𝕀𝕍

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— O que acha que está fazendo aqui? — Amelia perguntou, sibilando entre os dentes. Seu olhar era como o de um animal selvagem decidindo se atacava ou fugia.

— O que acha que estou fazendo aqui? — a mulher perguntou, com um sorriso. Se tinha algo que a morena odiava era ser respondida com outra pergunta.

— Eu acho que você está fazendo o que sabe fazer de melhor... — o coturno preto bateu contra o chão quando ela deu um passo para se aproximar da inimiga. Era alguns bons centímetros mais alta, o que fazia ela a ver de cima. — Birra porque não superou o ex-marido.

Suzan perdeu o sorriso confiante ao ouvir aquela frase, mas não se deixou intimidar pela provocação.

— Se acha que vai conseguir algum pixel de informação do que está aqui, está muito enganada. Tudo aqui é muito bem encriptado e nenhum dos seus minions drogados vai conseguir diferenciar uma vírgula de um ponto — Mais um passo foi dado, a loira conseguia sentir a respiração quente da mais alta chegando em seu rosto.

— Bom, talvez eu não saiba como... Mas conheço alguém que sabe.

No momento em que aquelas palavras foram desferidas, do corredor escuro e de trás de Suzan, emergiu uma figura conhecida. Um homem de 1,70 m, bem magro, com ombros estreitos, cabelo escuro, cortado quase rente ao couro cabeludo, os olhos escuros, fundos. E um sorriso enorme, macabro.

— Jason. — rosnou Amelia.

— E aí, vadiazinha? — essa era a forma como ele a chamava desde que eram recrutas.

Jason era um dos favoritos de Gary antes dela. Provavelmente quem estaria no seu lugar se ele não tivesse se envolvido com cocaína e bem... Com Suzan. Na sua frente estava o motivo do divórcio de seu pai. Ela ainda lembrava da confusão que foi o dia em que ele entrou no seu quarto, no hotel, e deu de cara com sua mulher em cima de um jovem 20 anos mais novo que ele. Haviam carreiras de pó alinhadas em cima de sua cômoda de mogno e ele não sabia dizer o que mais o machucou naquela cena: a traição da esposa, do fiel recruta ou da dupla que estava claramente chapada. Suzan ainda teve a chance de se cobrir com os lençóis da cama, o mesmo não aconteceu com Jason. Toda a organização o viu despido, enquanto era carregado pelos braços por alguns capangas. Já a loira era arrastada pelo chão pelos cabelos longos, que nunca se recuperaram do incidente. Quem os tinha na mão era o próprio marido. O chefe desapareceu com os dois em um dos carros blindados.

Gary só voltou depois de 3 semanas. Sozinho. E ninguém nunca soube o que aconteceu até os rumores da nova gangue circularem. O que Amelia não imaginava era que Jason ainda estava vivo.

— Vejo que fez questão de manter seu vira-lata de estimação. — Os olhos da morena voltaram para a mulher. — Precisava de alguém do seu nível para fazer seu trabalho sujo...

Seu tom de voz ainda era calmo, mas por dentro ela estava fervendo de raiva. Odiava traidores. Principalmente os que fizeram a pessoa que a salvou... Chorar. Para ela, a organização era tudo. Na sua cabeça, ela não tinha mais nada além daquela família. Era seu propósito de vida: servir quem a tirou da rua.

Jason tirou a dona da sua frente e partiu pra cima de Amelia, do jeito que fazia quando eram recrutas, empurrando seus ombros para que ela se afastasse. Mas dessa vez ela não se mexeu. Estava mais forte e tomada pelo ódio.

— É melhor vocês irem embora. — ameaçou.

— Ou o quê? Seu brinquedinho vai aparecer para te defender como sempre? — ele provocou se referindo a Liam. Aquele tipo de comentário era recorrente pelos corredores do hotel. A forma que ele a seguia como se fosse sua dona chamava atenção. O amigo nunca se incomodou, mas ela odiava que alguém pensasse que ela precisava de proteção.

Black HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora