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As luzes da cidade refletiam na lataria lustrada do luxuoso sedan preto. Do banco de trás, a direita, Amelia observava cada luminoso de canto de olho. Com braços e pernas cruzadas, dentro de suas roupas, o jeans escuro, a regata preta coberta pela jaqueta de couro, ela pensava no destino. Sua boca estava seca, pedindo pelo amargor do álcool, e sua ansiedade gritava por nicotina.

Dentro do carro estava seu parceiro, como motorista, Liam. Ele sempre a acompanhava, era seu fiel companheiro. Apesar de sempre sofrer com os comentários dos outros membros dizendo que ele era "seu cachorrinho", não se importava, ele a adorava como uma deusa. Tinha sentimentos, claro, mas nunca confessou. E nem pretendia. Sabia que dentro do coração da Amelia não tinha espaço para amor. Ela era alimentada por ódio, sarcasmo e álcool.

Liam apertou o volante, inseguro, sentindo suas mãos suadas.

— Você parece inquieta... — ele começou, depois de limpar a garganta. — Achei que gostasse do Tyler, ele tinha potencial...

— Pff... — Amy riu ironicamente, revirando os olhos. — Potencial para ser um traidor... Mas ele sabe o que está chegando pra ele. E todos da organização também.

— É claro, mas... Ainda é um pouco assustador. — ele disse, afrouxando a gravata em seu pescoço.

— É para ser assustador. — A voz da garota era assertiva.

O veículo estava sendo seguido por uma van também preta, fazendo caminho até o porto da cidade. A madrugada era calma, silenciosa. Quando ela desceu do carro, após Liam abrir a porta, tudo o que podia se escutar era o som das ondas se chocando contra a barragem. Sua mão afundou no bolso, pegando a carteira de cigarros e o isqueiro iridescente com um desenho de uma rosa gravado na lateral. Seus dedos levaram o vício até a boca, o acendendo com dificuldade por causa do vento. Ela inspirou aliviada, como se precisasse daquilo para respirar. A fumaça saiu por entre os lábios, sem tirar o cigarro dali, enquanto ela apreciava sua pressão baixando de olhos fechados.

Seu momento de prazer silencioso foi interrompido pelos pneus da van prensando o cascalho do chão. Os gritos abafados de alguém inquieto ali dentro a fizeram abrir os olhos. Quando a porta abriu, homens de terno desceram do veículo, alguns deles com machucados que pareciam de socos. Eles arrastaram para fora um homem alto, magro, de cabelos loiros até o ombro, com roupas de festa, algumas jóias ao redor do seu pescoço e os braços atrás no corpo, amarrados com uma corda de sisal. Sua camisa estava manchada de sangue e havia cortes em seu rosto e vestes.

— Tyler, Tyler, Tyler... — ela disse o nome dele ao mesmo tempo que a fumaça saia de seus pulmões, deixando sua voz mais grave. Ele a olhou, estremecendo quando entendeu seu destino. Se ela estava ali só podia significar uma coisa.

— Amelia. — o homem rosnou, seco. Ela não conseguiu esconder o sorriso sádico no rosto. Vê-lo agora tão furioso, depois de ter traído a família a animava de um jeito sombrio.

A garota segurou o cigarro entre os lábios com força e, muito rapidamente, deu uma joelhada no abdômen do mais alto que o fez gemer de dor e cair de joelhos no chão.

— Você era tão promissor... — ela disse, se agachando frente dele, soprando fumaça em seu rosto. Sua mão acariciou seu cabelo, o colocando atrás da orelha gentilmente. — Por que tinha que trair a família? — Seu sorriso sádico apareceu de novo. Amelia esticou a mão a um de seus capangas que lhe entregou um rolo de fita adesiva prateada. — Hoje vai aprender a ficar de boca fechada.

Sua mão esquerda agarrou a mandíbula de Tyler com força, contra a sua vontade, o fazendo abrir a boca, e com a destra seus dedos pegaram o cigarro e o apagaram na língua do rapaz, que se contorceu de dor. Com velocidade, ela empurrou seu queixo para cima, fechando seus lábios com a droga dentro e passou a fita por cima. Ele tossia e parecia estar segurando a náusea.

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