofreu mais do que eu, e tive a capacidade de nem buscar saber sobre sua vida antes de ser um idiota grosso.

A BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora